sábado, 15 de janeiro de 2011

A Supernova e os filhos das estrelas

  Nada nesse mundo é eterno. Essa frase clichê é uma das grandes verdades da vida, uma dessas coisas imutáveis e inevitáveis como a morte ou os especiais de final de ano com o Roberto Carlos.
Antes de prosseguir, vamos voltar um pouco no tempo, pro ano de 1006. Um dia, as pessoas viram uma estranha luz no céu, como nunca haviam visto antes. Essa luz permaneceu lá, dia e noite, durante 3 longos meses, em um evento nunca antes visto, porém, inegavelmente bonito.

O que as pessoas nem sonhavam é que esse era um sinal de que a máxima de que nada é eterno, se estendia também ao planeta em que vivemos: Nosso mundo está com os seus dias contados. Pelo menos o mundo em que vivemos, o planeta Terra. Isso porque o Sol, do qual dependemos tanto para viver, também está com seus dias contados: Como toda estrela, um dia ele irá morrer e levar consigo tudo o que está a sua volta.

Mas quanto tempo ainda vai demorar para o Sol morrer? Ele vai explodir? O que acontece com uma estrela depois que ela explode? O que as pessoas viram em 1006? E como isso se relaciona com a vida no Universo? Essas são as perguntas que buscaremos responder nessa postagem.


Crise de Meia Idade

Graças ao Sol a vida pôde prosperar aqui na Terra. Ele é nossa a fonte primária de energia, e foi graças a ele que nós e todas as demais formas de vida na Terra pudemos nos desenvolver. Sendo assim, pode-se dizer que as muitas civilizações pelo mundo que veneravam o Deus Sol estavam cobertas de razão: Sem ele, não estaríamos aqui.

Mas o Sol também não esteve sempre ali... O Sol, como estrela, passa por um ciclo esperado de nascimento, crescimento, até chegar na morte, de forma parecida conosco, que passamos por diferentes etapas ao longo da vida. O grande problema é que com o fim do ciclo do Sol, será também o fim de qualquer forma de vida existente nas proximidades dele, ou seja, no sistema solar. Aliás, não só no sistema solar, como em tudo o que estiver nas proximidades. E estar “nas proximidades”, quando falamos das medidas do Universo, corresponde a um espaço imensamente gigantesco, por falta de um termo melhor para definir...

O ciclo de vida do Sol algum dia o transformará em uma imensa gigante vermelha, um tipo de estrela muito maior do que o Sol é atualmente. Seu raio será tão grande, que se a Terra continuar onde está, ela seriá literalmente engolida pelo Sol. Porém, dificilmente a Terra ficará onde está, a tendência na verdade é que ela se afaste consideravelmente do Sol. Mas não o bastante para evitar esquentar de forma a tornar-se uma espécie de Vênus. Um planeta carbonizado e que jamais irá se recuperar, já que assim que o Sol completar sua fase de gigante vermelha, ele irá esfriar, tornar-se-á um tipo de estrela bem pequena e fria, conhecida como anã branca, e deixará de fornecer energia para os planetas...

Felizmente, isso ainda vai demorar muito tempo. O Sol ainda está na metade do seu ciclo de vida, e isso significa que temos cerca de 5 bilhões de anos para encontrarmos um novo lugar para morar...

A Supernova

O tema de Supernovas já foi abordado aqui no Blog, com a postagem sobre Betelgeuse, uma estrela que é, em partes, o futuro do nosso Sol: Betelgeuse é uma gigante vermelha, porém, como ela é muito mais maciça do que o Sol, partirá dessa para uma melhor de uma maneira bem mais animada e trágica do que simplesmente encolher. Estimativas dizem que em pouco tempo, talvez ainda nesse milênio, Betelgeuse cumprirá seu destino e se torna-rá uma Supernova. Mas afinal, o que é uma Supernova?

Pense em toda a energia de uma estrela gigantesca com mais de dez vezes a massa do nosso Sol. Pense agora em toda essa energia explodindo, de uma única vez, levando consigo tudo a sua volta. O brilho que essa explosão causará pode se tornar 1 bilhão de vezes maior do que o brilho original da estrela, que nos seus dias áures já era muitas e muitas vezes maior do que o nosso humilde Solzinho.

