Hoje, 25 de Julho, é o dia do escritor. Eu não me considero um escritor de
verdade, mas eu escrevo nesse blog, então, acho que esse dia merece uma
postagem. Como outras postagens aqui no blog já deixaram bem claro, videogames
são um dos meus hobbys e sou um jogador criado nos anos 90, a era de ouro dos
jogos de luta. Ok, como a maioria do publico desse blog é rotativo, ninguém
percebeu isso, mas tudo bem. Nessa
época, eu lia revistas de games e sonhava que um dia eu também poderia escrever
as minhas impressões sobre os games na época em algum lugar. Bom, esse dia
chegou. Pode não ter muito a ver, mas em comemoração ao dia do escritor, hoje
nós vamos falar de Street Fighter, capiche?
Obs: Sim, esse primeiro parágrafo era apenas uma desculpa esfarrapada pra eu falar sobre um game da década retrasada.
Certo. Mesmo que você
deteste videogames, com certeza conhece Street Fighter, pois esse foi um
fenômeno que tomou o mundo de assalto, e personagens como Chun Li são
verdadeiras celebridades (só ver que, apesar de ter sido censurado da versão
para a TV, Blanka foi um dos nomes mais citados na eleição promovida pelo SBT
em busca do “Maior Brasileiro de Todos os tempos”). Mas pra maioria das pessoas
(os não viciados), Street Fighter foi um game que já começou Street Fighter II,
voltou a ser Street Fighter Zero, e depois pulou pro Street Fighter IV, numa
lógica inexistente que ninguém dá a mínima, afinal, hadoukens são divertidos
independemente do número do título. Só
que, mente curiosa que você é (se não fosse, não estaria nesse blog), surge a
duvida: Onde estão o Street Fighter 1 e o Street Fighter III?
Sobre o Street Fighter
1, eu não falar muito – Esse game é tão
ruim que a melhor coisa que eu tenho para dizer sobre ele é o fato de que teve
uma sequência anos mais tarde. Mas Street Fighter 3... Bom, vamos jogar um
pouco. Prepare suas fichas, você vai usar muitas delas.
Welcome to
the World of Street Fighter III.
Street Fighter III foi um jogo bastante ousado. Antes de
continuarmos, quero deixar claro que estarei me referindo a terceira versão de
Street Fighter 3, chamada “Street Fighter 3: Third Strike” nesse texto. Sim, a
Capcom, como sempre, tentou ganhar ao máximo em cima do jogo e lançou várias
versões, assim como foi com Street Fighter II, Street Fighter II: Champion
Edition , Super Street Fighter II, Street Fighter II de Rodoviária (opa, esse
não foi a Capcom), enfim. Com Street Fighter III foi a mesma coisa, e bom,
nesse caso foi bem justificado: A terceira versão era realmente muito melhor
que as duas anteriores.
Aliás, quando Third Strike foi lançado, ele já saiu sob
bastante desconfiança. Isso porque Street Fighter III não tinha agradado tanto
quanto se esperava. Era um ótimo jogo, mas haviam problemas claros: Alguns
personagens eram desbalanceados (haviam até dois personagens iguais, Yun e
Yang) e a jogabilidade, muito mais lenta, estratégica e menos ofensiva do que
Street Fighter II, além de uma novidade, o “Parry” (explico melhor depois),
coisas que não agradaram aos moleques que faziam combos intermináveis nos jogos
anteriores. E havia, talvez, o problema mór do jogo: Os personanges.
“Como assim os personagens? Não era Street Fighter?”. Bom,
era Street Fighter, com Ryu, Ken e… Um monte de caras novas. Sem Bison, sem
Guile, sem E. Honda, mas com Sean, Elena, e até, quem diria, Alex, que a Capcom
decidiu que seria o novo PROTAGONISTA!
Parece absurdo, mas de fato, os personagens novos não eram
ruins. Alguns até podiam ser jogados exatamente como os antigos (Remi é
praticamente um Guile fazendo cosplay de The King of Fighters, por exemplo). E
bom, exceto os principais, a Capcom também ignorou praticamente todos os
personagens do primeiro jogo quando lançou Street Fighter II. Ninguém sentiu
falta deles, mas muito disso se deve ao fato de que ninguém conhecia eles
também. Agora o contexto era outro e a galera não gostou. E depos de umas
melhorias em Double Impact, Third Strike, a terceira revisão do jogo, chegava
até nós, com uma jogabilidade ainda melhor, mais 3 personagens novos e... Chun
Li, pra acalmar um pouco os ânimos! Bom, agora que estamos situados e você já
está começando a entender como um game desses pode ter passado batido, vamos
falar do jogo em si.
