No dia do professor, o blog resolveu prestar uma merecida homenagem a essa que é, sem sombra de dúvidas, uma das profissões mais importantes de toda a humanidade. Mas de forma diferente. Não falando sobre as dificuldades e as vantagens de ser professor, sobre algum professor memorável dos tempos de escola, sobre curiosidades da profissão, ou sobre qualquer outro tipo de coisas que você facilmente encontrará em centenas de outros lugares na internet.
Não. O assunto aqui será um professor, sim, mas um professor nada convencional. Ninguém mais, ninguém menos, do que Alain Prost. Profissão? Piloto. Apelido? “Professor”. Seu aluno? Um tal de Ayrton Senna...
Prost já era uma espécie de lenda em construção na F-1. Todos sabiam que ele não era simplesmente um bom piloto, mas que ele ainda tinha mais alguns anos para escrever definitivamente seu nome como um dos melhores de todos os tempos. Senna ainda era um novato. Um novato muito bom. Um novato top-driver, digamos. Faltava um título a Senna, mas todos sabiam do seu potencial. Talvez fosse tão bom quanto Prost, Nelson Piquet e Nigel Mansell, os principais pilotos da época.
Senna, Prost, Mansell e Piquet: Só fera! |
Senna, no entanto, jamais escondeu que gostaria de chegar aonde Prost chegou. De ser tão bom quanto ele. E que a oportunidade de trabalharem na mesma equipe poderia ensinar lições muito valiosas a Senna. Nascia ali o apelido mais famoso de Alain Prost: Professor.
Senna aprendeu as lições. Naquele ano, embora Prost tenha feito mais pontos no total, o regulamento previa que os piores resultados de cada piloto fossem descartados. Com isso, Senna venceu o campeonato, apenas 3 pontos a frente do Professor. Prost não parecia se importar, não no primeiro momento.
Ele sempre afirmava que Senna (cujo primeiro nome ele pronunciava “Érton”), tinha um desejo incomum pela vitória, que lembrava, inclusive, ele próprio no inicio de carreira. Prost, dizia, ainda que “o dia que o Érton acordar campeão e perceber que nada mudou na sua vida, isso vai diminuir um pouco”. Por fim, finalizava as comparações dizendo: “Eu não tenho mais nada a provar, diferente dele, que busca o primeiro título. Tenho certeza que ele mal dorme, pensando em carros o tempo todo. E eu já passei dessa fase”.
Mas não foi bem assim. Se no começo, Prost tentava parecer indiferente, tendo inclusive atuado como um aliado de Senna, dando-lhe dicas preciosas que ele levou por toda a carreira, no final da temporada as coisas se inverteram. Prost começou a sentir-se prejudicado: Insinuava que a equipe favorecia o brasileiro. Nascia uma das maiores rivalidades não apenas da história da F-1, como da história do esporte como um todo.
Em 1989, Prost se vingou. Ainda dividindo a equipe com Érton, digo, Ayrton Senna, venceu com uma bela diferença de 21 pontos. Se vingou não apenas de Senna, como da própria imprensa francesa, que havia insinuado que Prost fora “covarde” em um dos GP's do ano anterior, que ele abandonou antes do final da corrida, dizendo: “Minhas pernas são mais importantes do que um título”. Na ocasião, sob forte chuva, o carro de Prost encontrava-se com problemas técnicos e ele lutava nas posições intermediárias. Achou que, por segurança, o melhor a fazer seria parar.
Uma atitude totalmente impensável para o seu pupilo Érton / Ayrton, que na própria temporada de 1988 perdeu uma corrida que estava praticamente ganha, liderando mais de 50 segundos a frente do segundo colocado. Continuou levando o carro até o limite e acabou perdendo o controle. Senna ainda não havia aprendido com Prost as virtudes da prudência. Ainda não havia aprendido que, mesmo na F-1, as vezes não se deve ir tão rápido.
Ambos, professor e aluno, competiram até 1993. Prost encerrou a carreira com 4 títulos mundiais, enquanto Senna abreviou sua carreira prematuramente com 3 títulos. Juntos entraram para a seleta lista dos imortais da F-1.
Prost recebeu ainda outros apelidos ao longo da carreira, como “Calculista”, “O Rei do Rio” (por ter vencido 5 corridas no Rio de Janeiro) e, esta um tanto quanto deselegante, “Fast son of a bitch” (“Rápido filho da Puta”, apelido que recebeu de Nikki Lauda, outra lenda do esporte).
É Lauda, Prost realmente era rápido. Um Professor muito rápido. Senna que o diga. Frank Willians, que foi chefe de ambos os pilotos, fecha a postagem, com suas impressões sobre ambos os pilotos, em uma frase dita durante uma entrevista concedida ao portal F-1 na Web:
Posso ser tachado de herético, mas sempre suspeitei que Alain de fato tivesse uma habilidade maior. Digo isso lembrando que Ayrton ia mais ao limite do que Alain. Mas Alain nunca explorou o extremo tão consistentemente ou de maneira bem sucedida como Ayrton. Alain corria riscos calculados. Ayrton certamente examinava e então guiava, direto ao limite. Ayrton era todo coragem e pilotagem no carro. Apesar das muitas diferenças, eles também tinham semelhanças. Os dois eram pilotos muito cerebrais, grandes "pensadores". Mas as manifestações deste controle mental eram diferentes
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