terça-feira, 4 de outubro de 2011

Testemunhas


  Eu admito: Não tenho mais o que esconder. Meus sentimentos por você são claros como o mais brilhante dos raios de sol, e totalmente vã vem sendo quaisquer tentativa de esconde-los: Meu amor por ti encontra testemunhas por toda parte.

Apresenta-se, como testemunha das mais confiáveis, minha velha máquina de escrever. Amiga, pobre coitada, esquecida pela modernidade, sabe muito bem o teor das palavras que te escrevi, das cartas que redigi, das folhas que amassei e atirei longe, sem esperança de que aquelas palavras chegassem a você. A máquina, aliás, é a análoga ao sentimento: Tal como o amor, em sua forma pura como o olhar de uma criança, caiu em desuso nos tempos modernos, a boa e velha arte de escrever no papel, foi esquecida, engolida pelas malditas redes sociais, que a cada dia mais sufocam a arte de socializar. O amor, tal como o papel, foi descartados. A máquina acredita que um dia voltará a escrever lindas epopéias, e eu acredito que um dia viverei essa mesma epopéia ao seu lado. Juntos, nos entendemos.


Você talvez queira ouvir também o que minha cama tem para dizer. Ela pode dar conta de todos os meus sonhos. Das noites em que te vi, e viajei com você pelos mais lindos lugares. Ela sabe como viajamos pela galáxia, como te mostrei belezas tais quais você jamais imaginou. Ela sabe como aprendemos a voar, sustentados por asas movidas a carinho, e como nos beijamos vendo o por do sol no topo da Torre Eiffel. Sabe também como ficamos sentados a sombra de uma árvore, no jardim da minha própria casa, sem fazer nada especial, a exceção de nos olharmos nos olhos, o que fez, sim, daquele momento especial, talvez, mais do que todos os outros. E ela sabe explicar todos os meus sonhos, e como você, apenas por ser você, encheu minhas noites de uma magia chamada felicidade.

Meu rádio pode não ser capaz de dizer quantas músicas ouvi e pensei em você, pois certamente deve ter perdido a conta. Meu relógio, pelo mesmo motivo, não seria capaz de falar quantos segundos já contei para te ver. Só quem não perde a conta sou eu, que continuo contando os segundos e esperando, paciente, sem saber se um dia a hora vai chegar.

As paredes do meu quarto podem, mas não vão, te contar quantas vezes já chorei por você. São minhas confidentes. Aqui, entre elas, tudo o que eu faço é segredo. Já não é segredo, e nem vergonha, dizer que choro por você. Mas é possível que você se surpreendesse se soubesse os motivos, e a frequência.

O horizonte pode te contar quantos olhares perdi nele, com o pensamento muito além, procurando você, sempre tão distante, fora da minha cidade, longe da minha vida, dentro, no máximo, de uma tela de computador, de onde você nunca quer que eu saia. Computador, aliás, que pode te dizer o quanto a sua atenção, mesmo que por vezes praticamente forçada, quase que mendigada, faz de mim o homem mais feliz do mundo.
As estrelas podem te contar quantas noites passei sob a luz delas, sem dizer nada, e quantos vezes repeti o mesmo pedido a aquelas que cortavam a noite, cadentes. O mesmo pedido de ter você sempre ao meu lado. Se elas falarem, lembre-se de perguntar por que o meu pedido foi negado.

A Lua poderá dizer quantos poemas recitei em pensamento e não escrevi. Pode afirmar ainda que tentou, junto com o mar, as estrelas e os mais belos recifes, em uma noite quente, superar a beleza do seu sorriso. Mas não vai conseguir explicar por que não conseguiu. Nada consegue, e não precisa de explicação. Seu sorriso é mais belo que tudo, e a Lua há de concordar comigo.

As Ruas podem contar quantas vezes sai para caminhar sem rumo, sem motivo, sem destino, com o único intuito de distrair minha mente, quando você me magoou. Elas também vão te contar que conforme eu andava, sempre fui lembrando dos bons momentos com você, das boas conversas, das boas risadas, de quando te conheci, de quando te vi sorrir pela primeira vez. E, provavelmente achando graça, as Ruas vão te contar como em poucos minutos já não estava mais magoado, pelo contrário, estava ainda mais apaixonado.

O meu jardim poderá contar como eu cuido bem das rosas, esperançoso de um dia poder lhe presentear com as mais belas. Os meus olhos poderão contar que te vejo em toda parte, em tudo o que é bom. O meu coração poderá te confortar nos braços de um amor como você jamais teve. E não precisará contar mais nada, pois te fará entender tudo.

Tudo o que palavras, sejam elas ditas, escritas em um computador, em uma máquina de escrever, no azul do céu, com o brilho das estrelas ou nas profundezas do mar, jamais te farão entender. Talvez um beijo faça. Um beijo que você provavelmente nunca me dará. Mas que eu sempre vou esperar. Porque o seu carinho é minha razão de viver, mesmo que ele não passe de uma ilusão, alimentada pelos meus sonhos e descarregada nesses textos.

Sem que você veja. De tantas testemunhas que o meu amor tem, a mais importante dá de ombros, finge não ver, ou vê, e finge não acreditar, acreditar que eu te amo.

Apesar de tantas testemunhas. Silenciosas. Do meu enorme, silencioso, e maravilhoso, amor por você...  

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