terça-feira, 16 de novembro de 2010

O Coliseu de Roma

Algumas sensações devem realmente ser únicas, e só quem viveu de fato deve saber como é, o que não exatamente implica em saber descrever. Casar-se é uma delas. Dar a luz a um bebê é outra. Entrar em um estádio lotado com mais de 90 mil pessoas, sendo parte do espetáculo que todos aguardavam é outra. E se esse espetáculo consistir na sua morte, ai torna-se impossível imaginar a sensação, a menos que você seja o infeliz que vai de fato experimentá-la.

Assim era entrar no Coliseu durante o império romano. Muito se fala sobre modernizar os estádios do Brasil para receber a Copa do Mundo de 2014. Não que isso seja feito pensando nos brasileiros, e sim nos gringos que virão. No entanto, por mais que modernizem, nenhum estádio, nem o Maracanã, jamais chegará a se comparar ao que o Coliseu representou.

E mesmo o estádio mais moderno do mundo jamais será tão moderno e terá espetáculos tão impressionantes quanto o Coliseu, pelo menos se comparado a sua época. Duvída? Então venha conhecer o monumento e aproveite, por que assim como o Coliseu em seu auge, a entrada é gratuita...



O Símbolo do Império Romano

Em Roma, dizia-se que “Enquanto o Coliseu permanecer de Pé, Roma permanecerá. Quando o Coliseu Ruir, Roma ruirá. Quando Roma ruir, o Mundo ruirá”. E basicamente, quando ele foi construído, era exatamente isso. Roma era absoluta, era a síntese do poder. E o Coliseu servia para dizer a todos que os romanos queriam que morressem de inveja deles. Ah, também tinha a função de entreter o povo para distraí-los de coisas mais importantes, a consagrada fórmula do “pão e circo”. Originalmente batizado como Anfiteatro Flaviano, o nome Coliseu vem do fato de ficar próximo a uma estátua em tamanho colossal do ex-imperador Nero.

O lugar onde ele foi construído, por volta do ano 80 d.c. costumava ser uma espécie de jardim particular de Nero, com direito a um lago artificial, um palácio e uma estátua de si mesmo. A idéia de construir ali era também uma maneira do imperador regente, chamado Vespasiano, afirmar sua autoridade, mostrar que as maldades de Nero eram coisas do passado a ainda agradar o povo com o novo teatro.
Isso no entanto está longe de significar que o Coliseu era um lugar onde tudo que acontecia era politicamente correto, claro, nos padrões de hoje.


Joguem-no aos leões!

Mas o que acontecia exatamente no Coliseu? Obviamente, não era lá onde Lazio e Roma jogavam o dérbi da cidade, já que o futebol não existia e o conceito de esporte era outro naquela época. O Coliseu era palco de outros tipos de eventos. Quais? Quase todos.

Sem precisar pagar um centavo, as pessoas podiam ver desde peças de teatros a caçadas de animais, passando, naturalmente, pelas famosas batalhas entre gladiadores, servindo como palco de cerimônias religiosas, lutas de animais, chegando até as incríveis batalhas navais, o Coliseu trazia uma variedade de espetáculos para todos os gostos. A menos que seu gosto não envolva sangue. Quase tudo no Coliseu terminava com sangue. E não era sangue falso, como o que você na novela...

Até mesmo as peças de teatros terminavam tragicamente: Os papeis que terminariam com morte, eram representados por prisioneiros. Não era raro um prisioneiro interpretar um deus em uma peça teatral, isso se no final da lenda o destino do tal deus fosse a morte. Essas mortes eram fielmente retratadas, seja em lutas com inimigos, animais, acidentes ou o que fossem: Os romanos contavam a história como ela de fato havia sido, ou como a lenda falasse que ela havia sido.
Com relação aos animais utilizados nas lutas e caçadas, eles eram importados da África, sendo os grandes felinos como leões e leopardos os favoritos, mas não eram raros rinocerontes, elefantes, girafas e crocodilos. Eles podiam ser parte do espetáculo, ser introduzidos de repente no meio da luta dos gladiadores para dar mais emoção, ou ser o próprio espetáculo em si, lutando sozinhos na arena.

