domingo, 23 de outubro de 2011

O que aconteceu com a Sega?


 Era uma vez uma empresa que fazia videogames. Ela tinha alguns dos profissionais mais talentosos que essa indústria já viu e lançava alguns dos melhores e mais criativos games da época. Seu marketing agressivo aparecia desde corridas de Fórmula 1 até programas de televisão ou grandes shows de astros da cena pop. Era uma concorrente de peso, uma das poucas capazes de fazer frente a sempre poderosa Nintendo. Mas essa empresa que lucrava milhões e era sinônimo de qualidade, pouco a pouco, foi enfraquecendo, enfraquecendo, até jogar a toalha e abandonar o setor de hardware (o videogame propriamente dito), voltando-se apenas para o setor de softwares, ou seja, os jogos. Estamos falando da Sega, e quem viveu os anos 90, muito provavelmente já deve ter se perguntado por que não se vê mais videogames dessa empresa, e por que diabos os seus jogos agora aparecem em tudo quanto é videogame diferente.

E é isso que nós vamos tentar entender agora, nessa postagem retrospectiva que serviria muito bem como um manual do tipo “Como perder a confiança do público”.


O videogame aos pedaços

Depois do Master System, que não pode ser considerado um fracasso, tampouco um sucesso absoluto (e não foi o primeiro videogame da empresa, mas não vale a pena escavar tanto se vamos falar apenas de sua queda nessa postagem), a Sega vinha bem com o seu Mega Drive (Genesis, dependendo de onde você esteja), rivalizando em pé de igualdade com o SNES na maior parte do mundo (menos no Japão, onde até o PC Engine / TurboGrafix-16, quase anônimo por aqui, vendia mais que o videogame da Sega). A única pedra no sapato da Sega era o fato de que os concorrentes traziam recursos que o Mega Drive, lançado ainda no final da década de 80, não tinha, o que brecava significativamente as vendas, embora elas ainda fossem muito boas... E conforme o tempo foi passando, a Sega resolveu dar um jeitinho nisso. Quase que um jeitinho brasileiro, diga-se de passagem. Aliás, eu disse um jeitinho? Esquece, foram vários...

Primeiro modelo do Mega com o Sega CD e o 32X
O Mega Drive tinha uma porta de expansão. E a Sega levou ao pé da letra esse negócio de expandir. A primeira “grande idéia” da empresa foi que o seu Mega Drive precisava de uma mídia nova, por assim dizer, até porque, o Pc Engine, forte concorrente japonês, tinha como uma de suas grandes armas as maravilhas permitidas pela novidade do CD-Rom. Não demorou tanto para que o mundo visse o Sega CD, um acessório que servia como um leitor de CD-Rom para o console, uma novidade que abria dezenas de possibilidades, especialmente considerando que não apenas a mídia era diferente, sendo o Sega CD por si só mais potente que um Mega Drive comum. A bem da verdade, o Sega CD era uma idéia que para você, jovem gafanhoto que pegou da geração PS2 em diante, pode parecer bem bizarra, mas que para a Sega, na época, devia parecer ótima: Praticamente um console independente (com vários jogos exclusivos, diga-se de passagem) que só funcionava se estivesse acoplado a um outro videogame mais antigo.

Se isso tudo já te parece bastante estranho, sente-se para não cair: O Sega CD chegou aos EUA custando US$ 299,00. Para efeitos de comparação, o Mega Drive em si custava US$ 199,00! Ou seja, a “expansão” era mais cara que o aparelho, e juntos, custavam praticamente US$ 500,00!

“Devia ser muito louco!”, você pode pensar, mas não era bem assim. Primeiro que a diferença técnica se baseava mais na capacidade de rodar vídeos (Night Trap, um famoso jogo que era chatinho, mas ganhou fama por isso, que o diga) e músicas com qualidade de CD (as marcantes músicas de Sonic CD, são prova disso). No demais, pouca coisa se viu. Final Fight, por exemplo, não era melhor que a versão SNES. Aliás, o SNES, sem a necessidade de nada disso, lançaria alguns jogos tecnicamente fantásticos mesmo em comparação com o Sega CD, como a série Donkey Kong Country. Mesmo assim o Sega CD vendeu relativamente bem e teve muitos jogos. Mas não foi o bastante para a Sega se acalmar. Qual o plano agora?

Mega Drive com um 32X acoplado
A Sega já se preparava para lançar o sucessor do Mega Drive. Se preparava até demais: Diz a lenda que a divisão norte americana da empresa trabalhava num console, e a divisão japonesa, em outro, ao mesmo tempo, sem que uma tivesse conhecimento do projeto da outra e até com um clima de rivalidade pairando no ar entre as duas divisões da mesma empresa!

