quinta-feira, 19 de maio de 2011

Corpo humano: A "perfeição" um tanto quanto imperfeita

Aaahh... O Corpo humano! Não existe na Terra, quiçá no Universo, estrutura mais perfeita, bem pensada, bem planejada e a prova de falhas do que o corpo de um ser humano. Repleto de detalhes extremamente bem projetadas, capazes de deixar o mais talentoso dos designers de qualquer segmento boquiabertos com suas estruturas cuja eficiência se traduz em... Perfeição.


Ou não? Bem, na verdade, não. Durante a maior parte da história, o ser humano se considerou a Mona Lisa de Deus. O centro do Universo. A grande obra prima divina. Foi doloroso, como um chute bem naquele lugar, descobrir que não, o Sol e as estrelas não giravam em torno de nós. Que não, não fomos criados a imagem e semelhança do Criador, mas somos, no máximo, apenas mais uma de suas criaturas (talvez, nem isso). Foi tão duro, que muita gente, até hoje, não acredita totalmente nessas afirmações.

Mas o fato é que não, o corpo humano não é, nem de longe, uma obra perfeita. Funciona? Sim. Bem? Muito bem. Surpreendentemente bem. Incrivelmente bem. Mas guarda algumas falhas de projeto bem evidentes. Algumas foram corrigidas com algum remendo aqui e ali. Outras foram simplesmente ignoradas e deixadas lá, sem muita utilidade. É bem provável que você, caro leitor, esteja pensando agora em fechar essa janela e parar de ler essas abobrinhas. Mas dê uma chance a esse texto. Venha, vamos ver algumas gambiarras e mancadas evolucionárias que você carregou a vida toda e nunca desconfiou...




Bem diante dos seus olhos...

Começando a lista por uma das estruturas favoritas do ser humano para assumir a sua própria condição de perfeição. Afinal, o que haveria de errado com os seus olhos, tirando qualquer eventual patologia que tende a ser vista, corretamente, como exceção, e não como regra? Muita coisa. Mas muita coisa mesmo. Você compraria uma câmera cujo a lente está invertida? Compraria uma câmera que consegue focar apenas uma pequena área, deixando todo o resto desfocado e sem detalhamento? Compraria uma câmera que apresenta um pequeno ponto cego na lente, graças ao fato dos fios que levam as imagens ao processador terem que passar na frente dela? Compraria uma câmera que precisa de um Photoshop operado por um super computador para dar a impressão de mostrar imagens nítidas? Compraria uma câmera com diversos outros defeitos além desses?

Não? Então você não compraria uma câmera igual aos seus olhos, que tem a retina invertida, não tem um foco muito amplo, e só lhe passa a impressão de ver perfeitamente por conta de alguns truques empregados pelo seu cérebro...

Como um primata ou como uma vaca?

Você conhece alguém que já quebrou o cóccix? Ou alguém que já teve que operar o apêndice porque o mesmo estava inflamado? Conhece alguém que já passou por muitas dores decorrentes do nascimento dos dentes do siso? Pois então vai uma notícia um tanto quanto chata: Todos esses problemas, essa dor e esse sofrimento, poderiam ter sido evitados se o nosso corpo tivesse simplesmente se livrado dessas estruturas praticamente inúteis. Eles são apenas alguns resíduos de órgãos que, num passado remoto, realmente cumpriam um papel importante, mas que hoje não tem mais função alguma.

O cóccix nada mais é do que o que restou de uma calda, como a de outros primatas, tais quais a do macaco-aranha ou o bugio. Era útil antes do ser humano se tornar bípede e passar a viver a maior parte do tempo no chão. Os dentes do siso surgiam para repor os dentes que as pessoas perdiam num tempo em que higiene e a pasta de dentes nem sonhavam em existir, e as pessoas tinham bocas maiores que comportavam esses dentes novos. Quanto ao apêndice, embora ele esteja relacionado ao sistema imunológico, é uma estrutura dispensável para o mesmo. Sua real função era a de facilitar a digestão de grandes quantidades de alimento, num tempo que a dieta deveria consistir quase que totalmente de vegetais. É ele que permite, por exemplo, que as vacas possam ficar pastando o dia inteiro...

Que dor nos ossos...

Você pode não saber, mas seu joelho tem uma estrutura extremamente complexa para evitar que a força da gravidade faça seu fêmur e sua tíbia se esfarelarem com o tempo. Essa estrutura possui cartilagem, liquido sinovial, e utiliza íons negativos e positivos de forma incrível para evitar que cargas excessivas sejam impostas em certos pontos dos ossos. E sabe por quê? Porque esses ossos não são exatamente simétricos. A estrutura não foi projetada para suportar as cargas que tem que suportar, simplesmente porque nossos antepassados não colocavam toda a carga nos membros posteriores, não eram bípedes.

