segunda-feira, 8 de novembro de 2010

O seu corpo aguentaria uma corrida de Fórmula 1?

   Polêmica. Poucas situações atraem tanto a atenção do povo quanto uma boa polêmica. O esporte é uma delas. Portanto, uma polêmica envolvendo um esporte, é um prato cheio para quem gosta de polemizar. Uma das que persistem ao redor do mundo, dividindo opiniões, diz respeito ao automobilismo: Afinal, corridas de carros podem, ou não, ser consideradas um esporte? Os motivos pela polêmica, não irei explicar nesse momento.

Senna mantendo a forma
Esse não é o assunto da postagem. É quase. Um assunto paralelo, digamos. Se automobilismo é esporte ou não, talvez jamais cheguem a um consenso. Mas que os pilotos são atletas, ai já é complicado discordar. E não estou nem falando das habilidades deles como pilotos em si. E sim das capacidades físicas.

As vezes não parece, mas esse blog pertence a um futuro educador físico. Tá, se não estivesse escrito ali na descrição, seria impossível sequer desconfiar. Então hoje vamos quebrar a regra, e falar um pouco do porque o seu corpo sedentário não seria capaz de te levar nem até a padaria se o seu carro fosse tão complicado de guiar quanto um carro de F1...


Pressões que você não imagina

Um bom piloto, como você deve imaginar, está submetido a uma série de pressões. Todos imaginam as psicológicas, mas esquecem as físicas. E essas, muitas vezes, chegam a ser bem maiores. Devo deixar claro que quando eu falo piloto, não estou me referindo ao gordinho dono do gol quadrado que tira rachas na Jacú Pêssego toda sexta a noite. Para um piloto, beber uma lata de cerveja enquanto come uma coxinha antes da corrida, por mais que ele seja o Chuck Norris em termos de não sofrer nada com álcool, seria trágico. No mínimo, alguém chamaria o Juca no meio da pista...

Lembra de quando sua mãe te dizia para não jogar bola assim que comer? É o mesmo conceito. Esforço físico não é, ao contrário do que se pensa, necessariamente ligado a movimentação. Ou você nunca ficou cansado depois de pegar um ônibus lotado?

O esforço de ficar parado

Parece irônico, mas em certas situações, os seus músculos podem ser tão exigidos quando você está parado, quanto se você estiver se movendo. E estar em um carro de Fórmula 1 é uma dessas situações, onde o seu corpo precisa utilizar o mesmo tipo de força que você usa quando tem que carregar algum objeto pesado. É a chamada força isométrica.

Basicamente, seus músculos são testados ao resistir em uma mesma posição suportando uma determinada carga, contra as forças da gravidade e inércia.

O piloto fica parado por cerca de duas horas, com movimentos muito restritos, tendo que fazer uma força absurda para manter a postura correta. E isso é parecido com o que você sente ao dirigir por algumas horas contínuas. Apenas parecido.

“Você pode devolver minha cabeça? Ela saiu voando na última curva!

A frase parece exagerada a primeira vista, mas reflete bem o que acontece durante a corrida. Uma das estruturas que mais sofre é o pescoço. Isso por que a cabeça não fica presa, e a inércia é totalmente cruel com ela. Aliás, a inércia é uma grande inimiga do corpo. Durante uma curva ou uma freada, a cabeça do piloto chega a pesar 5 vezes mais que o normal (sem contar o capacete).

O pescoço deve resistir a essa carga por toda a corrida. Aliás, durante os treinos, e a corrida. O que é muito tempo... Por isso, a força isométrica que é necessária para suportar a corrida é muito maior do que para dirigir do Rio de Janeiro a São Paulo sem parar para tomar café. Haja torcicolo! Essa força centrífuga atua em todo o corpo,  apesar de ser mais evidente no pescoço e nos braços. Ou seja, a quantidade de grupamentos musculares que devem se contrair o tempo todo para manter o cara sentadinho no carro durante a corrida é muito grande.

Vamos deixar as coisas mais ácidas

Para piorar, enquanto praticamos esforço físico aeróbico (ou seja, por grandes períodos de tempo), produzimos uma substância chamada ácido láctico. Essa substância, como o nome já diz, é ácida, e é a responsável por você ficar todo dolorido depois de uma partida de futebol. Mas no caso deles é pior, já que eles estão praticamente imóveis, e portanto o fluxo sanguíneo não corre da maneira adequada para remover (ou mesmo reaproveitar) essa substância. Por isso não é raro que os pilotos saiam do carro com uma expressão parecida a de um lutador de boxe que está saindo do ringue.

Meu coração... Bate feliz...

Falando em fluxo sanguíneo, o coração é, ao lado do pescoço, um dos que mais sofrem no fim de semana de corrida. A categoria é uma das mais estressantes entre todas do esporte mundial (mesmo que alguns digam que não é esporte), seja antes da corrida, durante a corrida, e após a corrida. Adrenalina é a única coisa que rivaliza com o Spaghetti em termos de quantidade nos corpos dos pilotos durante o fim de semana do GP.

E isso faz os corações baterem tão rápido que poderiam facilmente fazer algumas pole-positions se estivessem disputando o campeonato por si próprios. Um coração de um piloto pode chegar a 180 batimentos por minuto durante a corrida, o equivalente a 3 vezes o batimento médio deles em repouso. E isso, combinado com outros fatores, quer dizer que a pressão arterial de um piloto pode chegar a níveis que te fariam desmaiar...

E por fim, tragam um ventilador!

E finalmente, há o calor. E que calor! 40° é uma temperatura mais do que comum dentro de um macacão daqueles, no comando de um Fórmula 1. Normalmente, fica bem mais quente. Pelo menos não iria passar sede lá dentro, já que eles tem um “tubinho” ligado ao capacete para beber água. Falando em necessidades fisiológicas, não queira trabalhar na lavanderia de uma escuderia: Se apertar a vontade de ir no banheiro, eles fazem na roupa mesmo. Eles só evitam fazer o número 2, já que esse pode ocasionar desagradáveis assaduras.

Cadê o botão do cafézinho?
E tem que ter sangue frio para fazer na roupa totalmente concentrado na corrida. Aliás, coordenação motora é uma capacidade física que deve estar elevada a níveis divinos para se dar bem na Fórmula 1. Já viu a quantidade de botões no volante dos carros? Agora tente apertar o botão certo, fazendo uma curva a 150 km/h, enquanto fala com seu engenheiro pelo rádio, troca as marchas, controla os pedais de aceleração e de frenagem com precisão de centímetros, e ainda faz o número 1 nas calças...


E é assim que funciona um piloto de Fórmula 1. Seja esporte ou não o que eles praticam, sua condição física tem que estar equiparável com maratonistas, lutadores, jogadores de basquete ou qualquer outro esportista por ai. Ou até mais... Acelerar o carro e fazer ele chegar aos 300 km/h é fácil e não precisa ser atleta para conseguir. Difícil é aguentar ficar lá dentro.

Um comentário:

  1. "Acelerar o carro e fazer ele chegar aos 300 km/h é fácil e não precisa ser atleta para conseguir. Difícil é aguentar ficar lá dentro."

    Para mim, automobilismo é sim um esporte, claro na sua maneira profissional (f1, motovelocidade e etc...) já que além do uso da capacidade mental é utilizada o corpo precisa ser bem treinado.

    Otimo post cara, acredito que vai ajudar a muita gente entender como é ser um piloto. Eu prefiro ficar brincando confortavel no sofá aqui de casa jogando Grid...

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