quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Koko, a Gorila falante!



Homens primatas, bem vindos (depois de uma generosa folga) a mais uma postagem do blog.

Nessa, vamos abordar uma faceta curiosa do assunto linguagem. Os filmes sempre relatam extraterrestres bastante fluentes em inglês (muito mais do que eu, que pelo menos acredito ser um terráqueo). Eles atravessam as galáxias e aparentemente fazem um intensivão no caminho, para chegaram aqui apenas puxando um “r” ou algo assim, nada muito distante do que um Alemão faria ao chegar aos EUA depois de um cursinho de inglês online e alguns anos jogando videogame. Enquanto isso, aqui na Terra, além dos seres humanos, muitas outras espécies tem suas próprias linguagens, algumas bem complexas, como a dos golfinhos. Aparentemente, mesmo entre os símios não somos os únicos que gostam de uma boa prosa, ou mais ou menos isso. Mas, exceto em um nível bem elementar que muitas vezes não passa de condicionamento (seu cachorro sabe o nome dele, ou apenas aprendeu a reagir de acordo com aquele tom de voz para ganhar uns biscoitos?), e de forma diferente dos avançados ET’s do cinema, ainda estamos empacados na barreira do “como” – Como nos comunicar, de fato, com outras espécies?

Bom, talvez alguns cientistas tenham encontrado, no melhor estilo Holywood, uma solução. Alguma vez, no zoológico, já te passou pela cabeça a idéia de se comunicar com um gorila utilizando linguagem de sinais? Teve gente que pensou nisso... E afirmam que funcionou!

Do you speak english?

Em 1971, nascia no zoológico de São Francisco, nos EUA, Koko, uma gorila fêmea que atualmente mora no Havaí (por incrível que pareça, Koko é abreviação de “Hanabiko”, que em japonês significa algo como “fogos de artifício”). Koko no entanto ficou famosa não por ter um temperamento explosivo como seu nome sugere, ou por ser uma legitima moradora da costa oeste estadunidense e ter se tornado uma surfista ou coisa do tipo, e sim, por sua habilidade de se comunicar num inglês bem mais fluente que o meu, por exemplo. Ela é capaz de utilizar milhares de sinais que lhe dão um repertório de mais de 2000 palavras. Nada mal hein?

Quem afirma isso é a Doutora Francine Petterson (para os íntimos, como nós, ela atende por Doutora Penny). Penny vem treinando Koko desde que ela tinha apenas um ano de idade, e alega ter criado uma versão modificada da linguagem americana de sinais, que ela apelidou de “Linguagem Gorileana de Sinais”, e serve para que esses parentes próximos da humanidade consigam bater um papo conosco. Os resultados, a primeira vista, impressionam.

A bem da verdade, impressionam, mas não convencem todo mundo. Algumas pesquisas sugerem que Koko na verdade não entende o significado do que ela “diz”, e apenas aprendeu a repetir os gestos pois os treinadores lhe dão docinhos e coisas do tipo quando ela faz isso. Penny no entanto está convencida justamente do contrário: Ela afirma que Koko quase sempre “fala” sem esperar nada em troca. É um fato que as vezes Koko emenda uma sequencia de sinais fantástica, formando frases bastante complexas. E é outro fato que muitas vezes Koko fala, fala e não diz absolutamente nada compreensível, o que faz com que os céticos afirmem que quando ela “acerta”, não está acontecendo nada além de uma coincidência. Um fato é que, embora Koko apareça bastante na mídia, poucos estudos científicos foram realizados até hoje sobre ela, o que deixa aberta a dúvida sobre esse suposto símio poliglota. Capaz de falar ou não, Koko tem muita história pra contar. Por via das dúvidas, conto eu, então...

Macacos me mordam!

Para Penny e sua equipe, Koko não é apenas muito boa com as palavras que ela aprendeu. Ela é capaz até mesmo de criar suas próprias palavras, como teria acontecido quando a gorila queria “comentar” sobre o anel de uma visitante. Ninguém havia ensinado a ela como dizer “anel”, então Koko teve que procurar uma solução: Juntou as palavras que ela conhecia, “bracelete” e “dedo”, e formou a palavra “bracelete de dedo”. Problema resolvido. Essa não teria sido a primeira e nem a última vez que ela fez algo assim.

Koko, aliás, poderia muito bem conceder uma entrevista a esse humilde blog qualquer dia, porque não? Ela já participou de um chat, na internet, promovido pela equipe da AOL...

