O momento é tenso. Muitas pessoas de cada lado se encaram, olhos nos olhos, mentes focadas. Muitos sons por todos os lados, que não são reconhecíveis. A tensão é grande demais para concentrarem-se em coisas como palavras ou gritos.
É disparado o sinal. As porteiras se abrem e tudo começa. Ouve-se vários gritos de dor, outros gritos de incentivo. Pessoas se empurram, trocam socos, pontapés, e golpes de diferentes artes marciais. Outras pessoas caem e são pisoteadas por outras pessoas, sem o menor sinal de piedade. Só o que sobra é uma cortina de poeira, com um pouco de sangue pelo chão junto a outros objetos destruídos.
O cenário que descreveria bem um combate medieval tem outro palco: A Estação Terminal Brás.
A luta descrita acontece, em maior e menor intensidade, dezenas de vezes ao longo do dia. E antigamente era pior. Atualmente pode-se considerar a estação “organizada”. Aliás, os trens da CPTM tem um dos ecossistemas mais equilibrados e diversos de toda a cidade. Mas afinal, por que tamanho desespero para embarcar? Entre varias teorias, a resposta mais convincente parece ser a seguinte: Lá você pode encontrar de tudo. Literalmente.
Sobre os trilhos funciona um dos melhores e mais variados shoppings da cidade. Entre outros exemplos, é possível comprar canetas e outros materiais escolares, DVD’s de filmes de jogos de PS2, livros, passatempos, escovas de cabelo e escovas de dente (essas já vem com a pasta), chocolates de todos as marcas, salgadinhos, bebidas (desde bebida alcoólica a água, passando por refrigerantes, sempre gelados), sorvetes, balas feitas de ervas milagrosas que curam uma centena de doenças, drogas, gaitas (sim, os instrumentos musicais)...
Tudo por 1/3 do preço cobrado “lá fora”, como gostam de se gabar os vendedores.
Cansado da sua vida de trabalho e sua remuneração abaixo do que você acha que merece? Problemas familiares? Problemas de saúde? Desilusões amorosas? Venha para o trem! Por que aqui também funciona uma igreja evangélica. Sim amigos. Tão logo o trem começa a andar, as orações se iniciam. E ninguém se importa se você crê em deus, no Tinhoso, Buda, Zeus ou no Pelé. Eles pregam para todos os presentes. E fazem questão de que todos os ouçam, com seus gritos poderosos e suas maldições (sim, eles passam a maior parte do tempo do seu culto amaldiçoando uma infinidade de coisas, ao invés de falar coisas boas). Quem está no vagão imediatamente ao lado, pode facilmente confundir o culto com um show de rock.
Vocês, jovens, tendem a não acreditar, mas antigamente existia também o “Vagão da Caipirinha”. O nome diz tudo: Você entrava no vagão, e uma garrafa de caipirinha (que só Deus sabe de onde vinha) rodava pelo vagão, passando de mão em mão. Ou melhor, de boca em boca. Hoje em dia ele evoluiu e se tornou o que conhecem como o “Vagão da Maconha”. Esse vocês conhecem, certo? E ainda não acreditam no vagão da capirinha...
E há o Cassino’s Railways. Um vagão onde você pode testar a sorte, com todo o tipo de apostas e jogos de azar.
Entre os passageiros também há uma grande variedade. Desde velocistas (as portas do trem mal abriram, e eles já estão no topo das escadas que dão acesso as saídas até os trio-elétricos, que andam com seus celulares tocando musica (de péssimo gosto), no ultimo volume, passando pelos Big Brothers, que contam a vida inteira para o seu amigo, num tom em que até o maquinista ouve e chegando aos sonolentos, que mal entrara no trem e já estão distribuindo seus bocejos, prontos para apagar e milagrosamente acordar 3 minutos antes do seu destino.
E como em qualquer ambiente, existem os vilões. Destacam-se os ninjas, prontos a pegar qualquer objeto na menor vacilada da pessoa ao lado.
Existem ainda os aventureiros. Penduram-se nas janelas do trem, e lá permanecem por toda a viagem, como se voassem. Espécie em extinção desde a modernização dos trens, que tornou impossível a pratica de abrir a porta com o trem em movimento e viajar pendurado lá.
E claro que num ambiente como esse, existem os tarados. “Se o senhor encostar em mim mais uma vez, eu vou meter a mão na sua cara!”. Frase típica. Muitas vezes o cidadão até é inocente: A mão dele só foi parar lá, por que não tinha outro espaço físico para ela ir. Porém, até provar que Jesus não é Jenésio...
Falando em falta de espaço, o trem ainda estimula a união, a fraternidade entre os povos. Lá, as pessoas viajam todas abraçadas, embora não se conheçam, embora suas aparências e até mesmo seus odores não estejam exatamente agradáveis. Um antro de calor humano. 6 pessoas estranhas se abraçando num espaço de 1m². Onde mais você verá isso?
O lado bom é que hoje em dia os trens estão inteiros. Antigamente, eles nao tinham janelas. As portas mal se fechavam e o chão era remendado com pedaços de madeira (!).
Entende agora? Quem não tem vontade de participar de um ambiente onde você pode comprar tudo, por um precinho camarada. Onde todos se amam. Onde existem pessoas com personalidades tão definidas e curiosas. Onde você pode ouvir uma doce e calma gritaria, depois de um dia estressante de trabalho?