O seu fêmur não tem o encaixe muito bem desenhado em relação a tíbia para agüentar toda a pressão exigida por uma postura ereta. Se tivesse, boa parte dessa estrutura seria desnecessária: Bastaria apenas uma estrutura para evitar o desgaste causado pelo atrito e outra para manter as coisas no lugar. Porém, como não é, faz-se necessária ainda que ela esteja adaptada para distribuir corretamente as forças de compressão, evitando que o osso se quebre. Outra articulação que merecia uma melhor reguladinha antes de ter ido para as linhas de montagem é o cotovelo. Quem já o bateu descobriu da pior forma que certos nervos não estão posicionados num lugar muito legal...

Saindo do forno antes da hora

Humanos nascem prematuros. E não estou falando dos bebês de 7 meses. Esses nascem muito prematuros. 9 meses é prematuro até não querer mais, embora seja o padrão da espécie. Como assim? Novamente uma complicação decorrente de termos ficado em pé: Sofremos diversas alterações na região do quadril para permitir essa postura. Some a isso um crânio grande em comparação com o corpo, e temos alterações que tornaram o parto de uma criança completamente formada mortal para mãe e filho. A maioria dos outros mamíferos já nasce praticamente pronta, boa parte deles, capazes de andar e correr em apenas algumas horas de vida... Diferente dos humanos, que levam alguns anos para conseguir realizar essas tarefas essenciais.

Isso por que a solução para o problema das alterações do quadril foi justamente nascer prematuro, em média aos 9 meses, ainda com alguns ossos em formação e num tamanho que permita a passagem pelo canal, ainda assim, ao custo de muito mais esforço e dor do que nos outros mamíferos. Pouca gente sabe, ainda, que a gravidez não é lá o processo mais saudável do corpo. Em certos momentos, é quase como se o corpo da mulher lutasse contra aquele corpo estranho dentro dele... De onde você acha que vem os problemas como a depressão pós parto ou outras complicações que a mulher sofre ao longo e após a gravidez? O fato é que a mãe não é exatamente a prioridade nesse processo...

Isso sem falar na menstruação: A mulher fica pronta, todo mês, para engravidar. Quase nunca engravida (algumas fogem a essa regra) e no final do mês, joga tudo fora...

Está no seu DNA

O DNA humano, como o de todos os animais, é uma colcha de retalhos. Ou melhor, é quase como um histórico, uma grande lista que guarda lembranças de nossos antepassados mais remotos. Que tal os genes que permitem aos ratos terem o olfato super apurado? Você tem, mas eles não se manifestam. E os genes que fazem dos outros primatas totalmente peludos? Você tem, mas eles não se manifestam com tanta força assim (em algumas pessoas, se manifestam...).

Além desses, há outros milhares de exemplos do tipo contidos no DNA. Ah, e já que falamos em colcha de retalhos e de fisiologia, as reações químicas do seu corpo estão repletas de hormônios que servem apenas para evitar os efeitos colaterais de outro hormônio que cuidava dos problemas causados por outro hormônio depois de realizar sua função, e assim por diante...

Enfim, o corpo humano pode até funcionar muito bem, mas tem lá os seus probleminhas. Mas isso não faz de nós seres menos impressionantes. Afinal, somos dotados de um grande cérebro e uma capacidade incrível de conseguir notar e entender todos esses problemas. Além do que, o simples fato da evolução ter nos providenciado soluções para tudo isso e nos mantido vivos até aqui é digno de admiração.

Pense nesse processo da seguinte forma: Imagine que eu te dou uma pipa e digo para que você a transforme em algo semelhante a um Boeing, leve o tempo que levar, mudando uma estrutura por vez, e com a condição de que todas as formas intermediárias devem voar. É de se esperar que tenha uma ou outra improvisada aqui e acolá no final do trabalho. E é mais ou menos isso que aconteceu com o corpo humano ao longo de sua evolução, assim como com o corpo de todos os seres vivos. Não é algo para nos envergonharmos ou lamentarmos. É apenas algo para que desçamos do salto, e entendamos que somos todos, de certa forma, “irmãos”, descendentes de um mesmo início extremamente simples, que gerou as formas de vida mais diversas e curiosas, seja você uma pessoa, uma planta ou o que for...

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