quarta-feira, 28 de abril de 2010

Os novos escolhidos

  O que dizer de uma tropa que passou em um único evento, de vilões a heróis nacionais? Evento esse que consiste em, nada mais, nada menos, que evitar um incêndio que destruiria a maior cidade do país? Uma tropa que começou humilde e tornou-se virtualmente imbatível? Uma tropa em que um dos principais comandantes era um homem que... Possivelmente era uma mulher!

  Daria uma bela história ficticia, certo? Algo no estilo Mulan, por certo (não que Mulan seja 100% ficção...). A historia dessa tropa, o Shinsengumi, realmente confunde-se com ficção. E não por menos: Vem sido tema de inumeros filmes, livros, animações e quadrinhos, entre outros, desde que deixou de existir, no começo do século passado. Mas é real, e bem real. Conheça o ultimo, e provavelmente maior grupo de espadachins que a terra do sol nascente já viu!




  Os Lobos de Miburo

  O ano era 1863, e o Japão estava um caos. A pressão dos estrangeiros para que o país abrisse suas portas (o Japão até então era um pais muito conservador e isolado, estrangeiros, ou Gaijins como eles gostam, não eram bem vindos), explodiu numa guerra civil com duas frentes: Os que defendiam que o poder deveria continuar com o Xogum, e aqueles que achavam que o imperador deveria reassumir de fato o controle do Japão.

  Foi nesse cenário que surgiu o Shinsengumi (“O grupo dos novos escolhidos”, numa tradução literal), inicialmente com apenas 13 membros. A idéia do Shinsengumi era uma só: Ajudar a manter a ordem em Kyoto, até então a maior metrópole japonesa, e onde o quebra pau estava comendo mais solto. O lema do Shinsengumi era um só: Lealdade.

  Os Lobos de Miburo, apelido que receberam graças ao local de fundação da tropa, embora estivesse ao lado do xogunato e fossem reconhecidos como uma tropa oficial, demoraram a cair no gosto do povo. Alias, no começo eram vistos como baderneiros, graças ao comportamento pouco adequado de alguns de seus membros, em especial Kamo Serizaw, um dos primeiros comandantes da força.
  Essa má fama não impediu, contudo, que a tropa crescesse e se tornasse poderosa e, principalmente, temida.

  O grande incêndio e a hospedaria

  Mas essa imagem “vilã” do Shinsengumi estava para mudar. E foi em grande estilo.
  Em meados de 1864, ocorreu o famoso “Incidente da Hospedaria Ikeda”, que marcaria para sempre a historia do Japão.
  Basicamente, ocorreu o seguinte: Os monarquistas arquitetaram um plano extremamente ousado e extremista: Iriam colocar fogo na cidade de Kyoto inteira! E isso não é pouca coisa. Embora a capital, oficialmente, já tivesse mudado para Edo (atual Tóquio), Kyoto ainda era o coração econômico do arquipélago, alem de ser a maior cidade. Era o equivalente japônes na época ao que São Paulo é hoje para o Brasil. E incendiar a cidade inteira nem era tão complicado, visto que as casas eram feitas de madeira e papel, e eles estavam no outono, com fortes ventos para espalhar as chamas iniciadas em locais estratégicos. A ideia era levantar a questão: Se o governo atual não consegue proteger uma cidade dessa importância, vai proteger quem?

  Felizmente (infelizmente para os monarquistas, claro), o Shinsengumi descobriu o plano, invadiu a hospedaria onde os principais articuladores do plano se reuniam para acertar os detalhes e... Mataram todo mundo, lógico. A história veio a público e o Shinsengumi tornou-se extremamente popular, ganhando status de heróis no país inteiro.

  Caras famosos.

  Depois disso, os capitães das 10 divisões do Shinsengumi logo tornaram-se verdadeiros ícones. Entre os quais, dois deles ficaram especialmente famosos:

  Hajime Saito, capitão da terceira divisão. Saito era um cara sério, um homem de poucas palavras, com um olhar ameaçador. Era conhecido por provavelmente ser o membro mais forte de toda a tropa. Foi também um dos que mais tempo viveu, morrendo aos 71 anos, em consequência de complicações derivadas da bebida. Saito, depois do fim do Shinsengumi, exerceu por muitos anos uma função na polícia.

  Só havia um homem em toda a tropa capaz de rivalizar com a perícia de Saito, e seu nome era Okita. Souji Okita.
  Okita era um talentoso espadachim, capitão da primeira divisão do Shinsengumi, que morreu jovem, vitima da então incurável tuberculose. O curioso sobre Okita, é que existem evidências de que ele fosse na verdade uma mulher, que entrou disfarçada na tropa para vingar a morte dos pais...

  O Shinsengumi acabou desaparecendo depois dos eventos conhecidos como Bakumatsu (a guerra civil referida), perdendo espaço para as armas de fogo e para a própria era de paz que se instalou no Japão.


  Curiosidades

- Além dos filmes, livros e outros materiais que se referem especificamente a tropa, Hajime Saito teve um papel de destaque no anime e mangá “Samurai X”. Na história, o já policial Saito reaparece 10 anos após os conflitos, aparentemente decidido a acertar contas com o protagonista da história, um ex inimigo de guerra. Saito torna-se um dos personagens principais da trama.
- Ainda em Samurai X, pode-se conferir a popularidade de Souji Okita: Foi feita uma eleição entre os fãs afim de decidir o personagem mais carismático da série. Okita surpreendentemente ficou em 5° lugar. A surpresa deve-se ao fato de que em toda a série, Okita apareceu em apenas um rápido flashback de menos de 2 páginas...
- Os 5 lemas que regiam o código de conduta do Shinsengumi eram: Não é permitido se desviar do caminho que um homem deve trilhar, sair do Shinsengumi, arrecadar dinheiro para proveito próprio, se envolver em processos jurídicos de terceiros e se envolver em lutas particulares.
- Existe um 6° lema, mais famoso que esses, que diz: “O mal deve ser imediatamente eliminado”. Este no entanto é completamente fictício.
- Eram conhecidos por seu uniforme extravagante (para um exercito daquela época), um azul claro com detalhes brancos, sob a bandeira escarlate da fidelidade.

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