Os gladiadores que participavam das batalhas costumavam ser prisioneiros e criminosos condenados, mas nem sempre: Alguns eram jovens inconsequentes em busca de fama e glória. Viver e morrer em batalha funcionava mais ou menos assim: Enquanto você estivesse vencendo, você estaria vivendo. Mas vencer a luta não era tudo, já que se o imperador não gostasse da sua cara, ele podia mandar que soltassem os animais assim que você vencesse seu oponente e já estivesse esgotado e possivelmente ferido.

Com relação as batalhas navais, essas precisam de um pouco mais de atenção...


Uma palavra: Modernidade

Quando foi que você, caro leitor, viu um estádio se encher de água para a representação de uma única atividade? Não estou falando de enchentes por conta de sistemas de irrigação falhos, e sim o contrário: Um sistema construído justamente para inundar a arena e permitir espetáculos aquáticos. Nunca viu isso? O Coliseu era assim. Ele não era o único anfiteatro em Roma, aliás, eles eram bem comuns, mas o Coliseu era definitivamente o maior e mais moderno de todos. As batalhas navais eram disputadas na água mesmo, com barcos de verdade, e, obviamente, eram batalhas de verdade, envolvendo gladiadores e prisioneiros que lutavam da mesma maneira que teriam que lutar se estivessem em alto mar.

E não era apenas nisso que o Coliseu estava muito a frente do seu tempo. Haviam elevadores que levavam os gladiadores, os animais e tudo o mais envolvido no evento dos andares inferiores, as salas de espera ou jaulas, até a arena. Essas estruturas serviam, por exemplo, para agilizar momentos em que o imperador ordenava que fossem soltos animais selvagens na batalha, ou para facilitar o transporte dos objetos que fariam o cenário.

Sim, o cenário. Tudo no coliseu era representado fielmente, não apenas peças de teatro e batalhas navais: Se o tema do dia fosse uma caçada a um animal, o cenário iria retratar fielmente o habitat desse animal, com direito a rochas e árvores enormes ali no meio da arena. O nome arena, inclusive, significa areia, que era normalmente usada para cobrir o chão, escondendo as imperfeições e absorvendo o sangue derramado.

Como se não bastasse, o Coliseu foi construído pensando em praticidade e conforto para o povo, com uma perfeição que deixaria o arquiteto mais talentoso de hoje em dia morrendo de inveja. Se você já foi a um estádio em um jogo com um grande público, sabe como a hora da saída é desanimadora, com milhares de pessoas tentando sair ao mesmo tempo pelos acessos. Isso não acontecia no Coliseu: Ele foi construído de forma que todas as pessoas pudessem sair confortavelmente, rapidamente, e sem tumultos. Todos os estádios construídos depois dele, inclusive o estádio do seu time, imitam esse modelo, ou pelo menos tentam imitar: Mesmo o estádio mais moderno do mundo atualmente não tem a mesma eficiência que o Coliseu tinha nesse aspecto.

Falando em tumultos, pense em uma atração gratuita que chame a atenção de todo o povo, e você logo pensará em muita gente tentando ir, e poucos lugares disponíveis. Mesmo os 90 mil lugares disponíveis no auge do Coliseu eram pouco para a demanda. Então, ainda para evitar tumultos, os romanos inventaram algo que hoje em dia é indispensável em qualquer tipo de evento: Ingressos. Sim, era tudo gratuito, porém, as pessoas tinham que reservar seus ingressos com antecedência. O ingresso permitia que a pessoa entrasse apenas em determinada atração e tinha até o lugar onde ela deveria sentar-se especificado, sendo os melhores lugares naturalmente reservados para a nobreza.
E assim era o Coliseu. Moderno. Poderoso. Imponente. Violento. Virtualmente indestrutível. Amado pelo seu povo. Feito à imagem e semelhança de Roma. Se você quiser, ainda pode fazer uma visita ao lugar, já que este se tornou um dos maiores pontos turísticos de toda a Europa, embora tenha sofrido os efeitos do tempo, mostrando sequelas de vários terremotos, além de ter sido saqueado inúmeras vezes. E a prova de sua magnitude é que tudo isso não o impediu de ser eleito uma das 7 Maravilhas do Mundo Moderno. A grande diferença é que hoje em dia, entrar lá não é mais de graça. Mas certamente vale cada centavo, até pelo fato de que você não estará entrando para lutar, e sabe que sairá de lá vivo.  

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