Existem dois tipos de pessoas: As que têm medo de arvores num quadro, e as que não têm.
Considere-me parte do segundo caso. Explico:
Um quadro. Uma senhora alimenta patos (gansos?) nas margens de um riacho. Uma casa maior (provavelmente a casa da senhora), e outros dois casebres um pouco mais afastados. O vento parece soprar naquela tarde de outono (chuto e gosto de pensar que seja uma tarde de outono). E lá estão elas: Duas arvores muito altas (a menor tem aproximadamente o dobro da altura da casa). Uma delas é uma espécie de pinheiro, enquanto a outra, maior, não tenho sequer uma pista do que seja. Sei dizer apenas que é uma arvore muito alta. Ajuda se eu disser que ela parece um urso?
Não. Até por que não parece. Por algum motivo misterioso meu cérebro cria um gigantesco urso ao avistar aquela arvore.Vai entender.
Ao mesmo tempo em que a outra arvore, menor, parece estar sorrindo. Uma risada sombria, maligna. E ela sequer tem uma boca para rir!
Mas ri. Na imaginação de uma criança ela é extremamente sádica. Assim como a outra é um urso serio e mal humorado.
Aquelas arvores me acompanharam por toda a infância. O quadro lá, num lugar de destaque da sala. E eu lá, brincando ou assistindo TV, abaixo dele. Era a atração para a senhora, os gansos... E as arvores.
Não que as arvores fossem assustadoras a ponto de que eu não dormisse a noite ou coisa parecida. Não. Era apenas um receio. Algo que não me deixava olhar para o quadro por muito tempo. Algo que me incomodava. Aquelas arvores de forma estranha naquela tarde melancólica. Algo incomodava.
O tempo passou. Separei-me daquela casa. Já não brincava mais. E o quadro não incomodava. Sequer era lembrado. O tempo levou tudo isso.
E o mesmo tempo levou a dona do quadro. O quadro ficou sem dono. Não por muito tempo.
Qual não foi minha surpresa ao chegar na minha casa e encontrar o mesmo quadro lá. Na mesma posição da antiga casa, na sala, num lugar de destaque.
O saudosismo me tomou.
Observando melhor, cheguei a todas as conclusões citadas acima. E outras.
O lenço na cabeça da senhora. O sol atrás das nuvens.
As arvores nem eram mais tão sinistras assim. Aliás, já eram até convidativas. Inveja. Sim, inveja daquela senhora, que aproveita a tarde junto aos patos e as arvores...
E uma assinatura. Lá no cantinho, quase interceptivel. Kar... Kar... É. É ilegivel, como é moda fazer com suas assinaturas. Mas está lá, o nome do autor ou autora do quadro que gerou tantos anos de um sentimento de respeito excessivo.
Que possivelmente nem se lembra mais do referido quadro...
Um dia ainda dou os parabéns ao artista...
O lenço na cabeça da senhora. O sol atrás das nuvens.
As arvores nem eram mais tão sinistras assim. Aliás, já eram até convidativas. Inveja. Sim, inveja daquela senhora, que aproveita a tarde junto aos patos e as arvores...
E uma assinatura. Lá no cantinho, quase interceptivel. Kar... Kar... É. É ilegivel, como é moda fazer com suas assinaturas. Mas está lá, o nome do autor ou autora do quadro que gerou tantos anos de um sentimento de respeito excessivo.
Que possivelmente nem se lembra mais do referido quadro...
Um dia ainda dou os parabéns ao artista...
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