quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

O problema das espécies invasoras

Espécies invasoras, e não Space Invaders
  Recentemente, falamos sobre clonagem de espécies extintas. No texto foi citado que, se a ideia realmente se tornar realidade, esses animais jamais poderiam ser soltos na natureza, por uma série de fatores, entre eles, porque se tornariam espécies invasoras, e isso seria um problema muito grave. Por mais que o nome possa lembrar, espécies invasoras não tem nada a ver com ET's ou coisas do tipo (pelo menos por enquanto...). São ameaças bem terráqueas. E muito, muito comuns. 

Mas, afinal, o que é uma espécie invasora? Em quais situações isso se aplica? E o que faz delas tão ruins assim?

Muito basicamente: Qualquer animal, planta ou mesmo bactéria que chega a um ecossistema novo sem que esse tenha tempo de se adaptar, é considerado uma espécie invasora. Se alguém soltasse um hipopótamo na Amazônia, seria uma espécie invasora de várias toneladas. Enfim, nessa postagem, vamos conhecer algumas espécies invasoras e os motivos pelas quais elas são consideradas pragas.

O equilíbrio.

A vida obedece um equilíbrio bem definido. Por mais que nós, seres humanos, geralmente não respeitemos isso, a natureza se desenvolveu de forma a obedecer um equilíbrio muito delicado, no qual todas as espécies progridem de certa forma juntas, até que alguma coisa, como uma catástrofe ou uma mudança climática mude totalmente o ambiente, forçando-os a mudar também. Uma mudança inesperada nesse contexto pode fazer todo o sistema ruir.
Rato: Típica espécie invasora

Vamos exemplificar. Suponhamos que você tenha um jardim, com um pequeno lago. E nesse lago tem um sapo. Ainda no lago, você tem alguns pequenos peixes, que comem as larvas dos mosquitos. Os mosquitos que conseguem chegar a fase adulta, são comidos pelo sapo. Mesmo assim, mosquitos botam muitos ovos, e alguns ainda sobrevivem a todas as adversidades. Esses não tem muita concorrência, tem alimento de sobra, e por isso podem botar muitos ovos, que vão alimentar seus peixes... Esse sistema vem servindo como controlador natural de insetos para você, e você não tem problemas com mosquitos e insetos em geral. Um belo dia, você teve a ideia de comprar um gato. E o gato devorou o sapo, e logo depois os peixes. Agora o seu lago é um viveiro de mosquitos, sem absolutamente nada para controlar a população deles. Com isso, não demorou para aparecer o mosquito da Dengue. E você ficou doente. E morreu.

Mosquito da Dengue: Invasor e perigoso
Claro, fui dramático e exagerado no exemplo acima, mas é mais ou menos assim que a natureza funciona: Tudo tem sua razão de ser. Plantas, animais e microorganismos vivem em um sistema equilibrado, onde um, a sua maneira, serve para garantir que os outros possam continuar existindo. O problema é quando entra algo que não estava previsto. No caso, um animal, ou planta, que não pertence a aquele sistema que evoluiu junto por milhões de anos. Ele pega todo mundo de saia justa.

Por que isso acontece, afinal?

Qual foi a vantagem do gato, no exemplo acima? Simples: Ele é um predador que evoluiu separado dos outros animais do sistema onde ele chegou. Nenhum dos outros animais tinha uma defesa contra o gato. O sapo não tinha veneno. Os peixes não tinham medo de chegar perto da margem do lago. Ou seja, o gato tinha um banquete ao seu dispor. E isso pode funcionar em qualquer esfera do ecossistema: Podia ser uma planta nova que começa a crescer e se reproduzir muito rápido, deixando as outras sem espaço e sem nutrientes na terra. Ou um inseto que come muitas folhas de uma espécie de planta que não tem defesa alguma. Ou uma bactéria cujo as defesas dos animais não tenham proteção, que acaba por dizimar toda uma população...

