domingo, 20 de junho de 2010

A melhor atração do parque


    -Onde você pensa que está indo?
    - Eu não sei. Mas eu vou lá.
    -Por que? É perigoso lá fora!
    - Por que são os meus amigos lá, e eu tenho que ajuda-los!


O dialogo, exagerado e clichê, típico de cena de cinema, dessa vez, foi real. Aconteceu, aconteceu comigo, e talvez não tenha sido tão exagerado assim. Foi quando fui para a guerra, mas não uma guerra de comida, tão pouco servindo o exército ou combatendo uma guerrilha. E sim, uma guerra num parque de diversões...


Corria o ano de 2007. E eu corria junto. Meu ultimo ano na escola, e como tal, era óbvio que eu teria que aproveitar, de todas as formas. Toda e qualquer festa, evento, trabalho, qualquer motivo para estar entre os companheiros de sala era motivo pra sala toda, ou pelo menos aqueles que não eram do contra, reunirem-se. E claro, as excursões aquele ano eram um sucesso. Pelo menos entre eu e meus amigos. Estávamos em todas. Quem diria, funkeiros, rappers e metaleiros, assistindo uma apresentação da orquestra na Sala São Paulo. Ou que nos tornaríamos aliados dos professores, por sermos os únicos “alunos grandes” no ônibus que foi para o Zoológico, ajudando a conter os ânimos da molecada. Enfim, onde havia um ônibus de excursão, lá estávamos nós.


E naquele dia, para o Playcenter, o famoso parque nas margens do rio Tietê, não foi diferente. E lá fomos nós.
Ao chegar, fomos recebidos com uma frase no minimo peculiar.

Putz, Nanci? Essa escola só dá problema!

O segurança falou isso. Eu ouvi. Mas dei risada. “Que exagerado”, pensei. Já havíamos brigado em outra oportunidade, mas nada demais, briguinha a toa, que nem porrada teve. Ele não esperava o que estaria por vir... Nem eu.

O dia transcorreu sem nada demais. Tirando que um aluno não conseguiu entrar no parque (ele bebeu demais dentro do ônibus, e os seguranças não deixaram ele entrar embriagado...), e que choveu um pouco ao longo da tarde fazendo o parque parar por um tempo, nada mais aconteceu de fora do normal.

O problema foi a hora de voltar.

Estacionamento do Playcenter, na hora de ir embora, é sempre uma confusão. Fumaça de ônibus fedorentos, muitos alunos andando com cara de “Onde é que estava o ônibus mesmo?”, outros desesperados afim de não sair do parque sem ter beijado ninguém, tentando ficar com qualquer pessoa que passe...
O clima lembra uma mistura da saída de estádios de futebol com a saída de uma balada. Ou seja, é um pouco confuso.

Não me pergunte por que começou. Eu não faço a menor idéia. Só sei que começou. Dizem que foi por causa de garotas, ou por um desentendimento que começou dentro do parque, na fila de um brinquedo. O motivo não importa. A briga começou entre alguém da minha escola, e outros de uma outra escola. Esses, em maior número, bateram nesse cara da minha escola, que estava sozinho. Esse, por sua vez, chamou os amigos dele, da minha escola. E em maior número, bateram nos da outra escola... Que por sua vez, chamaram reforços.


Em pouco tempo, quase a população masculina inteira de ambas as escolas estavam envolvidos na confusão. E isso incluía eu. Por mais que tivesse sido alertado para não sair, no dialogo descrito no começo do texto, entre eu e minha melhor amiga, eu fui. Nunca fui de fugir de brigas, nem de abandonar amigos. Fazer as duas coisas ao mesmo tempo? Nem pensar.

O problema, foi que a confusão ficou grande demais, e isso atraiu os seguranças do parque. Que chegaram bem na hora que o quebra pau começou. Tornou-se então uma batalha de três frentes: Nós, a outra escola, e os seguranças. Só não valia bater em rosto conhecido. De resto...

E isso atiçou todo mundo. Descontrolados, os outros ônibus, das outras escolas que não tinham nada a ver com a história, foram evacuados. Os alunos saiam, alguns para “brincar” na confusão, outros para procurar seus amigos perdidos, outros simplesmente sem saber por que. E a confusão chegou a um ponto impossível de controlar.

Meninos, meninas, professores. Todos lá fora. Todos corriam, gritavam, batiam e apanhavam. E tudo parecia uma grande festa, visto a quantidade de pessoas sorrindo. Os seguranças eram os grandes alvos. Grupos de alunos cercavam os pobres trabalhadores e o pau quebrava. Porém, quando um segurança pegava um aluno...

A coisa foi feia. Muito feia. Chegou até a sair do estacionamento, muitos brigaram na rua. Demorou uns 15 minutos pros ânimos se acalmarem. Todo esse tempo de briga, sem parar, e nada da polícia chegar... Aliás, a polícia NÃO chegou. Acho que até a pessoa encarregada de chamá-los devia estar na briga. Por que pelo que durou...

Pouco a pouco os alunos foram voltando aos seus ônibus, acalmando-se. A cena dos alunos entrando no ônibus da minha escola era curiosa: Todos quebrados, com hematomas, ferimentos, olhos roxos, roupa rasgada... Mas felizes, fazendo questão de mostrar seus dentes quebrados com largos sorrisos, comentando coisas do tipo “Nossa, peguei um segurança ali, dei tanta porrada” ou “Você viu aquele chute que eu dei no moleque da escola de uniforme vermelho?”. Uma coisa absurdamente selvagem, diga-se de passagem.

Curioso ainda foi a reação de certos alunos, que sempre fizeram o tipo que diz odiar policiais e esse tipo de coisa de adolescentes rebeldes da periferia, gritando um “aeeeeeee” coletivo, ao ouvir o motorista do ônibus dizer que “teremos que passar na delegacia para fazer um BO. Foi extremamente errado o que os seguranças fizeram ao agredir vocês!”. Nessa hora, todos esqueceram que “odeiam esses policiais corruptos!” e outras bobagens que eles adoram bradar. Embora no final tenham decidido não parar na delegacia.

Se fosse um hospital, talvez todos aceitassem...

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