sábado, 14 de março de 2015

Jogando no Playstation 4 sem uma internet boa

 Por um bom tempo fui receoso em dar um passo para a nova geração de videogames. Muito por causa da Microsoft e seu Xbox One. Não me entendam mal: Eu adoro o Xbox e gostaria muito de ter um Xbox One. Mas o videogame sempre me pareceu dependente demais de internet e isso é um problema.

 Por mais incrível que pareça, ainda que eu more em São Paulo, na capital, meu bairro tem sérios problemas com internet. Minha conexão é uma piada: 256 kbps. Logo, um videogame dependente da internet NÃO é uma opção pra mim.

 Entretanto, depois de pesquisar um pouco, resolvi arriscar e dar uma chance não ao Xbox One, mas ao seu concorrente, o Playstation 4. E eu sei que muita gente pelo Brasil deve ter a mesma dúvida: Afinal, como é a experiência do Playstation 4 com uma internet ruim (ou mesmo sem internet)? É possível de usar? Vale a pena? Bom, em duas semanas de uso, hora de dar as minhas impressões.

 Não vou ficar me atendo a coisas como o design do controle ou qualidade do hardware porque isso vocês podem encontrar facilmente em outros reviews na internet. Vou falar apenas sobre pontos diretamente ligados com a experiência do Playstation 4 numa internet muito ruim como a minha. Espero que ajude você a tomar uma decisão se vale ou não a pena pegar o videogame da Sony. Note que tudo isso vale apenas para o videogame funcionando na versão do sistema disponível em março de 2015 e atualizações futuras podem mudar tudo.

Ligando o bicho.

 Eis uma boa notícia: Se você jamais conectar seu Playstation 4 na internet, ele vai funcionar normalmente como um videogame comum. Você poderá ligar, colocar seu jogo e jogar sem maiores problemas. Porém, é isso e somente isso. Todas as outras funcionalidades do videogame (que não são muitas na verdade, falarei disso depois) parecem vir apenas com atalhos para que você faça o download dos aplicativos quando for a hora.

 No momento em que liguei o videogame, ele logo encontrou a minha conexão WiFi e quis conectar-se a ela, me guiando pelo processo de conexão, que é bem simples, tanto quanto conectar um novo celular na rede. Note que ele "quis", mas não me "impôs" que isso fosse feito - tanto que pude negar  a opção afim de ver como ele se comportaria em uma situação sem internet, onde pude iniciar o meu jogo normalmente e atestar que o videogame pode sim ser jogado sem internet. Ele ainda te obriga a instalar o jogo no HD do aparelho, mas você pode começar a jogar enquanto ele faz a instalação, não precisa ir almoçar enquanto espera.

 Assim que ele se conectou, me deu a informação de que havia uma nova atualização do sistema disponível. Novamente, eu poderia baixar a atualização ou não. Não baixá-la deixava o videogame totalmente offline, enquanto o download habilitava as funções de conectividade do sistema. Muito temeroso quanto ao tamanho da atualização, aceitei, sendo levado a duas surpresas interessantes: A primeira é que a atualização não era gigante, tinha cerca de 300MB. A segunda é que o videogame não me obrigava a esperar ela terminar pra continuar fuçando ou jogando, e mais: Dava até pra colocá-lo em modo de espera enquanto ele baixava. Bem legal.

 Devo citar que o videogame faz o download de forma muito parecida a um cliente Torrent, ou seja, se você deixá-lo lá baixando em modo de espera, ninguém mais usa a internet na casa, o que não é exatamente um ponto negativo, era algo esperado na verdade. Ele também não parece lidar muito bem situações em que você quer fazer vários downloads: Não tem como organizá-los numa fila, ou você pausa e reinicia manualmente os downloads ou ele tenta baixar tudo de uma vez - atrasando todos. Ponto negativo nesse sentido.

 O videogame, além do WiFi, tem uma porta para cabo de rede padrão se você preferir. Mesmo com meu roteador não sendo dos mais potentes e estando relativamente longe, o videogame se manteve estável na rede WiFi. Não pude verificar grandes vantagens quando conectei no cabo de rede - embora acredite que possa ser mais estável sim - mas nada que seja realmente digno de nota.

Conectado

 Uma vez conectado e com todos os recursos baixados e atualizados, hora de ver como a bagaça realmente funciona.

 Aqui cito um ponto negativo: Esse videogame é praticamente alheio ao resto da casa. Por incrível que pareça, o Playstation 4 até o momento não tem nenhum tipo de suporte ao padrão DLNA. Ou seja, você não pode usá-lo pra acessar os filmes no HD do seu computador e assisti-los na sala, como era possível com os videogames da geração passada.

