quarta-feira, 18 de novembro de 2015

A melhor lutadora da escola

Festa do dia das crianças: Depois das crianças passarem a manhã jogando Just Dance até não aguentarem mais, coloquei um pouco de Street Fighter IV pra matar aqueles últimos 25 minutos depois da pausa pro lanche, antes deles irem embora (sim, eu cuido da sala de games, surpresos? Não).
Tinha um menino com um pouco de noção do jogo ganhando as partidas. Havia ganho 3 seguidas já: Não vai ficar rico ensinando a fazer combos no YouTube, mas em terra de geração Minecraft, quem sabe o Hadouken é rei.
Então chegou a vez de uma menina, bem pequena, que estava lá mais por curiosidade que por convicção: Ela não tinha a menor intimidade com o controle, ao ponto de eu ter que explicar a ela como usar e pra que servia o botão direcional.
Mas Deus não desampara seus filhos em horas de fraqueza, não! Por um capricho do destino, a menina escolheu justo o Balrog (boxeador) em meio aos 44 personagens do jogo. Que menina escolhe o Balrog? Uma que não faz a menor ideia do que está fazendo, claro.
No começo da luta ela estava testando as funções dos botões (e o moleque batendo), até que aconteceu um ponto de virada nessa história: Ela descobriu o soco forte do Balrog.
Aaaaaah... O soco forte dele vai longe e faz um belo estrago. Ela começou a apertar só esse botão, freneticamente e... Acertar todas na cara do moleque. E adivinhem quem ganhou o round? Ela.
A reação das crianças esperando a vez na sala foi, bom, imaginem a torcida do Santa Cruz comemorando um gol na final da Libertadores. Foi daquele jeito.
O segundo round foi adrenalina pura: Depois de uma batalha apertadíssima, o moleque ficou tonto, faltando um soco pra perder (e a torcida quase tendo um infarto coletivo), mas a menina não teve controle pra ir lá perto e dar esse soco vencedor, ele se recuperou e ainda venceu o round. 1 X 1.
A essa altura a sala já tinha se transformado numa mistura de estádio de futebol na Turquia com Clube da Luta.
E mais e mais gente entrando na sala, atraídos pela gritaria, dispostos a ver essa verdadeira releitura de Rocky Balboa que estava acontecendo ali. O terceiro e derradeiro round:
Vou falar uma coisa pra vocês: Não sei se ele estava movido pelo orgulho, se foi falta de experiência ou se ele simplesmente ficou com vergonha de fazer isso diante daquela torcida enlouquecida, mas o menino teve o mérito de não ficar do outro lado da tela jogando Hadoukens na coitada, pois se tivesse feito, óbvio que teria vencido.
Mas não, ele foi pra cima. Foi pra cima e... Perdeu! Perdeu novamente por uma diferença pequena, mas não deu. O grito de KO do narrador nunca passou tão despercebido: Já estavam todos gritando na sala muito antes.
A euforia foi tão grande pra cima da menina, que o menino vencido pôde até sair da sala sem ser zoado. Acredito que além de mim, ninguém nem viu o coitado deixando o controle na mesa e saindo cabisbaixo. Estavam todos ocupados abraçando a vitoriosa, gritando, comemorando, pulando.
Foi difícil retomar a calma da sala pra continuar o jogo.
Na sequência, a menina perdeu e saiu (pra alguém que estava quase tão perdido quanto ela). Mas o seu papel ela já tinha cumprido: Participou e venceu a melhor partida de Street Fighter que eu já presenciei (e olha que já presenciei muitos).
E teve seu dia de Muhammad Ali.
Não sei (e não acho que) um dia ela vai passar a gostar de games ou sequer se vai jogar Street Fighter de novo na vida. Mas hoje, só hoje, tenho certeza que esse jogo colocou uma lembrança bem bacana na cabeça dela: O dia que ela virou a lutadora #1 da escola.

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