sexta-feira, 10 de abril de 2015

Hipatia de Alexandria

Hipatia de Alexandria teve tudo pra ser uma das mulheres mais famosas e influentes da história da humanidade: Ela foi filósofa, médica, a primeira mulher da história documentada como matemática e acima de tudo, era a poderosa chefona da lendária Biblioteca de Alexandria - o grande centro do conhecimento da antiguidade.

Tudo isso no ano 370 d.c., época em que a maioria das mulheres tinha direito a nada e o dever de não reclamar do direito.

Mas Hipatia tinha um inimigo: O Bispo de Alexandria, Cirilo.

Cirilo foi um bispo que notabilizou-se por sua "luta contra as heresias e blasfêmias" -  heresias como as de Hipatia, que exercia grande influência sobre o governador Orestes e por vezes fazia-o questionar os desmandos de Cirilo. Entre as quais, a que mais desagradava Cirilo era a maneira como Hipatia defendia que o conhecimento deveria ser popularizado entre as pessoas -  todas as pessoas, não apenas a nobreza.

Até que em uma tarde, Cirilo cansou da brincadeira e convocou seus seguidores a dar um fim "naquela pecadora". Foi quando uma multidão de cristãos ensandecidos atacou a mulher, arrastaram-na pra uma igreja e arrancaram sua carne usando conchas (dessas de frutos do mar) afiadas, com ela ainda viva. Depois, queimaram os restos mortais em praça pública.

Hipatia foi praticamente esquecida pela história. Cirilo, por outro lado, mais tarde foi canonizado pela Igreja e até hoje figura lá, como "São Cirilo" ou algo assim.

Ah sim, algumas semanas depois, a própria biblioteca de Alexandria foi destruída junto com quase todo seu conhecimento. Haviam ali livros que descreviam coisas que só seriam redescobertas milhares de anos depois, como motores a vapor ou o ciclo de nascimento-vida-morte das estrelas.

1 em cada 150 livros da biblioteca de Alexandria sobreviveu. Pra efeito de comparação, pra dar uma dimensão da perca, é como se de todas as obras de Shakespeare, apenas Cimbelino tivesse sobrevivido, e Sonho de Uma Noite de Verão, Romeu & Julieta, Julio César, Hamlet, Macbeth e todas as outras tivessem sido perdidas para sempre. E o mesmo tivesse acontecido com todos os autores que escreveram qualquer coisa antes dele.

E quando eu falo que Roma ter adotado o cristianismo foi o maior breque da história do conhecimento ocidental, é de episódios como esse que eu estou falando.

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