segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Revivendo animais extintos com a ajuda da tecnologia

  Desde que Steven Spielberg transformou o livro “O Parque dos Dinossauros” em um mega-sucesso dos cinemas, o assunto, vez por outra, vem a tona: Clonagem de espécies extintas.

Como seria se a ciência pudesse recriar animais que já não existem mais, ainda que não fossem dinossauros, e sim animais mais recentes mas igualmente curiosos, como mamutes ou tigres-dentes-de-sabre? Como seria ir a um zoológico, ou, pegando carona no filme, um parque temático e encontrar esse tipo de criaturas, vivas, e não apenas empalhadas num museu?

E para a ciência, como seria bom poder estudar esses animais vivos, e não apenas supor os seus hábitos com base em fósseis... Pena que tudo isso fica apenas na imaginação e nos livros e filmes de ficção científica. Ou não? Bem, talvez não... O tempo passou e isso já não é mais tão ficção assim. Talvez seja uma questão de tempo. Ou de sorte. Ou de dinheiro. Ou de vontade. Não acredita? Vamos conversar um pouco, para entendermos o que impede (ou não) a ciência atual de providenciar o retorno desses animas?


Como funciona o bagulho?

A ideia de recriar espécies extintas baseia-se nas técnicas modernas de clonagem. Ou seja, o animal “novo” seria, na verdade, um clone de algum animal que já viveu no planeta terra, milhares de anos atrás, utilizando um processo muito parecido com o que foi usado na Ovelha Dolly. A questão que a grande diferença entre recriar uma enorme preguiça gigante e uma simpática ovelhinha nos apresenta é apenas uma: Onde encontrar as amostras do seu DNA? No caso da ovelha é fácil: Só escolher algum rebanho de ovelhas, em alguma fazenda, e pronto, você DNA até não querer mais. No caso de animais extintos é que mora o problema: Onde encontrar?

Do gelo viemos, e do gelo retornaremos?

DNA é algo muito complicado de ser preservado durante muito tempo. Só existem, no caso, duas esperanças: A primeira e mais normalmente citada é encontrar o animal congelado, já que o frio extremo de uma camada de gelo pode conserva-lo. A segunda é encontra-lo num lugar extremamente seco, já que a falta de humidade também pode causar o mesmo efeito.

Com isso em mente, a cada nova carcaça de mamute congelado que é encontrada (e algumas estão absurdamente bem preservadas) as esperanças dos entusiastas da técnica aumentam. Porém, até agora, ainda não foi encontrado uma única amostra de DNA realmente bem preservada de mamutes ou quaisquer outro animal. Em laboratório, cientistas podem manter amostras de DNA preservadas a baixas temperaturas por tempo indefinido. Mas na natureza isso não acontece com facilidade: O gelo pode até preservar a carcaça perfeitamente bem, mas isso não garante a estrutura do DNA, já que essa pode ser afetada por inúmeros fatores, como microorganismos, por exemplo.

Nesse caso, mão na massa!

Atualmente os cientistas trabalham para, na falta de um DNA original, ao menos sequenciar os genes do mamute, com base nas amostras fragmentadas que eles tem, usando o DNA do parente vivo mais próximo do mamute, no caso, o elefante, como “mapa”. Calcula-se que os genes de ambos os animais diferenciem-se em “apenas” 40 mil pontos. Na prática, um mamute e um elefante tem 95% de semelhança genética, o que é algo ótimo para deixar os cientistas otimistas quanto a possibilidade de recriar com sucesso o código genético do animal extinto, ou, no mínimo, de criar um animal hibrido, ou seja, com características de ambas as espécies.

As pesquisas nesse sentido estão avançando cada vez mais rápido, não apenas com relação a mamutes: Lobos-da-tasmânia, Tigres-dentes-de-sabre e até, pasme, Homens de Neanderthal, entre outras espécies extintas estão na pauta dos cientistas, e parece ser questão de tempo (e investimento) para que resultados mais expressivos apareçam....

Mas, não está faltando nada?

imagine um mamute no lugar do filhote elefantinho...
Uma vez que os cientistas tenham o DNA, o problema está resolvido e é só correr para o abraço, certo? Errado. Ainda tem alguns problemas, como por exemplo a questão dos cromossomos, e outros detalhes técnicos. E, você deve estar pensando, o problema lógico: Quem vai ser a mãe do “novo-velho” animal? Isso é teoricamente mais simples do que parece: Uma fêmea de elefante pode dar a luz a um bebê mamute, pelo menos teoricamente. Embora existam certos códigos genéticos que garantam o funcionamento exato de uma gestação em cada animal, técnicas similares já foram usadas em outros animais e até hoje não se teve grandes problemas com isso... Ou seja, basta realmente encontrar uma barriga de aluguel.