E Koko gosta de bichinhos de estimação. Gatos, para ser mais preciso. Koko é um dos poucos casos documentados de criaturas não humanas que tem animais de estimação no sentido mais puro do termo. E é ela quem escolhe o nome dos bichanos. Mais do que isso: Segundo Penny, Koko foi que pediu para ter um gatinho, em primeiro lugar. Koko escolheu um gato da raça Manx, uma raça de gatos sem rabo, o batizou como “All Ball”, e cuidou dele como se fosse um bebê gorila até que o pobre gatinho morresse atropelado por um carro. Sobre o ocorrido, Koko “declarou” que era “Ruim, Triste!” e que iria “Fazer cara feia e chorar”. Koko ganhou outros gatinhos depois disso, todos Manxes, e sempre cuidou deles com muita dedicação.
Arrumando um namorado

Koko conviveu com muitos anos com Michael, outro gorila que teria aprendido cerca de 600 palavras apenas em seu convívio com Koko, sem um treinamento específico. Michael morreu em 2000, não sem antes deixar os pesquisadores com uma pulga atrás da orelha. Diferente de Koko, ele não nasceu em cativeiro e acredita-se que ele teria testemunhado a cena da sua mãe sendo morta por caçadores. Em algumas oportunidades, ele realmente parecia querer dizer algo assim, embora sem muita clareza.
Seria um verdadeiro sonho para os pesquisadores que Koko e Michael tivessem filhotes e os ensinassem a linguagem de sinais. Mas isso não aconteceu, os dois nunca demonstraram muito interesse um no outro. Não rolou.

Para por em prática o plano de dar a Koko um herdeiro, já tentaram de tudo. Achou legal que Koko tenha entrado num chat online? Isso não é nada: Koko até procurou um namorado pela internet. Ok, não foi exatamente isso, mas a idéia não foge muito do que são os “Badoo” da vida de hoje em dia: Mostraram uma porção de fotos de pretendentes a Koko, e ela escolheu o que mais lhe chamou a atenção. Mesmo assim, no contato pessoal, não rolou aquela química e Koko continuou invicta. Mas essa novela ainda não acabou: Ela ainda está em idade fértil, então há esperança.

Koko chegou a ser acusada, pasme, de assédio sexual a algumas empregadas do instituto onde ela reside. Supostamente, ela teria pedido insistentemente para que as empregadas mostrassem os seios. Segundo a equipe de Penny, no entanto, a confusão aconteceu apenas porque as palavras “nipple” e “people” são bem parecidas.

Planeta dos Macacos.

Como o exemplo de Michael mostra, Koko não é a única com esse tipo de habilidade. Kanzi, um bonobo treinado na Geórgia, também é capaz de “falar” através de uma técnica parecida. E estudos para interpretar a linguagem dos golfinhos estão a pleno vapor. Só para ficar em alguns exemplos.

Se um dia vamos conseguir entender plenamente o que pensam as outras espécies, não sabemos. Mas de certa forma, seria uma boa. Imaginem um golfinho falando ao mundo o que pensa sobre a depredação dos oceanos. Ou um orangotango dando sua opinião sobre um desmatamento. Imagine-os discutindo politicas publicas sobre os temas que importam a ambas as espécies. Imagine se os protetores dos direitos dos animais pudessem ser os próprios animais. Mas esse é o ponto. Se temos imaginação, e linguagem, porque não usá-las para pensar num mundo melhor?

Um comentário:

  1. Adorei o contexto!
    Ontem por um acaso achei a história de KOKO e fiquei fascinado, será possível em um futuro próximo conseguiremos nos comunicar com outras espécies?
    ¬_O texto acima é escrito de uma forma bem interessante tirando a monotonia da linguagem direta que normalmente e usada nos textos de reportagens informativas. Gostei muito de saber da existência de KOKO e sua capacidade de comunicação.
    _Minha opinião...
    Acredito que seja possível sim a comunicação com outras espécies, podemos concluir facilmente que o animal mais próximo do ser humano é o cachorro e se nos atentarmos bem, veremos que ele percebe nossos sentimentos, consegue saber exatamente quem são as pessoas de seu convívio pelo nome, quando mandamos ele ir pra fora, sabe exatamente pra onde deve ir. Coisas desse tipo. E se o objetivo da Dr Penny é ajudar a natureza através da atenção conseguida com “KOKO”, dou o maior apoio. Parabéns LOCO TALES pelo belo trabalho.
    Uma dica pra vocês expandirem é fazer mini revistas virtuais para adolescentes e jovens menos provenientes de inteligência terém informações importantes. Mas, de forma divertida de ler, como o texto do KOKO.

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