domingo, 25 de setembro de 2011

Domesticação


  Você tem um animal de estimação? Um gato? Um cachorro? Um cavalo? Uma galinha? Uma iguana? Uma capivara? Uma tarantula?
Quem tem um animal, seja lá qual for, sabe bem como eles são capazes de mudar significativamente as nossas vidas, mesmo que muitas vezes, hajam como se fossem completamente indiferentes a nós.

Mas não é de hoje e nem de um passado recente que temos amiguinhos de outras espécies em nossas redes sociais. Muito pelo contrário. Aliás, muita gente ignora, mas se hoje temos cidades grandes e poderosas, é porque no passado tivemos as mãozinhas (ou as patinhas, como preferir) dos nossos amiguinhos para nos ajudar.

Mas afinal, como e por que se deu a domesticação? Quais foram os primeiros animais a serem domesticados? Por que certos animais domesticados tendem a ser tão diferentes de seus parentes selvagens? A resposta é uma só: Depende...


O primeiro amigo do homem.

O cachorro não tem apenas fama de ser o melhor amigo do homem. Ele, provavelmente, também é o mais antigo. Embora os registros mais antigos de cães domesticados tenham cerca de 14 mil anos, a ciência descobriu, pela análise de DNA, que eles foram domesticados “um pouquinho” antes disso, cerca de 100 mil anos atrás. Estima-se que nessa época a linhagem dos cães separou-se dos lobos cinzentos. Ou nem tanto: As similaridades de ambos os animais são tão grandes em termos genéticos que não há exagero em considerá-los uma única espécie. Por que o seu pinscher é tão simpático e aquele enorme lobo queria devorar a chapeuzinho vermelho se eles são a mesma espécie é uma resposta que virá a seguir, quando analisarmos as questões técnicas. Por enquanto, falemos de história.

Depois dos cachorros, os seres humanos começaram a domesticar ovelhas, gado, gatos, cavalos, camelos... E o processo nunca mais parou. Mas afinal, qual o motivo de gastarmos nossos recursos como comida, água e espaço, cuidando de animais de outras espécies?

Como cães e gatos

Lobos são excelentes caçadores. Bois são fortes, fornecem leite e carne. Cavalos são meios de transporte muito rápidos e resistentes. Pronto, respondida a pergunta: O homem domesticou os animais porque eles podiam nos ajudar a fazer muitas coisas. E os animais só se sujeitaram a isso porque também era vantajoso para eles. Aliás, nem sempre deve ter sido exatamente o homem quem deu início a essa domesticação...

Ainda no exemplo dos cães, não se sabe exatamente como eles se uniram aos humanos, mas uma das teorias mais aceitas diz que seguiu-se mais ou menos dessa forma: Alguns lobos, mais ousados, não tinham tanto medo de aproximar-se dos grupamentos humanos, atraídos por restos de alimentos. Logo, os mais mansos podiam ficar por lá mesmo, se conseguissem convencer os humanos de que não eram uma ameaça. Com o tempo, os humanos perceberam que os lobos tinham uma ótima audição, olfato, eram bons caçadores, latiam ao menor sinal de perigo... Resumindo, eram úteis pra caramba! Foi o começo de uma das parcerias mais bem sucedidas da história da humanidade...

De forma não tão diferente foi a parceria com os gatos. Bem, gatos perseguem ratos. Ratos comem cereais, frutas ou qualquer coisa que nós também comemos, e ainda trazem doenças. Povos antigos estocavam muita comida em lugares não muito bem protegidos. Logo, com os gatos por perto, haviam menos ratos por perto. Com menos ratos, mais cereais, frutas e menos doenças. Então, a menos que o gato em questão fosse tão incompetente para caçar ratos quanto o Tom, ter um gato por perto era uma ótima idéia.

E assim foi com a maioria dos animais domesticados na antiguidade: Quase todos (com raríssimas exceções) tinham alguma utilização prática para os povos que os domesticaram, seja transporte, caça, agropecuária...