Para entrar num paraíso desses, a batalha descrita no inicio do texto faz todo o sentido...
É disparado o sinal. As porteiras se abrem e tudo começa. Ouve-se vários gritos de dor, outros gritos de incentivo. Pessoas se empurram, trocam socos, pontapés, e golpes de diferentes artes marciais. Outras pessoas caem e são pisoteadas por outras pessoas, sem o menor sinal de piedade. Só o que sobra é uma cortina de poeira, com um pouco de sangue pelo chão junto a outros objetos destruídos.
O cenário que descreveria bem um combate medieval tem outro palco: A Estação Terminal Brás.
A luta descrita acontece, em maior e menor intensidade, dezenas de vezes ao longo do dia. E antigamente era pior. Atualmente pode-se considerar a estação “organizada”. Aliás, os trens da CPTM tem um dos ecossistemas mais equilibrados e diversos de toda a cidade. Mas afinal, por que tamanho desespero para embarcar? Entre varias teorias, a resposta mais convincente parece ser a seguinte: Lá você pode encontrar de tudo. Literalmente.
Sobre os trilhos funciona um dos melhores e mais variados shoppings da cidade. Entre outros exemplos, é possível comprar canetas e outros materiais escolares, DVD’s de filmes de jogos de PS2, livros, passatempos, escovas de cabelo e escovas de dente (essas já vem com a pasta), chocolates de todos as marcas, salgadinhos, bebidas (desde bebida alcoólica a água, passando por refrigerantes, sempre gelados), sorvetes, balas feitas de ervas milagrosas que curam uma centena de doenças, drogas, gaitas (sim, os instrumentos musicais)...
Tudo por 1/3 do preço cobrado “lá fora”, como gostam de se gabar os vendedores.
Cansado da sua vida de trabalho e sua remuneração abaixo do que você acha que merece? Problemas familiares? Problemas de saúde? Desilusões amorosas? Venha para o trem! Por que aqui também funciona uma igreja evangélica. Sim amigos. Tão logo o trem começa a andar, as orações se iniciam. E ninguém se importa se você crê em deus, no Tinhoso, Buda, Zeus ou no Pelé. Eles pregam para todos os presentes. E fazem questão de que todos os ouçam, com seus gritos poderosos e suas maldições (sim, eles passam a maior parte do tempo do seu culto amaldiçoando uma infinidade de coisas, ao invés de falar coisas boas). Quem está no vagão imediatamente ao lado, pode facilmente confundir o culto com um show de rock.
Vocês, jovens, tendem a não acreditar, mas antigamente existia também o “Vagão da Caipirinha”. O nome diz tudo: Você entrava no vagão, e uma garrafa de caipirinha (que só Deus sabe de onde vinha) rodava pelo vagão, passando de mão em mão. Ou melhor, de boca em boca. Hoje em dia ele evoluiu e se tornou o que conhecem como o “Vagão da Maconha”. Esse vocês conhecem, certo? E ainda não acreditam no vagão da capirinha...
E há o Cassino’s Railways. Um vagão onde você pode testar a sorte, com todo o tipo de apostas e jogos de azar.
Entre os passageiros também há uma grande variedade. Desde velocistas (as portas do trem mal abriram, e eles já estão no topo das escadas que dão acesso as saídas até os trio-elétricos, que andam com seus celulares tocando musica (de péssimo gosto), no ultimo volume, passando pelos Big Brothers, que contam a vida inteira para o seu amigo, num tom em que até o maquinista ouve e chegando aos sonolentos, que mal entrara no trem e já estão distribuindo seus bocejos, prontos para apagar e milagrosamente acordar 3 minutos antes do seu destino.
E como em qualquer ambiente, existem os vilões. Destacam-se os ninjas, prontos a pegar qualquer objeto na menor vacilada da pessoa ao lado.
Existem ainda os aventureiros. Penduram-se nas janelas do trem, e lá permanecem por toda a viagem, como se voassem. Espécie em extinção desde a modernização dos trens, que tornou impossível a pratica de abrir a porta com o trem em movimento e viajar pendurado lá.
E claro que num ambiente como esse, existem os tarados. “Se o senhor encostar em mim mais uma vez, eu vou meter a mão na sua cara!”. Frase típica. Muitas vezes o cidadão até é inocente: A mão dele só foi parar lá, por que não tinha outro espaço físico para ela ir. Porém, até provar que Jesus não é Jenésio...
Falando em falta de espaço, o trem ainda estimula a união, a fraternidade entre os povos. Lá, as pessoas viajam todas abraçadas, embora não se conheçam, embora suas aparências e até mesmo seus odores não estejam exatamente agradáveis. Um antro de calor humano. 6 pessoas estranhas se abraçando num espaço de 1m². Onde mais você verá isso?
O lado bom é que hoje em dia os trens estão inteiros. Antigamente, eles nao tinham janelas. As portas mal se fechavam e o chão era remendado com pedaços de madeira (!).
Entende agora? Quem não tem vontade de participar de um ambiente onde você pode comprar tudo, por um precinho camarada. Onde todos se amam. Onde existem pessoas com personalidades tão definidas e curiosas. Onde você pode ouvir uma doce e calma gritaria, depois de um dia estressante de trabalho?
Para entrar num paraíso desses, a batalha descrita no inicio do texto faz todo o sentido...
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