- Almir, você não acha que Copacabana fica muito longe do Vasco?
- Não.
- Mas eu acho, e você tem que escolher: Copacabana ou o Vasco?
- Copacabana.
Esse era Almir, o Pernambuquinho. Craque do Santos de Pelé, do Flamengo, do Vasco, do Boca Juniors, da Seleção Brasileira e de muitos outros. Mas que ficou famoso não pelo futebol, e sim pelo seu comportamento, um tanto quanto explosivo. Se você acha que jogadores como Edmundo, Romário e Neymar são maus exemplos, é por que você não conhece a história do folclórico Almir, o primeiro dos jogadores “copeiros” que o futebol tem registro.
Volta Olímpica? Aqui não!
Almir era um jogador de indiscutivel qualidade técnica. Mas também era um baita pavio curto. No tempo do romantismo no futebol, onde o dinheiro não chegava a marcadores tão altos quanto hoje, e ainda existia o amor a camisa, Almir lutava cada minuto em campo (e fora dele), da maneira que fosse preciso, sempre buscando a vitória. Isso lhe rendeu uma porção de episódios marcantes, além de identificação quase imediata com todas as torcidas dos clubes por onde passou, pelo Brasil e pelo mundo. Almir não levava desaforo para casa. E jamais chegou a conhecer o que a Fifa chama de “Fair Play”...
Quer um exemplo? Que tal o episódio em que Pernambuquinho evitou que o Bangu desse a volta olímpica no Maracanã, após vencer a final do campeonato carioca encima do Flamengo? Quando Almir viu que não dava mais para reverter o resultado, armou uma briguinha básica para tirar o foco de todos. Em meio a socos, pontapés e muita confusão, O Bangu foi campeão, mas não teve clima para festejar muito...
Como expulsar um adversário?
Brigas faziam parte do dia-a-dia de Almir, mas ele não as usava apenas em atitudes anti-éticas como a citada acima. Conscientemente ou não, ele chegava a utiliza-las para o bem do próprio time!
Boca Juniors fazia um clássico regional contra o Chacaritas Juniors, jogo repleto de rivalidade. Almir foi escalado, embora estivesse machucado, e não conseguia fazer um bom jogo, junto com a equipe do Boca, que perdia o jogo. Depois de fazer uma falta violenta, Almir acabou expulso, saindo do campo debaixo de uma chuva de vaias e ofensas vindas da torcida. O ponto chave se deu quando o goleiro do Chacaritas inocentemente entrou na onda da torcida e ofendeu Almir. Depois de ser respondido a altura, o goleiro soltou a frase menos adequada possível: “Lá fora a gente resolve”.
Bem, com Pernambuquinho não tinha lá fora, depois, mais tarde... “É pra já”, pensou ele, e partiu pra cima do goleirão. Conhecendo o comportamento do companheiro, os jogadores do Boca só assistiram, enquanto os jogadores do Chacaritas lutavam contra Almir.
Saldo: Almir foi expulso, mas levou consigo não um, e sim dois jogadores do Chacaritas. Com vantagem numérica, o Boca Juniors conseguiu vencer a partida...
Baladeiro.
Almir sempre foi fã de noitadas. Naqueles tempos, jogadores não eram tão atletas como hoje, e Almir não fugia a regra. Alias, ilustrava perfeitamente isso, sendo ávido frequentador de baladas de todos os tipos e um grande boêmio, fato que lhe custou uma maior projeção na Seleção Brasileira. Não que Almir ligasse muito.
E, teimoso como só ele, não era uma boa ideia contraria-lo, como pôde constatar um de seus treinadores certa vez:
- Almir, porque você não larga a bebida?
- Por dois motivos: Primeiro por que eu gosto. Segundo, o senhor já me viu faltar ou chegar atrasado num treino por causa da noitada? Já me viu jogar mal por causa disso? Já me viu desfalcar o time por lesão, doença ou coisa parecida, derivada da cachaça? Não né?
O treinador em questão deu um tapa nas costas de Almir, e nunca mais tocou no assunto...
O trágico fim
Almir morreu em 6 de Fevereiro de 1973, baleado numa briga de bar. Não foi um fim muito glorioso, porém, também não foi surpreendente considerando as personalidade do craque.
Almir, no entanto, entrou para a história do futebol. Não por ter protagonizado um título da Copa do mundo, por ter feito mil gols ou por outras façanhas que gostam de gabar-se os craques.
Almir entrou para a historia como um cabra macho, isso sim.
Um cara simples, que gostava de beber, gostava de Copacabana, e não dispensava uma briga.
Nos tempos em que futebol cada dia fica mais profissional e politicamente correto, sinceramente faz falta um Pernambuquinho. Um ídolo, as vezes, não resume-se ao que faz com a bola nos pés. Almir é a prova...
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