Street Fighter III: Third Strike é um jogo de luta bastante
técnico. A arte ninja de esmagar botões alucinadamente, não funciona aqui, pode
esquecer. Elena não é um Eddy Gordo sexy e não há um personagem que seja bom
para novatos. Tudo bem, por razões óbvias, novatos escolherão Ryu, Ken e Chun
Li em suas primeiras partidas e a maioria dos golpes dos mesmos estará lá,
intacto. Mas isso não diz muito aqui, pois saber os comandos é só o primeiro
passo pra jogar esse game: Em Third Strike, um novato é um novato e um expert é
um expert. Entre eles, há uma jornada que pode levar meses – talvez, anos.
O próprio ritmo do jogo mudou. Se em Street Fighter II, tudo
era rápido e o pau comia solto, em Street Fighter III tudo está mais cadenciado
- Não que o jogo tenha ficado excessivamente lento, longe disso.
Memorizar uma
estratégia e usa-la em todas as lutas surte pouco efeito aqui, pois no calor da
batalha, a criatividade é um fator decisivo, e se o seu adversário entender o
seu estilo, um abraço. É preciso agir de acordo com o momento, de forma que seu adversário
se confunda. Não basta ter um bom julgamento de que ataques usar, quando usar e
como usar: É preciso entender a luta como um todo. Em alguns momentos, chega a
se assemelhar com uma partida de xadrez, onde conseguir o próximo passo do
adversário é fundamental. Mas esse jogo está longe de ser um game de
adivinhação: É ver lutar de acordo com as circunstancias.
Outra mudança importantes são notadas: Cada personagem tem
mais de um ataque especial (as “Super Arts”, realizadas quando a barra de
“Super” está cheia, como em Super Street Fighter II), mas é preciso escolher
apenas uma delas, antes da luta! Se num primeiro momento pode-se torcer o nariz
pra isso, essa situação acaba gerando uma gama maior de estratégias diferentes
que um mesmo jogador pode adotar com cada personagem. Ao escolher, é preciso
ter em mente o que você espera da luta. Errar pode ser um tiro no pé.
Mas talvez o grande diferencial desse jogo seja o tal
sistema de Parry. Além da maneira tradicional de se defender (recuando o
personagem em relação ao golpe que ele vai receber), pode-se usar também o
parry, que para simplificar, é um movimento que além de defender, deixa seu
adversário totalmente aberto para um contra ataque. Não é como o Focus Attack
do Street Fighter IV, pois é preciso ser mais... preciso. Para fazê-lo, você
deve apertar o direcional para frente (para baixo, no caso de golpes rasteiros)
no exato momento que seu personagem é atingido. O timing pra isso, obviamente,
não é a coisa mais fácil do mundo, mas a vantagem é que se você for preciso o
bastante, pode usá-lo para se defender de tudo, absolutamente tudo no game, sem
sofrer nenhum tipo de dano - e ainda
deixar o adversário totalmente vulnerável. Há quem diga que isso fez desse um
jogo onde se defender é mais negócio do que atacar, desde que você seja bom na
defesa. Outros acharam a adição do parry uma jogada inteligente que deixou as
partidas muito mais técnicas, dinâmicas e de certa forma, imprevisíveis. No
geral, o parry foi uma boa idéia com uma execução do tipo “ame ou odeie”.
Dificilmente voltará nesse formato, mas com um conceito que agradou e continua
vivo, de certa forma, na série, como o próprio Focus Attack inserido em SFIV
mostra.
Outra mudança em relação aos games anteriores foi a
necessidade de apertar dois botões para fazer os agarrões, o que eliminou parte
do fator sorte.
No demais, é Street Fighter, e isso significa 3 botões para
chute e 3 para socos (correspondendo a soco fraco, forte e médio), movimentação
2D e comandos do tipo “meia luta pra frente + soco”, que são bem simples de
executar, fáceis de decorar e respondem muito bem.