 Mais incrível ainda é que o videogame também não acessa seus filmes e musicas em um Pen Drive que você venha a encaixar em uma das duas portas USB do aparelho. Exatamente: Tão moderno e não tem essas funções simples. Exatamente: Um PLAYSTATION, um legítimo descendente da linhagem de videogames que tornou o conceito de central de entretenimento um padrão dessa industria, tem habilidades multimídia limitadíssimas - muito mais limitadas que seus antecessores. A ideia (e o slogan "4 The Players") mostra que a Sony quer distancia-lo do Xbox One para atrair gente como eu, que tem medo de que o videogame tenha milhares de funções e você não consiga usar nenhuma, mas eu sinceramente achei essas limitações todas um exagero.

 Online, você pode assistir filmes e ouvir musicas usando aplicativos como os (pagos) Music e Video Unlimited, além de usar aplicativos como o Netflix ou alugar e comprar filmes via streaming na própria PSN - serviços que são inúteis para pessoas com internet tão lenta. No Playstation 3 e Playstation Vita é possível baixar os filmes. No PS4, ao que tudo indica, é só por streaming, o que é péssimo se sua conexão não ajuda. No final, é um recurso que não dá pra usar e a única função multimídia que te resta é assistir filmes em BluRay ou DVD. O videogame é region free, então você pode assistir filmes em BluRay brasileiros sem problemas. DVD, por outro lado, tem trava de região, então se o seu PS4 for americano não rodará DVD's brasileiros. Outro ponto estranho: Não roda CD de música. Não que muita gente ouça Cd's hoje em dia, mas ele também não acessa seus MP3 em lugar nenhum, então, nada de musica nele, ao menos offline. Uma pena.

 O videogame tem uma função bastante interessante: Um botão chamado Share, que te permite compartilhar tudo o que você estiver fazendo com as redes sociais. O videogame grava automaticamente os últimos 15 minutos de jogatina, e você pode fazer o upload do video para o Youtube e Facebook se quiser, Há também um programa para edição de videos realmente MUITO completo incluso, que te permite cortar, fazer montagens, aplicar efeitos, colocar sua voz por cima do video, enfim, permite (de forma bastante intuitiva) fazer e compartilhar vídeos com qualidade bastante profissional sem a necessidade de uma placa de captura. O upload também é feito em segundo plano, como os downloads. A função é sensacional.

 Assim como vídeos, o botão te permite compartilhar capturas de tela com facilidade (curiosamente, o videogame reduz significantemente a resolução da imagem capturada. Nada absurdo, mas você quer exibir os gráficos do seu novo game pros amiguinhos online, pode não funcionar muito, pois elas não ficam muito impressionantes). E, fora dos limites aqui, fazer o streaming das suas partidas em tempo real, o que obviamente a minha internet nem sonha em conseguir.

 O videogame também tem um navegador de internet (bem simples) e um touchpad no controle, e aqui há outro ponto estranho, esse na verdade quase que inexplicável: O touchpad não funciona no navegador de internet.

 E por fim, há um aplicativo pra celular (Android e IOS) onde você pode controlar algumas funções do seu videogame, usar o gadget como segunda tela em jogos compatíveis, iniciar e pausar downloads, fazer compras na PSN, adicionar amigos e ver o que ele está fazendo, etc. Uma verdadeira assistência remota que funciona bem.

 Se você tiver um celular ou tablet da Sony compatível, ou um Playstation Vita, um aplicativo permite que você use-o como uma tela pra jogar remotamente seu Playstation 4, liberando a TV da sala pra sua mulher ver a novela e evitando uma briga. É possível fazer isso via Internet (pra mim isso não é possível) ou na rede local

Playstation Network 

 Hora de falarmos da PSN. Tão logo se conecta na internet, o videogame te incentiva a criar uma conta gratuita da PSN, o serviço online do Playstation. O processo de criação da conta é simples e você pode até atrela-la ao seu Facebook ou Twitter se quiser.

 Essa versão gratuita da PSN te permite baixar atualizações pros seus jogos, adicionar amigos, acessar a loja online e fazer praticamente tudo incluindo acessar algumas funções online, exceto, claro, jogar. Para jogar você precisa pagar uma assinatura, que é barata na verdade: São R$ 100,00 anuais, para tornar-se membro da chamada PSN Plus - mas ela oferece um período de testes de 14 dias gratuito. Cuidado: Quando acabam os 14 dias, se você não se manifestar se quer ou não continuar com ela e qual plano você quer, ela automaticamente te coloca no plano de um mês (que custa R$ 20,00) e manda a conta pro seu cartão de crédito.

 Além de jogar, a PSN Plus te dá outras vantagens como descontos em jogos vendidos digitalmente na loja online e o mais legal de tudo: Jogos pra você baixar e jogar sem custo adicional. Até agora, só jogos indies ou exclusivamente digitais, mas ainda assim, bastante legais. Esses jogos para download gratuito na Plus são relativamente pequenos. O menor que peguei tinha menos de 200 MB (OlliOlli 2, um jogo de skate) e o maior, pouco mais de 4GB (Oddworld: New 'n' Tasty, remake de um game de Playstation 1). Você pode baixar e jogar esses games a vontade pelo tempo que quiser e a Sony troca os games pra baixar uma vez por mês. Mas quando acabar sua assinatura da Plus, os jogos que você "ganhou" nesse esquema não poderão mais ser jogados (os que você realmente comprou na loja online continuam funcionando normalmente).

