domingo, 9 de novembro de 2014

Futebol Brasileiro: Caso perdido.

 Talvez eu tenha sido ingênuo. Não, na verdade, eu fui muito ingênuo.
 Naquele 12 de Junho de 2014 eu não estava animado torcendo pela Seleção Brasileira como a maioria dos brazukas estava. Não, não me move nenhum sentimento anti-pátria, nenhuma rejeição ao país ou ódio pela seleção em si - longe disso. Embora eu não seja um entusiasta da seleção brasileira, não costumava ser do time dos que torcem contra. Nem a favor. Mas dessa vez, eu tinha um lado e não era o que vestia amarelo. E explico o (ingênuo) motivo:

  Àquela altura eu imagina que a pior coisa que poderia acontecer para o futebol brasileiro seria ganhar a Copa em casa. Vencer Copas do Mundo de seleções (ou mesmo o Mundial de Clubes esporadicamente) trouxe um efeito colateral nefasto ao Brasil nas últimas décadas: Tapou os olhos do povo para o que era a realidade do futebol brasileiro. Clubes falidos, com jogadores ruins, jogando um futebol atrasado em estádios vazios, violência de torcidas, tabelas e regulamentos esdrúxulos, você pode escolher toda e qualquer faceta do futebol: Dentro do Brasil, numa média geral, nada, nada se salvava.

 Já era assim em 1994. Estava assim em 2002. Está assim em 2014. Mas tudo bem, vencemos a Copa. PENTA! O Brasil é o país do futebol, e quem ousará dizer que não? Não, não é. E minha esperança era de que, face a um vexame como o lendário Maracanazzo de 1950 (o qual hoje nem parece mais tão vexatório. Quem mal há de ter uma derrotinha por 2 x 1?) poderia abrir os olhos de todos e levar o futebol jogado no Brasil para um futuro melhor. Ser o empurrão que faltava para que começassem a mudar - e na outra mão, um novo título seria o passe livre para tudo continuar do jeito que estava ou até piorar.

 Inocente? Não, eu fui burro mesmo.


 Ninguém acreditava na Dilma e ela soava até meio brega com esse bordão mas sim! (Oh!) Essa foi a Copa das Copas. E o Brasil se despediu com o Vexame dos Vexames, algo que nem o mais pessimista dos pessimistas poderia ter previsto (pessimistas, vocês não pensaram bem!).

 Na verdade, o pacote saiu melhor do que a encomenda: Duas goleadas em casa, sendo uma delas por 7 x 1 na semifinal contra, vejam só, justamente um país cujo o futebol chegou ao fundo do poço e se reconstruiu com trabalho sério visando o longo prazo para se tornar a grande potência do futebol mundial (de clubes e seleções) na atualidade.

  Era o veneno e o antídoto numa tacada só. O que poderia dar errado?

  E eis aqui o grande erro na rota dessa minha ilusão: A única coisa que poderia dar errado eram as pessoas que estavam no comando do futebol brasileiro. O discurso do Felipão foi o primeiro sinal de um sintoma que eu até imaginava: Essas pessoas são incapazes de aprender com os erros - aliás, são incapazes até mesmo de vê-los por mais que estejam na cara. Mas até aí, era só o Felipão. Técnicos (na verdade, jogadores e quase todos diretamente relacionados com o meio) de futebol costumam ter as vistas tapadas pelo ego mesmo. Azar o dele, pensei. Infelizmente, aquela foto do presidente da CBF se dizendo nos braços do povo no pós jogo, no entanto, foi o primeiro sinal do que estava por vir. E aí, o azar é nosso.

  Hora das mudanças na CBF! E então, no primeiro pacote de mudanças (?) eles me aparecem com Dunga (?) e... Gilmar Rinaldi! (???????????).

  Deixemos o Dunga a parte - ele é parte menor do problema - assustador, assustador mesmo, foi o discurso do Gilmar Empresário de Jogadores Rinaldi. Prestem bastante atenção e digam onde está o erro crasso, especialmente considerando a derrota / lição que a Alemanha lhes imprimiu: Gilmar disse que estarão fazendo um trabalho cujo o principal objetivo é que o Brasil tenha um time competitivo na Olimpíada.

  Não é possível. A coisa mais importante que o Brasil poderia ter aprendido ("trabalho a longo prazo rende melhores frutos do que o um trabalho tapa-buracos emergencial") entrou por um ouvido e saiu pelo outro. Na boa? Chega a dar um nó na cabeça tentar imaginar como e porque eles chegaram a conclusão que o trabalho deve ser feito para daqui 2 anos. Aliás, dá pra saber sim: Do que interessa trabalho que renda frutos pra daqui 12 anos, se eu quero ganhar dinheiro ,fama e status hoje? E é na mão de gente que pensa assim que o futebol brasileiro está.

