Homens primatas, bem vindos (depois de uma generosa folga) a mais uma postagem do blog.
Nessa, vamos abordar uma faceta curiosa do assunto linguagem. Os filmes sempre relatam extraterrestres bastante fluentes
em inglês (muito mais do que eu, que pelo menos acredito ser um terráqueo). Eles atravessam as galáxias e aparentemente fazem um intensivão no
caminho, para chegaram aqui apenas puxando um “r” ou algo assim, nada muito
distante do que um Alemão faria ao chegar aos EUA depois de um cursinho de inglês online e alguns anos jogando videogame. Enquanto isso, aqui na
Terra, além dos seres humanos, muitas outras espécies tem suas próprias
linguagens, algumas bem complexas, como a dos golfinhos. Aparentemente, mesmo
entre os símios não somos os únicos que gostam de uma boa prosa, ou mais ou
menos isso. Mas, exceto em um nível bem elementar que muitas vezes não passa de
condicionamento (seu cachorro sabe o nome dele, ou apenas aprendeu a reagir de
acordo com aquele tom de voz para ganhar uns biscoitos?), e de forma diferente
dos avançados ET’s do cinema, ainda estamos empacados na barreira do “como” – Como nos
comunicar, de fato, com outras espécies?
Bom, talvez alguns cientistas tenham encontrado, no melhor
estilo Holywood, uma solução. Alguma vez, no zoológico, já te passou pela cabeça a idéia de
se comunicar com um gorila utilizando linguagem de sinais? Teve gente que
pensou nisso... E afirmam que funcionou!
Do you speak english?
Em 1971, nascia no zoológico de São Francisco, nos EUA,
Koko, uma gorila fêmea que atualmente mora no Havaí (por incrível que pareça,
Koko é abreviação de “Hanabiko”, que em japonês significa algo como “fogos de
artifício”). Koko no entanto ficou famosa não por ter um temperamento explosivo
como seu nome sugere, ou por ser uma legitima moradora da costa oeste
estadunidense e ter se tornado uma surfista ou coisa do tipo, e sim, por sua
habilidade de se comunicar num inglês bem mais fluente que o meu, por exemplo.
Ela é capaz de utilizar milhares de sinais que lhe dão um repertório de mais de
2000 palavras. Nada mal hein?
Quem afirma isso é a Doutora Francine Petterson (para os íntimos, como nós, ela atende por Doutora Penny). Penny vem treinando Koko desde que ela tinha
apenas um ano de idade, e alega ter criado uma versão modificada da linguagem
americana de sinais, que ela apelidou de “Linguagem Gorileana de Sinais”, e
serve para que esses parentes próximos da humanidade consigam bater um papo
conosco. Os resultados, a primeira vista, impressionam.
A bem da verdade, impressionam, mas não convencem todo
mundo. Algumas pesquisas sugerem que Koko na verdade não entende o significado
do que ela “diz”, e apenas aprendeu a repetir os gestos pois os treinadores lhe
dão docinhos e coisas do tipo quando ela faz isso. Penny no entanto está
convencida justamente do contrário: Ela afirma que Koko quase sempre “fala” sem
esperar nada em troca. É um fato que as vezes Koko emenda uma sequencia de
sinais fantástica, formando frases bastante complexas. E é outro fato que muitas
vezes Koko fala, fala e não diz absolutamente nada compreensível, o que faz com
que os céticos afirmem que quando ela “acerta”, não está acontecendo nada além
de uma coincidência. Um fato é que, embora Koko apareça bastante na mídia, poucos
estudos científicos foram realizados até hoje sobre ela, o que deixa aberta a
dúvida sobre esse suposto símio poliglota. Capaz de falar ou não, Koko tem
muita história pra contar. Por via das dúvidas, conto eu, então...
Macacos me mordam!
Para Penny e sua equipe, Koko não é apenas muito boa com as
palavras que ela aprendeu. Ela é capaz até mesmo de criar suas próprias
palavras, como teria acontecido quando a gorila queria “comentar” sobre o anel
de uma visitante. Ninguém havia ensinado a ela como dizer “anel”, então Koko
teve que procurar uma solução: Juntou as palavras que ela conhecia, “bracelete”
e “dedo”, e formou a palavra “bracelete de dedo”. Problema resolvido. Essa não
teria sido a primeira e nem a última vez que ela fez algo assim.
Koko, aliás, poderia muito bem conceder uma entrevista a esse humilde blog qualquer dia,
porque não? Ela já participou de um chat, na internet, promovido pela equipe da
AOL...