Caramujo Africano: Invasor virou uma praga
Enfim, os exemplos são quase infinitos. E entre os exemplos, certamente entraria um animal extinto que foi reintroduzido ao seu habitat depois de milhares de anos: Se, por exemplo, o Tigre Dentes de Sabre fosse reintroduzido nas selvas da América, será que os quatis, capivaras e outros animais teriam alguma chance contra esse novo predador? Será que eles não poderiam comer e se reproduzir livremente, o quanto quisessem, sem ter quaisquer dificuldade, aumentando ainda mais o ciclo de devastação das suas novas presas indefesas? E o que sobraria para as onças, jacarés e jibóias? Deve-se levar em con que essa situação, no entanto, pode não se aplicar a extinções recentes, como o Lobo da Tasmânia: Esse foi extinto a tão pouco tempo, que nenhum animal ocupou seu lugar na cadeia alimentar ainda, ou seja, ele poderia voltar, sem maiores estragos.

Entende o problema? Bem, o problema maior é que, com excessão das espécies extintas, esse quadro não é só suposição: Espécies invasoras são a segunda maior responsável pela extinção de animais e plantas na atualidade, perdendo apenas para o desmatamento.

E advinha só de quem é a culpa...

Espécies invasoras se tornaram cada vez mais comuns no mundo, por um motivo simples: Humanos e sua globalização. Ratos puderam atingir todos os continentes a bordo de embarcações. Cães e gatos, idem. Bactérias e vírus novos pegaram os índios de surpresa quando os exploradores europeus chegaram à América, e doenças que eram inofensivas para as pessoas do velho mundo, mataram milhões de nativos... E assim por diante, com milhares de espécies que, querendo ou não, acabam causando um prejuízo inestimável a fauna e flora de locais onde eles simplesmente não deveriam estar.

Graças aos humanos, o Caramujo Africano se tornou uma das maiores pestes do Brasil. Esse animal foi trazido da África para Santos, por um sujeito que pretendia vendê-los para os restaurantes como alternativas ao Escargot. Não deu certo, e ele soltou os 15 caramujos que trouxe consigo, numa mata. Hoje o animal é extremamente comum em todo o litoral brasileiro, além de zonas mais interioranas... E é considerado uma grande praga, que compete com espécies nativas por alimento, transmite doenças a animais e humanos e estraga plantações, entre outros males a fauna e flora brasileiros. O Ibama, inclusive, encoraja que as pessoas matem esses animais, tão logo os avistem... O mesmo acontece com os Javalis, que só estão presentes na fauna do Rio Grande do Sul e Uruguai devido a acidentes, e os órgãos responsáveis esperam erradicá-los tão logo quanto possível...
Dique de castores na terra do fogo.

Pode-se dizer o mesmo com relação aos Castores na Terra do Fogo: O que eram para ser 25 casais que seriam usados para a industria de peles, acabou virando uma praga que dominou todos os rios e lagos da região... Hoje em dia, o governo da Argentina até incentiva que as pessoas façam churrasco desse animal, para ajudar no controle...

E não somos apenas transportadores...

Os humanos, aliás, além de principal transportador, também já foram uma espécie invasora, que destruiu centenas de ecossistemas. E nem estou falando das imensas florestas que derrubamos para construir cidades. Isso também. Estou falando de muito tempo antes, quando nossa tecnologia se resumia a lanças e fogueiras. Os humanos eram nômades, naquele tempo. E de alguma forma, saíram da África e conquistaram todos os cantos do globo. Deixando um rastro de destruição pelo caminho...
Javali: Espécie causa desequilíbrio no RS

Entre outros: Tigres Dentes de Sabre, Mamutes, Leões Europeus, Preguiças Gigantes, Tatus Gigantes e até mesmo criaturas “quase humanas”, como o homem de Neanderthal, estão na lista de animais que não resistiram a chegada do homem, quando esta espécie , ainda nos seus primórdios, invadiu seus habitats.

Enfim, é assim que funcionam as espécies invasoras. É por isso que elas são um dos maiores problemas ambientais da atualidade. Resta as pessoas conscientizarem-se e não soltarem seus animaizinhos em qualquer lugar (nada de dar a descarga nos seus jacarés, ok?). Esse é um problema ambiental seriíssimo que raramente ganha atenção da mídia. Uma pena. Porque esse é o tipico problema que poderia ser amenizado simplesmente com um pouco mais de acesso as informações. Muita gente solta os animais na natureza pensando que eles são inofensivos e que estarão de volta ao seu habitat. E é ai que mora o perigo...  

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