Quase toda essa energia se espalha pelo universo, sendo que os planetas e estrelas um pouco mais distantes, que não estão próximos o suficiente para serem varridos pela explosão em si, acabam bombardeados pelos destroços do que um dia foi a estrela e todo o seu sistema solar, destroços que chegam e os atingem quase que na velocidade da luz. Poeira cósmica e luz, muita luz, viajando pelo universo, para todas as direções. Essa luz viajando pelo Universo, aliás, vem servindo como “lanterna” para os astrônomos da terra poderem procurar com mais facilidade por corpos celestes que seriam invisíveis para a tecnologia atual sem essa mãozinha...

O brilho se intensifica de tal modo que mesmo uma estrela localizada à centenas de anos luz da Terra brilhará de tal forma que poderá ser confundido com uma Lua Cheia. E foi mais ou menos isso que as pessoas viram, em 1006...

Esse tipo de fenômeno só acontece em estrelas que tenham, segundo estimativas, 10 vezes a massa do nosso Sol. O nosso, depois de se tornar uma Gigante Vermelha, como já foi dito, vai esgotar suas fontes de energia, esfriar e diminuir, acabando com toda a vida que dependa de seus raios para se bronzear...


O dia que a casa caiu

Supernovas são muito raras no Universo. Provavelmente acontecem umas 3 ou 4 na nossa galaxia a cada milênio. Uma Supernova acontecer perto o suficiente daqui para que possamos vê-la com nitidez a olho nú, sem que ela nos ofereça nenhum risco, é algo ainda mais raro, apesar de termos sorte de não haver nenhuma gigante vermelha perto o suficiente da Terra para oferecer algum risco pelo menos nos últimos, e nos próximos, bilhões de anos. Sendo um evento tão raro assim, quem viu, viu. Quem não viu, dificilmente terá a chance de ver outra vez.
Representação da SN 1006 vista da Terra

Sorte tiveram as pessoas que já eram nascidas no ano de 1006 D.C.
Eles tiveram a chance de testemunhar uma verdadeira Supernova, atualmente conhecida, convenientemente, como SN 1006. Provavelmente a única vez que o ser humano pode ver o que acontece com uma estrela que acabou de explodir, embora na época ninguém fizesse idéia disso.

Segundo relatos de filósofos e astrônomos na época, o corpo celeste, que eles não sabiam exatamente o que era, passou a brilhar tanto que se tornou a terceira maior fonte de luz no céu, perdendo apenas para a Lua e o Sol.
Tinha o tamanho de um quarto da Lua, porém, emitia um brilho tão forte que quase podia rivalizar com a Lua cheia. Esse brilho era tão intenso que graças a ele era possível enxergar perfeitamente, e até ler, a noite...
O corpo celeste era visível tanto de dia quanto de noite, e ficou brilhando na intensidade máxima durante 3 meses. Depois o brilho começou a diminuir, até que depois de mais ou menos dois anos, simplesmente desapareceu.

Isso é exatamente o que acontece com toda Supernova: Ela atinge um brilho máximo no começo, e conforme toda sua energia é lançada no espaço, o brilho vai diminuindo. O que sobra é cerca de 10% da massa da estrela, o núcleo. Esse núcleo tem uma força gravitacional absurdamente forte, e começa a sugar tudo ao seu redor. Sua força é tão forte, que nem a luz consegue escapar dele. Nesse ponto, a Supernova se tornou um dos famosos Buracos Negros, que no futuro,, quem sabe, pode gerar um novo Universo. Mas isso fica para outra postagem...

Do Pó viemos, e ao Pó retornaremos.

Quando uma Supernova surge, ela contém todos os elementos existentes no Universo. Esses elementos são lançados no espaço, e viajam por milhões de anos... Um dia, esse material, esse entulho cósmico, começa a se juntar... Com a gravidade, vão se atraindo e formando corpos cada vez maiores, até que são pegos pela gravidade de alguma estrela e passam a orbita-la. Está formado um novo planeta.

Sendo assim, podemos afirmar que somos, sim, filhos das estrelas. Como dizia o célebre astrônomo Carl Seagan, nós somos feitos de estrelas. Do pó de estrelas que explodiram, à muitos bilhões de anos atrás...

O mesmo fenômeno natural que destrói mundos, cria outros. O mesmo fenômeno que pode ser um beco sem saída para a vida em um planeta como a Terra, pode ser simplesmente o início da vida em outro lugar. É assim que funciona o Universo: Nada é eterno. Mas nada se perde. Tudo apenas se renova...  

Um comentário:

  1. Sempre ouvi o termo "super nova", alias ela até aparece no jogo "Scribblenauts" mas nunca procurei do que se tratava, agora posso dizer o que é. Teu blog tambem é cultura mano!

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