  Mas vamos seguir nosso tour pelas bizarrices pós Copa. Aceitemos: A Seleção Brasileira não vai mudar. por sorte daqueles que gostam dela, o Brasil tem uma grande capacidade de fabricar bons jogadores. Entretanto, esperar qualquer mudança real na seleção é loucura - não vai acontecer. Vai ser sempre esse ciclo imediatista e esses trabalhos de remendo sem sequência ou lógica (mas curiosamente, igualmente ruins) que vemos de 4 em 4 anos.

 Antes de continuar, devo me justificar: Não estou falando de trabalhos ruins na seleção de 2006 pra cá. Estou falando de 1990 pra cá. Ganharam em 1994 e 2002? Sim. Mas gostaria que os mais velhos relembrassem o trabalho que foi feito naquelas Copas: Era digno de um campeão? Basta rever o sufoco que foram as eliminatórias, como uma pequena amostra. Com um pouco de sorte nos confrontos e jogadores como Romário, Ronaldo e Rivaldo, mesmo os piores trabalhos podem vencer - e ficar eternamente debaixo do tapete.

  Resolveram, agora, mudar o tal do calendário - uma reclamação antiga dos clubes. Calendário de futebol no Brasil tem jogos demais, não permite pré-temporada decente, faz os times perderem seus melhores jogadores no meio do campeonato e ainda permite que times joguem no mesmo dia que a seleção que lhe tirou os jogadores.

  O novo calendário foi anunciado e vejam! Agora tem uma pré-temporada de 25 dias! Nenhum jogador fará mais que 65 partidas por ano! E olha que legal, em dias de amistosos da seleção, não tem mais jogo de time nenhum do Brasil! Poxa, parecia legal. Mas espera aí, prestem atenção nessas informações - eles conseguiram piorar o que já era horroroso. Há coisas estranhas e coisas caricatas no novo calendário, Vejamos:

  Essa história das 65 partidas por ano parece ser a mais estranha. O jogador não poderá passar esse limite mas o time, pode (e no caso dos grandes, deve passar. E por muito). Isso mesmo: Os times agora tem que poupar os jogadores sem saber se realmente precisam poupar ou não. É esquisito mas merece exemplificar: Um time pode poupar seu jogador na fase inicial do campeonato estadual inteira, pensando em tê-lo sem problemas nas fases decisivas do Campeonato Brasileiro, Copa do Brasil ou mesmo Sul-Americana que só terminam no final do ano. Mas e se o time não chegar a disputar de fato o título nesses campeonatos?

  É incrível e é difícil não adjetivar com uma palavra ofensiva a pessoa que resolveu o problema de "excesso de jogos" proibindo os jogadores de jogar ao invés de diminuindo o número de jogos.

  E olha que o desequilíbrio no número de jogos vai pros dois lados: Alguns times jogam muito. Outros jogam pouco. E a causa (e solução) pros dois é praticamente a mesma: Os campeonatos estaduais.

  Responda: Um time grande precisa mesmo jogar 19 vezes numa primeira fase de campeonato estadual? Responda também: Um time pequeno pode sobreviver o ano todo tendo apenas 3 meses de disputa no campeonato mais importante que participa no ano (no caso, a primeira divisão do seu estadual)?

  A solução parece simples: O campeonato estadual poderia durar o ano inteiro para os times de menor investimento. Os times da Serie A do Campeonato Brasileiro poderiam entrar apenas na reta final, nos mata-matas, por exemplo. Ganharia-se 19 datas que poderiam ser usados pro Campeonato Brasileiro - campeonato esse que não precisaria ficar espremido em 6 meses.

 Seria bom pros times grandes (que teriam calendário mais organizado), pros pequenos (que jogariam mais, consequentemente precisando se profissionalizar mais, criando vínculo com a cidade e a longo prazo, lucrando mais) e pra todos os jogadores (dos clubes grandes jogariam menos e sofreriam menos lesões e outros efeitos do excesso de jogos, e os dos pequenos não teriam mais que viver com contratos de 3 meses).
  Seria bom até pra poderosa Rede Globo! Pensem: O que daria mais ibope, um jogo de um grande na terceira rodada do Paulistão contra o Novorizontino (com todo respeito ao Novorizontino) ou um jogo do mesmo grande contra o Real Madrid num torneio de pré-temporada qualquer no exterior?

  Mas fazer isso vai tirar a mamata de muito dirigente de federação estadual de futebol. Muita gente vai parar de ganhar dinheiro fácil - muita gente que manda. Então desistam: Vai continuar como está.

  A parte dos jogos não baterem mais com os amistosos da Seleção é caricata, uma grande piada e não dá pra encarar de outra forma - quem escreveu deve ter molhado a folha com as lágrimas que escaparam em meio a sua gargalhada: Não vai ter mais jogos de clubes brasileiros no dia do amistoso da seleção, mas vai ter na véspera. "Dá na mesma!", você pensou certo? Mas calma que fica pior: Durante o mês da Copa América, os campeonatos nacionais de futebol continuam a todo vapor. Vamos rir - mas cientes que nós é que somos os palhaços.





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