Um desses projetos realmente se tornaria o sucessor do console, e disso já trataremos. Agora a bola da vez é o outro, que não deu tão certo assim. O 32X foi lançado com a idéia de transformar o Mega Drive num autêntico videogame de 32 bits, capaz de rodar games em 3D (a grande novidade da época) e teoricamente muito mais potente que o SNES. Diferente do Sega CD, no entanto, o 32X tinha pouquíssimos jogos realmente bons (Virtua Racing Deluxe, é realmente incrível), foi lançado a US$ 159,00 (ou seja, quem foi na onda da Sega e foi comprando tudo isso, gastou perto de US$ 660,00!) e não só chegou tarde o bastante para ter que enfrentar a concorrência implacável do Playstation da novata Sony, como cedo o bastante para pegar os últimos dias do sempre forte SNES, e de quebra disputar mercado de forma bisonha com o Saturn, da própria Sega!
Ah, e isso sem citar que alguns dos jogos que faziam sucesso nesses videogames acabavam ganhando versão para computador também, ou seja, a Sega sequer mantinha exclusividade de seus próprios jogos...

Sega CDX
Outro detalhe que não pode passar em branco é a questão prática da coisa. Um Mega Drive com o Sega CD e o 32X acoplados era um verdadeiro Megazord, simplesmente gigantesco e todo desmontável. De brinde, ainda o fato de que cada um desses videogames tinha sua própria fonte! Mais tarde, para tentar dimiunir esse problema, a Sega foi lançando videogames mais enxutos, como o Sega CDX, um híbrido de Mega Drive e Sega CD. Pena que isso foi lançado tarde demais, quando todo mundo já tinha gasto fortunas para montar o videogame aos poucos. E tem mais: Embora os manuais deixassem claro que os dois consoles "adicionais" não eram compatíveis entre si, foram lançados alguns (poucos, é verdade) jogos que só funcionavam se você tivesse o Sega CD e o 32X. Isso sem contar o fato de que havia mais de um modelo de Mega Drive no mercado, o que resultou em diferentes modelos de Sega CD e 32X, cada um para um tipo de Mega... Tenho que deixar ainda uma menção honrosa para o Sega Neptune, um híbrido de Mega Drive e 32X (sem o Sega CD), que jamais viu a luz do dia, sendo cancelado sem maiores explicações muito próximo da sua data de lançamento. 

Uma confusão de outro mundo

E no meio disso tudo, o público, completamente perdido, sem saber o que fazer ou em quem acreditar. Não que a Sega soubesse. O Saturn, por exemplo, originalmente, deveria ser a máquina para games em 2D definitiva. O problema é que muita coisa mudou no meio tempo entre o início da produção dele e o final. Além da Sony ter anunciado o seu videogame voltado para o 3D, a própria Sega havia ajudado a transformar isso numa tendência, com seus Arcades de grande sucesso como Virtua Fighter, por exemplo, ou até mesmo o marketing que usara para promover o 32X. No final, a Sega teve que, já as vésperas do lançamento do console, jogar tudo pro ar e dar um jeito da máquina ter capacidade de rodar esse tipo de jogo de forma comparável ou melhor que seus concorrentes. Na prática, o que ela fez foi “remendar” o console, dessa vez antes do lançamento (pelo menos isso) adicionando um novo processador voltado para esse tipo de gráficos e mudando as especificações técnicas do dia pra noite, com componentes que nem sequer haviam sido projetados para trabalharem juntos. O resultado foi um console super potente, e super complicado, com direito a duas CPU's(numa época onde Dual Core's e Quad Core's da vida não passavam de ficção científica), incríveis 6 processadores e uma das linguagens de programação mais complexas de todos os tempos em se tratando de videogames.

Um videogame para o qual produzir jogos era muito caro, demorado e trabalhoso, o que afastava as produtoras, a despeito de seu enorme potencial técnico. E um videogame caro, lançado a US$ 400,00, o que afastava os consumidores (para se ter uma idéia mais clara, o console chegou ao Brasil custando R$ 800,00. Isso pode até parecer o preço normal de um videogame hoje em dia, mas devo te lembrar que na época, o salário mínimo estava na casa dos R$ 75,00... ).

Os anos foram se passando e o Saturn, de fato, não emplacou, como era de se esperar. Uma vez destruída a confiança do público em seus produtos, a não satisfeita Sega agora queria irritar também as parceiras. E conseguiu isso muito bem, com atitudes como descontinuar o Saturn um ano antes do lançamento do próximo console, sem prévio aviso, ou ainda assinar contrato para que uma empresa fornecesse os processadores desse novo console, só para desonrar o compromisso e assinar com outra tempos depois (o que lhe rendeu um processo). O fato é que a Sega estava desesperada para lançar o sucessor do Saturn e chutou tudo, desde o planejamento até parcerias bem firmadas, para fazer desse “sonho” realidade o mais rápido possível.