Alternativas

Além da manipulação de técnicas de clonagem e tecnologia genética, ainda há outra opção para trazer de volta alguns animais extintos mais recentemente: Seleção artificial. Como assim? Basicamente, a ideia consiste em cruzar animais que tenham algum parentesco extremamente próximo de algum animal extinto, até que venha a nascer um representante legítimo (ou quase) da espécie desejada. Ou seja, escolhem uma espécie de animal que tenha os genes desejados, e fazem com que cruzem entre si. Depois, isolam os filhos desses e fazem com que cruzem entre si, e assim por diante.

Essa técnica, obviamente, só funciona com animais que tenham sido extintos à pouco tempo, e sejam sub-espécies de algum animal vivo, de forma que tenha sido possível que ambos tenham gerado descendentes férteis.

Quagga
Então é preciso identificar uma população que tenha, de fato, genes do animal que se deseja e ter paciência. Muita paciência. Já que os resultados vão depender de algumas gerações. Entretanto, essa técnica exige menos investimento com tecnologia de ponta, tem menos complicações e já demonstra seus primeiros resultados concretos.

Exemplos de animais onde essa técnica vem sendo empregada são as Quagga's, uma espécie de equino metade Zebra, metade cavalo, que foi extinta devido as caçadas descontroladas na África, e está voltando a vida, graças a seguidos cruzamentos entre zebras que ainda traziam vestígios do código genético de seus parentes extintos. Outro animal extinto por ação humana, que pode voltar a vida no futuro graças a seleção artificial, é o Leão Europeu. Descobriu-se que uma certa população de leões africanos tem vestígios do código genético da variedade européia, e os cientistas já começaram os trabalhos para tentar trazer de volta a espécie que foi extinta alguns séculos atras.

Mais problemas?

Existem ainda outros pormenores envolvidos nesse assunto. Todos, no entanto, podem ser superados com os avanços tecnológicos. Um dos mais relevantes é que ainda há problemas com as técnicas de clonagem: Estimativas apontam que apenas 1 em cada 100 fetos realmente chega a nascer, sendo que estes costumam ser suscetíveis a doenças, além de outros problemas, e viverem pouco.

Lobo da Tasmânia
Mas isso o tempo e o avanço nas técnicas de clonagem pode, e provavelmente irá, resolver. Há outro problema evidente, no entanto, esse relacionado a própria moral e os costumes das pessoas... Questões éticas.

Pouca gente questiona que é legal clonar animais, como o Panda ou o Gorila, que estão para ser extintos por culpa dos próprios humanos, se a intenção for salva-los de desaparecer da face da terra. Talvez, trazer de volta animais como o Dodo ou os Lobos da Tazmânia, que comprovadamente foram extintos por nossa causa, não seja algo tão éticamente controverso assim. Porém, e quanto as espécies extintas por causas naturais, como por exemplo, os Tigres-dentes-de-sabre (embora haja quem acredite que mesmo eles foram extintos por ação humana)?

O grande problema é que reintegrar esses animais na natureza certamente causaria um enorme desastre ambiental, já que estas espécies não foram capazes de se adaptar por um motivo ou por outro, e o seu lugar no delicado equilíbrio ecológico foi ocupado por outro animal. Simplesmente colocar de volta um animal em um sistema, totalmente novo e diferente do original onde ele vivia, quebraria toda a cadeia alimentar. Será que as onças poderiam sobreviver a concorrência de tigres-dentes-de-sabre? Ou pior: Será que os animais herbívoros estariam adaptados para enfrentar esse predador? Esse é apenas um exemplo. Qualquer espécie invasora, por mais inofensiva que pareça, pode causar um sério problema. Não vou me alongar muito nisso aqui, mas podem esperar uma postagem detalhada sobre o tema.
Mesmo que a ideia não seja soltá-los na natureza, e sim apenas estudá-los, ainda esbarra em questões éticas. Mamutes por exemplo eram animais sociáveis. Não seria fácil recriar um único mamute, quanto mais uma manada. Ou seja, o animal teria que viver enjaulado, completamente sozinho, sendo o único de sua espécie, apenas para fins científicos, quando não comerciais... E isso não é tratamento que se dispense a um ser vivo, convenhamos.


Ou mesmo o homem de Neanderthal. O buraco com relação a esse é ainda mais embaixo, já que estamos falando de uma “variação” de ser humano que não existe mais. Outra raça, mas ainda assim, essencialmente, humano. Já consegue ver as complicações que ter um indivíduo desses entre nós poderia causar, envolvendo temas como racismo, religião ou outros dos mais variados?


Tigre Dentes de Sabre
Enfim, é bom nos prepararmos. Ter um animal único que foi extinto 4 mil anos atrás poderia tornar qualquer zoológico uma mina de ouro. E todos sabemos a influência que o dinheiro tem sobre a nossa sociedade. Infelizmente, poucas questões éticas são fortes o bastante para resistirem a um bom incentivo financeiro. Além disso, existe o outro lado da moeda, o que diz respeito a corrigir erros do passado, trazendo espécies que nós destruímos, como o pássaro Dodô, de volta a vida.

Com isso em mente, parece cada vez mais ser apenas questão de tempo para que a ficção dos anos 90 se torne realidade, diante dos nosso olhos. Pouquíssimo tempo...

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