 O menu da PSN não é exatamente leve, é todo baseado em imagens e leva algum pra carregar. A navegação poderia ser mais intuitiva com certeza, mas é utilizável.

O Grande Download 

 Games maiores, os arrasa-quarteirões também lançados em mídia física, no entanto, são muito, muito maiores pra baixar. O meu Playstation 4 veio com um código para que eu baixasse o famigerado The Last Of Us Remastered na PSN. Ao iniciar o download, o susto: 38 GB. Pra mim que levo uma semana pra baixar 10 GB, a sensação foi de "eu nem queria mesmo" e até desencanei. O videogame no entanto me perguntou se eu preferia jogar primeiro o modo single player ou o multiplayer do game, no qual assinalei a primeira opção.

 Horas depois, notei que o sistema tinha baixado o tamanho do download pra 10 GB, De vez em quando o videogame dava um bug que mostrava que o download tinha reiniciado, mas aparentemente era só pra assustar. "Pegadinha du Mallandro!!".  8 madrugadas depois os 10 GB estavam baixados e comecei a jogar o game, que saiu da lista de downloads.

 Iniciei o tal Last of Us sem a atualização que estava disponível para baixar (mais uns 300MB), e depois de umas duas horas de jogo, o game travou. Literalmente travou, como um game pirata: Entrei numa porta, a tela ficou toda preta e se eu apertasse o Start o menu aparecia normalmente - mas os comandos nele não respondiam.

 Conversando com amigos, surgiram três possibilidades: A primeira (e desesperadora) era que o download tinha dado erro e eu teria que baixar de novo. A segunda era que a atualização fosse resolver o caso. A terceira era que o game só tinha baixado até a parte onde eu cheguei e eu tinha que esperar ele continuar o download. Foi então que percebi que o game continuava sendo baixado em segundo plano (a opção pra ver o progresso não estava mais na lista de downloads e sim acessando as opções do game no menu principal do console), e iria mesmo baixar os 38 GB eventualmente. Até então eu estava inocente achando que os 28 GB cortados eram o modo multiplayer e extras, não a história principal - e conhecendo os games de hoje não seria surpresa a história principal ser menos da metade do jogo.

 A verdade é que deixei o videogame baixar por mais uma madrugada, instalei a atualização e tentei de novo. Não tive mais nenhum travamento desde então (também não avancei tanto na história, meu ritmo é meio lento pra esses jogos, exploro muito, enrolo muito, e jogo mal ainda por cima) e não posso dar o veredito se o problema era a atualização ou o download como um todo. Apenas tenho a dizer que se acontecer com você, não se desespere. E que é melhor comprar a mídia física quando for possível pra evitar essas frustrações. (Atualização: Era o download mesmo. O jogo vai baixando e te liberando aos poucos o que já foi baixado)

 Jogando Online

 E aqui vem a maior surpresa do Playstation 4. Eu demorei muito pra tentar jogar online simplesmente porque não acreditava que funcionaria.

 Mas uma hora a curiosidade falou mais alto e resolvi tentar. O game pra isso foi o Fifa 15.

 Conectei. Ele encontrou meu adversário. Antes da partida, um medidor mostrava que havia pouca latência entre nós o que já me deixou mais otimista. E quando a bola rolou... Ual! Funciona muito, muito, mas muito bem!

 Na verdade, é mais estável e tem menos lags do que o Nintendo 3DS quando invento de jogar online com ele aqui em casa. Em poucos jogos tive lags - e em apenas um deles o lag incomodou de verdade.

 É realmente incrível. O videogame tem uma função que quando ativa, dá prioridade a jogadores próximos para as partidas online, o que pode em partes explicar a minha boa experiência.

 Claro, que isso é algo que funcionou com a MINHA internet, aqui na minha casa, uma internet que é a cabo e eu moro em uma megalópole com muitos jogadores próximos, e eu estava jogando um game bastante popular por aqui. Pode ser que onde você more, não seja tão satisfatório. E Fifa é um jogo 1 x 1 que não tem gráficos tão pesados, então não garanto que em outros jogos funcione bem,

 Mas é uma luz no fim do túnel. Meu conselho é que você não crie expectativas a esse respeito mas não se surpreenda se conseguir. É possível. Yes, we can!

Veredito 

 E é isso galera. Eu particularmente estou bastante satisfeito por enquanto e o monstro da internet ruim se revelou bem menos feio do que pintavam.

 Tive muito mais surpresas agradáveis do que desagradáveis e o videogame cumpre bem seu papel, sem ser necessariamente dependente da internet pra que cumpra sua função mais importante, que é jogar. 

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