Há quem diga que, apesar das correções da Capcom, o game
continua desbalanceado, e personagens como a Chun Li estão excessivamente
“apelões”. Não acho. Sempre joguei com Elena, uma das personagens consideradas
“ruins” e nunca me senti em grande desvantagem. Talvez eu não tenha enfrentado
alguém que saiba explorar a suposta “ruindade” dela, mas no geral, acho o jogo
bastante balanceado. E técnico. Third Strike é um dos jogos de luta mais
técnicos que não joguei – e já joguei muitos. No geral, a jogabilidade é o
ponto alto desse jogo e é o que faz dele diferenciado.
Antes de prosseguirmos, devo fazer menção também a
inteligência artificial desse jogo. Lógico, como todo jogo de luta, os melhores
adversários sempre serão os humanos, mas isso não tira o mérito da inteligência
artificial de Third Strike, muito além do seu tempo. As partidas no modo árcade
são interessantíssimas, viciantes, e emocionantes. Mesmo o chefão, Gill, não
frustra, pois apesar de ser difícil (como deve ser), em nenhum momento te passa
a impressão dele estar prevendo seus movimentos ou jogando sujo (apesar dele
poder reviver usando um especial. Isso não é spoiler, esse jogo é de 1997, se
não sabe disso ainda, a culpa é sua, hehe).
Uma questão técnica
Visualmente, Third Strike é lindo, mesmo para os padrões de
hoje. E considerando que esse jogo tem 15 anos de idade, isso é um elogio e
tanto. Os cenários são coloridos, detalhados e, embora não tenham muito
movimento, são bem criativos e bonitos. Mas os personagens é que dão um show.
A animação dos
personagens é incrivelmente fluida. Dê um chute em um adversário e vai
entender: Parece mesmo que ele foi chutado! Sei que isso soa redundante, mas em
jogos de luta em 2D, especialmente nos dos anos 90, os efeitos de personagens
sendo golpeados nunca foram dos melhores. Discorda? Talvez você não tenha
jogado Third Strike ainda.
Isso sem contar os próprios modelos dos personagens. Veja o
kimono do Ryu se esticar quando ele executa um “Shinkku Hadouken”, o gingado da
Elena, a movimentação do Hugo ou simplesmente a Chun Li, parada mesmo. É tudo
muito bem feito, detalhado, colorido de encher os olhos.
Lógico, algumas coisas podiam ser melhores, e uma coisa que
eu nunca entendi, mas parece-me que esse jogo tem menos cenários do que as duas
versões anteriores de Street Fighter III. Por exemplo, nos dois primeiros
haviam dois cenários no Brasil, sendo um no Porto de Santos, e a outra, na
feira do Ceasa, em São Paulo. Essa segunda foi estranhamente cortada da
terceira versão e os dois personagens com cenário no Brasil agora dividem o
cenário na baixada.
Quanto ao som, o que tenho pra dizer sobre ele é o mesmo que
tenho pra dizer sobre os gráficos, talvez, vá mais além. Poucos jogos de luta
dessa época deram tanta ênfase ao som. Não apenas as musicas (um misto de hip
hop, eletrônico e rock) que dão o clima perfeito aos cenários, e empolgam sem
roubar a cena pra si, mas os efeitos sonoros também estão muito bons, acima da
média da série, que por si só é muito boa, aliás.
No geral, tecnicamente, Street Fighter III: Third Strike
redefiniu a maneira como games de luta em 2D eram feitos, que Street Fighter II
havia definido antes dele.
Insert Coin
Game bom não fica velho? Bom, alguns ficam. Outros
envelhecem como vinho. Street Fighter III: Third Strike é do segundo tipo.
Online Edition |
Parte daquela classe de games que não são tão famosos (se é
que um game chamado “Street Fighter” pode não ser considerado famoso) mas faz
das pessoas que conhecem mais felizes. Relançado recentemente para os consoles
atuais (PS3 e Xbox 360) na forma de Street Fighter III: Third Strike Online
Edition, se você ainda não jogou, a hora é essa. Se eu fosse você, não perderia
a chance de jogar um dos melhores games de todos os tempos (depois do Capcom vs
SNK 2, é o meu jogo de luta favorito) outra vez...
E fica a questão: Qual game fez a melhor “repaginada” na
série clássica da qual saiu: Street Fighter III: Third Strike ou Garou: Mark of
The Wolves (Fatal Fury: MOTW no Dreamcast)?
Bom, isso é assunto pra outro dia...
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