E Koko gosta de bichinhos de estimação. Gatos, para ser mais
preciso. Koko é um dos poucos casos documentados de criaturas não humanas que
tem animais de estimação no sentido mais puro do termo. E é ela quem escolhe o
nome dos bichanos. Mais do que isso: Segundo Penny, Koko foi que pediu para ter
um gatinho, em primeiro lugar. Koko escolheu um gato da raça Manx, uma raça de
gatos sem rabo, o batizou como “All Ball”, e cuidou dele como se fosse um bebê
gorila até que o pobre gatinho morresse atropelado por um carro. Sobre o
ocorrido, Koko “declarou” que era “Ruim, Triste!” e que iria “Fazer cara feia e
chorar”. Koko ganhou outros gatinhos depois disso, todos Manxes, e sempre
cuidou deles com muita dedicação.
Arrumando um namorado
Koko conviveu com muitos anos com Michael, outro gorila que
teria aprendido cerca de 600 palavras apenas em seu convívio com Koko, sem um
treinamento específico. Michael morreu em 2000, não sem antes deixar os
pesquisadores com uma pulga atrás da orelha. Diferente de Koko, ele não nasceu
em cativeiro e acredita-se que ele teria testemunhado a cena da sua mãe sendo
morta por caçadores. Em algumas oportunidades, ele realmente parecia querer
dizer algo assim, embora sem muita clareza.
Seria um verdadeiro sonho para os pesquisadores que Koko e
Michael tivessem filhotes e os ensinassem a linguagem de sinais. Mas isso não
aconteceu, os dois nunca demonstraram muito interesse um no outro. Não rolou.
Para por em prática o plano de dar a Koko um herdeiro, já tentaram de
tudo. Achou legal que Koko tenha entrado num chat online? Isso não é nada: Koko
até procurou um namorado pela internet. Ok, não foi exatamente isso, mas a
idéia não foge muito do que são os “Badoo” da vida de hoje em dia: Mostraram
uma porção de fotos de pretendentes a Koko, e ela escolheu o que mais lhe
chamou a atenção. Mesmo assim, no contato pessoal, não rolou aquela química e
Koko continuou invicta. Mas essa novela ainda não acabou: Ela ainda está em
idade fértil, então há esperança.
Koko chegou a ser acusada, pasme, de assédio sexual a
algumas empregadas do instituto onde ela reside. Supostamente, ela teria pedido
insistentemente para que as empregadas mostrassem os seios. Segundo a equipe de
Penny, no entanto, a confusão aconteceu apenas porque as palavras “nipple” e
“people” são bem parecidas.
Planeta dos Macacos.
Como o exemplo de Michael mostra, Koko não é a única com
esse tipo de habilidade. Kanzi, um bonobo treinado na Geórgia, também é capaz
de “falar” através de uma técnica parecida. E estudos para interpretar a
linguagem dos golfinhos estão a pleno vapor. Só para ficar em alguns exemplos.
Se um dia vamos conseguir entender plenamente o que pensam
as outras espécies, não sabemos. Mas de certa forma, seria uma boa. Imaginem um
golfinho falando ao mundo o que pensa sobre a depredação dos oceanos. Ou um
orangotango dando sua opinião sobre um desmatamento. Imagine-os discutindo
politicas publicas sobre os temas que importam a ambas as espécies. Imagine se
os protetores dos direitos dos animais pudessem ser os próprios animais. Mas
esse é o ponto. Se temos imaginação, e linguagem, porque não usá-las para
pensar num mundo melhor?
Adorei o contexto!
ResponderExcluirOntem por um acaso achei a história de KOKO e fiquei fascinado, será possível em um futuro próximo conseguiremos nos comunicar com outras espécies?
¬_O texto acima é escrito de uma forma bem interessante tirando a monotonia da linguagem direta que normalmente e usada nos textos de reportagens informativas. Gostei muito de saber da existência de KOKO e sua capacidade de comunicação.
_Minha opinião...
Acredito que seja possível sim a comunicação com outras espécies, podemos concluir facilmente que o animal mais próximo do ser humano é o cachorro e se nos atentarmos bem, veremos que ele percebe nossos sentimentos, consegue saber exatamente quem são as pessoas de seu convívio pelo nome, quando mandamos ele ir pra fora, sabe exatamente pra onde deve ir. Coisas desse tipo. E se o objetivo da Dr Penny é ajudar a natureza através da atenção conseguida com “KOKO”, dou o maior apoio. Parabéns LOCO TALES pelo belo trabalho.
Uma dica pra vocês expandirem é fazer mini revistas virtuais para adolescentes e jovens menos provenientes de inteligência terém informações importantes. Mas, de forma divertida de ler, como o texto do KOKO.