Curioso notar, no entanto, que alguns dos animais tiveram que mudar muito, e outros, quase não mudaram, para tornar essa convivência pacífica. Cães mudaram de aparência e comportamento substancialmente desde que se deu a domesticação, enquanto gatos continuam com seus hábitos praticamente inalterados. Mesmo assim, um cão sempre terá no seu DNA a essência de um lobo, apesar das mudanças a que foi submetido. Submetido? Sim, submetido.

Seleção artificial.

Não só cães, como boa parte dos animais domesticados apresentam uma variação surpreendente de raças, tamanhos e cores. E essa variação toda surgiu num intervalo de tempo relativamente curto. Como? Através da chamada seleção artificial.

Seleção artificial é um processo bem parecido com a seleção natural. A grande diferença é que... Ela não é natural. Há!

Ok, isso não explica nada. Vamos por partes: Seleção artificial é um processo onde nós, humanos, vamos escolhendo a dedo as características que queremos que sejam passadas adiante, promovendo cruzamentos entre animais que tenham as características desejadas. Um exemplo: Se eu quero filhotes pequenos, eu vou escolher um casal de cães pequenos. Voltando no tempo: Se eu preciso de lobos que sejam sociáveis com os humanos, vou cruzar lobos que tenham esse comportamento. E assim com todas as características genéticas que você possa imaginar, desde a aparência ao comportamento dos bichinhos.

“Brincando” com esse sistema, os humanos criaram toda a sorte de variedades, e alguns, como os cães, ficaram absurdamente diferentes dos originais. Ou vai me dizer que seu adorável pinscher se parece muito com aquele lobo faminto e sanguinolento que come cervos no café da manhã?

Aqui cabe uma curiosidade: Fez-se um teste recentemente com raposas em laboratório, nas quais foram cruzadas seguidamente aquelas com comportamento mais dócil. Depois de algumas gerações, a surpresa: Elas começaram a nascer com orelhas caídas, com a tendência a latir e a abanar o rabinho quando estavam felizes. Soa familiar?

Cachorros não descendem de raposas, e os testes de DNA provam isso. Então o que aconteceu? Simples: Descobriu-se que os genes atrelados a comportamentos dóceis em caninos não tem apenas essa função, sendo também o responsável por esse tipo de mudanças físicas observada nas raposas, que as fez ficar parecidas com os cães, onde esses genes também exercem forte influência.

Vale ainda lembrar que o processo não é irreversível: Ocorreu em Goiás um caso curioso, em uma reserva florestal onde muitos cães costumavam ser abandonados. Graças a um processo de seleção natural, os cães com comportamento mais feroz acabaram prevalecendo. Algumas seguidas gerações e, embora ainda tenham a aparência de vira-latas, agora a reserva é habitada por uma matilha de cães que se comportam exatamente como lobos, dos quais boa parte nasceu selvagem e não tem nenhum tipo de traço de animal domesticado.

Nem tudo são rosas

Existem no entanto alguns problemas. O principal deles diz respeito, justamente, ao modo como acontece a seleção artificial: Os humanos tendem a proteger as espécies que escolhem, em detrimento das consideradas “perigosas”. E muitas vezes, chega a destruir habitats inteiros em prol da sua criação. Por exemplo: Um fazendeiro destrói todo um ecossistema para que suas vacas tenham um pasto, e não satisfeito, faz questão de matar cada onça pintada que encontrar por perto.

Outro problema é o fato de que as pessoas tendem a levar os animais consigo. E as vezes eles escapam. E ai caímos no problema das espécies invasoras, que podem ser o nêmesis de espécies nativas.

Existem muitos outros dilemas envolvendo o assunto, e podemos considerar que a domesticação tem seus pontos bons e ruins, sim. Mas o fato é que sem ela, provavelmente, a humanidade não teria chegado aonde chegou. Nossa sociedade foi construída pelo esforço de muitas pessoas, mas também, de muitas ovelhas, cães, touros, etc, etc... Portanto não se pode dar todos os créditos ao cão: Qualquer que seja seu animalzinho de estimação, pode acreditar, que ele é um dos melhores amigos do homem. Ou pelo menos, um dos seus melhores amigos. E isso é o bastante, não é?

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