Sonhar não custa nada. Ou custa...

Esse novo console era o Dreamcast. Novamente, as divisões americana e japonesa trabalharam separadamente, mas dessa vez, já sabendo que apenas um dos projetos seria escolhido. O Dreamcast veio ao mundo no final de 1998, muito antes dos seus concorrentes da sexta geração, mas, pela primeira vez em muito tempo, lotado de acertos por parte da Sega, partindo de uma campanha de marketing muito boa, principalmente nos EUA (que fez do console recordista de vendas no lançamento, posto que mantém até hoje). O Dreamcast era um console muito poderoso para seu tempo, com ótimos jogos, algumas novidades bacanas, como o VMU (uma espécie de memory card misturado com videogame portátil, que ainda servia de tela auxiliar para os jogos) e funcionalidades online que de certa forma ajudaram a definir o futuro da indústria. E vendia bem. Tudo parecia maravilhoso até que a Sony anunciou o Playstation 2, que além de mais potente, usaria DVD's como mídia e ainda serviria para reproduzir filmes no novo formato.

De repente, a Sega e seu Dreamcast ficaram obsoletos, uma vez que a Sony também prometia internet para seu novo videogame (embora tenha demorado para cumprir a promessa, mas isso o público não tinha como saber) e, devido aos erros recentes, o nome Playstation causava maior simpatia no público que a marca Sega, que bem que tentou, mas não conseguiu segurar o Dreamcast por muito tempo. Para piorar, outros concorrentes, como o Gamecube e o Xbox (que por sinal, foi obra de uma Microsoft muy amiga, que ajudou a Sega no desenvolvimento do Dreamcast e depois lançou seu console, abusando dos acertos do console da Sega e fugindo dos erros), chegaram para acabar de vez com a brincadeira. A Sega não tinha mais para onde correr, e anunciou, ainda em 2001, que o Dreamcast seria descontinuado, também. Era o fim da empresa no ramo de hardware, e agora ela trabalharia apenas no mercado de jogos.

Depois disso a Sega, financeiramente, se recuperou e hoje em dia vai bem, obrigado. Entre jogos bons e ruins, em geral, os gamers saudosistas não conseguem fugir de compará-la com aquela dos bons tempos. Tempos de uma empresa que apesar dos seguidos erros, criou jogos e personagens que marcaram toda uma geração. Não foram apenas esses os erros que causaram a queda da divisão de consoles da Sega, houveram muitos outros (não falamos por exemplo dos videogames portáteis da Sega ou de suas campanhas de marketing de gosto e efetividade duvidosos), mas no final das contas, é uma pena que tenha se desenrolado assim. Por que em meio a esses erros, houveram acertos, e quem viveu essa época, certamente se lembra com muita saudade desses acertos...

29 comentários:

  1. Eu gostava do futebol do Sega Saturn, mas hj os tempos são outros.

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  2. Final Fight do snes melhor que do sega cd ?

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  3. Muito bom artigo, saudades do Mega Drive e DreamCast.
    Espero que um dia a Sega volte para o mercado de hardware, e nos mostre quem sabe, um Dreamcastx10 Ultra-High-Fodastico-Master-Motherfucker-Monster!

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  4. muito bom adorei o post!!

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  5. Grande parte da culpa ( para não dizer toda ) da falência da Sega é devida a Sega do Japão e seus métodos absurdos.
    A Sega Americana JAMAIS aceitou o Saturn como um console viável, porém teve que ceder devido a imposição da Sega do Japão. O Console era bizonho, caro, com vários processadores gráficos/unidades gráficas funcionando de maneira não sincronizada...
    Vale lembrar também que a estratégia de Marketing da Sega do Japão ( para consoles apenas, nos arcades era outra história ) sempre foi terrível! Tanto é que nenhum console da sega "emplacou" no japão, contrariamente do ocidente, onde o master system foi relativamente bem no Brasil / Europa e o Genesis, que foi um grande sucesso para a Sega.
    Após a Sega fechar as portas para os consoles, ela foi comprada pela Pachinko e atualmente só trabalha produzindo software. Infelizmente, é extremamente improvável que a Sega venha a se reerguer e volte para o ramo dos consoles.

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  6. eu gostava dos consoles da SEGA, o dreamcast era uma maquina fudidaaaaaaaaaaaa para a epoca!

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  7. Post muito legal!
    Tô velho mesmo, acompanhei todos esses games!

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  8. Digam o que quiserem, eu jamais deixarei de sonhar com o dia em que a Sega se reerguerá no mercado de hardware. Um sonho bem improvável, é verdade, mas não impossível.

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  9. Então "anônimo" ( pô, custava colocar um nome aê? ) o problema principal para a Sega se reerguer é que a "Sega" que nós conheciamos não existe mais. Ela foi comprada pela Pachinko, e grande parte do quadro de funcionários migrou para outras empresas. Ainda existem algumas lendas vivas na Sega, mas não estão mais destinadas a parte de Hardware, que a empresa abandonou por completo.

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  10. road rash era do caraleo !!!!

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  11. Fui o feliz proprietário de vários console da Sega, só ficou saudades...

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  12. bom post, vc é fera!

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  13. Eu e meu irmão fomos uns dos primeiros da minha cidade a ter vídeogame, ganhamos um TV-Jogo, aquele de barrinhas em q se imaginava uma partida de tênis e outros.

    Depois ganhamos um CCE que era com os jogos do Atari, e vinha com o Pac-man e o MoonPatrol. Meus primos ganharam Atari e depois o Master e nós pulamos direto para o Mega Drive tempos depois e tivemos também um Top Game que rodava jogos do NES depois começamos a jogar em PC e os consoles ficaram muito caros e esperamos que ficassem mais baratos, sempre pensando no Play1, mas aí, estavámos na faculdade e não queríamos gastar ou se interter demais e agora já passou a vontade e temos outras atenções.

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    1. Pobre menino triste que perdeu a infancia na melhor parte! O melhor de ser "adulto" é que você pode jogar o quanto quiser. kkkk hoje já não tenho video games mas, tenho dois emuladores com mais de 500 jogos cada um. Todos os jogos dos anos 80 a 2004. Sou da epoca dos anos 90, adorava the king falter 97... Tinha até campionato. Agora já com o meu 25 anos, disputo apenas com minha esposa e sempre ganho. Ai ela lava a louça. kkkkk Amigo nunca é tarde. mostra pro seu filho como se joga viseo game deverdade. kkkkk grande abraço.

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  14. mto bom o texto
    eu dei a bobeira de trocar meu famoso N-64 por um dreamcast =/
    esse video game estragava mto
    até q um dia resolvi largar de mao e comprar um ps1

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  15. Hokei do mega drive era muuuuito bom, até fight rolavaa e iam os 2 pra geladeiraa.... haahhaha

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  16. Mega Drive , minha infanciia s2

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  17. Parabéns amigo, nunca li, em algum outro lugar, uma matéria tão sucinta e boa quanto essa sobre a queda da Sega. Hoje a considero uma piada, uma infeliz paródia do que um dia foi.

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  18. Gosto muinto do sega
    meu jogos preferidos era o do sonic

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  19. Sem duvidas a SEGA marcou epoca na vida de muita gente, inclusive na minha onde eu ouso dizer q a era de ouro dos video games foi a dos 16 bits, onde a briga era entre o Mega Drive e o SNES, e tinhamos ótimos jogos como Sinobi, Streets of Rage, Alien 3, a série Sonic, dentre varios titulos do Mega Drive. Sinto falta dessa época, a época das locadoras e de toda aquela turma reunida jogando e discutindo sobre os games da época.

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  20. Kara... lembro de quando jogava mega drive com meus amigos do bairro, jogos como Star Gate, Sonic 2, Mortal Kombat II, eram simplesmente mágicos!Eu até sonhava com os games. Lembro que agente pegava dicas em revistas de games e era moh legal..ficavamos horas da noite falando dos games e animies da época que se tornavam games..Melhor época do mundo foi a do Mega Drive. Hoje os Games sao muito técnicos e estéticos, mas nenhum tem a magia daqueles da época 16 bit.

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  21. galera quem se lembra daquele jogo do mega-drive o macaco famoso dos fliperamas dos botecos *JUJU* quantas saudades,matava aula só pra ficar jogando estes games incriveis,pena que tudo que é bom dura pouco.....
    :-)
    http://www.youconnect.vai.la

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  22. Saudades da SEGA.era muito loko na epoca ficar jogando os jogos da SEGA,como SONIC do Mega Drive,virtua fighter do Sega Sarturn,ALEX KIDD do Master Sistem,epoca boa aquela viu.epoca que não vouta mais.

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  23. Niltonrasta
    os jogos antigo eram magico fabuloso
    hoje em dia os jogos estão + para adulto do q para criança .

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  24. caramba, venho quase sete anos após pra ler que final fight de sega cd não era melhor que de snes. no snes não dava pra jogar de 2 players.... fala sério.

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