E talvez por isso,
enquanto o filme “Detona Ralph” faz a maioria das pessoas se lembrarem de seus
bons tempos de fliperama, no meu caso, o que me veio na cabeça foi
provavelmente o game mais maluco que eu já joguei na minha vida.
Não só um jogo
maluco, é um jogo japonês maluco. E digo mais, um jogo que foi considerado
estranho no Japão – e caras, é preciso ser muito esquisito pra ser considerado
estranho na terra do Godzilla.
E é por isso que ele
é divertido, e é por isso que vou escrever esse que periga ser o texto menos
lido da história desse blog (e a briga é boa!). Um texto sobre um Simulador de
Sega: Segagaga.
O terrível mundo das corporações

Ninguém de fora coloca os pés na sala de desenvolvimento fazem mais de vinte anos! Portanto, ninguém sabe exatamente o que acontece lá dentro... Tudo o que sabemos é que de vez em quando eles nos dão um game pronto em troca de comida e água. "
Bem vindos a uma
inusitada (e de certa forma sádica, premonitória e genial) trama Seguista, ou
não. Estamos em um futuro não muito distante onde a fatia da Sega no mercado de
games caiu para míseros 3%. O mercado foi dominado por uma gigante chamada “DOGMA”
(que nada mais é do que uma paródia da Sony e o seu Playstation 2). A Sega
corre um sério risco de sumir do mapa dos games e para evitar isso, recorre a
um plano ousado: Escolher alguns nerdinhos na rua para ajuda-la a mostrar os
rumos certos!
Sabe-se que quando a ideia
desse game surgiu, o responsável por ela, Toz Okada, foi ridicularizado e tomaram
tudo como uma grande brincadeira, uma piada da parte dele. Porém, quando o game
foi lançado, já em 2001, o cenário era assustadoramente parecido com o proposto
pelo jogo. No final, acabou saindo como uma piada da Sega com a sua própria
situação real – o futuro não muito distante a qual o jogo se referia, realmente
estava pertinho.
No game, você é Tarou
Sega, um dos moleques sequestrados escolhidos pela Sega para salvá-la
através do chamado projeto Segagaga. Bom, até aqui, era apenas um game com uma
proposta diferente. Daqui pra frente, ele fica bem esquisito mesmo.
A citação que eu
mencionei acima, sobre a sala de desenvolvimento, acontece bem no começo do
jogo, pouco depois que o pequeno Tarou descobre que aquelas portas reforçadas
não estavam lá pra impedir os intrusos de entrar, e sim, para impedir que os
perigosos programadores saíssem da sala. Mas é óbvio que fazer a Sega renascer
é um trabalho que passa pelos desenvolvedores de jogos, então, o menino precisa
entrar nas salas e botar ordem na casa.
Essa primeira parte do jogo
é bem parecida com um RPG, onde você andar por “dungeons” (no caso, as salas
dos desenvolvedores), enfrentando inimigos em batalhas no esquema de turnos.
Mas não são batalhas comuns, não, não, não! Ao invés de atacar com uma espada ou magias,
os “ataques” de Tarou consistem em simplesmente gritar para os desenvolvedores
as coisas que eles não querem ouvir. “Volte ao trabalho, seu preguiçoso!”, “Você
nunca conseguirá uma namorada!”, “Você acha que alguém vai comprar essa droga
de game?” estão entre as poderosas ofensas bradadas pelo nosso herói para
colocar as coisas sob controle.
![]() |
"Chopin The 3rd |
Seus inimigos, aliás, são
tipos bem estranhos. Mas bem estranhos. Eu disse estranhos? Preciso de outra
palavra.
Embora sejam sempre
batalhas de 1 x 1, cada tipo que você encontrará tende a vir acompanhado de
suas manias ou loucuras. Por exemplo, não bastará dar cabo de um programador alcóolatra:
Terá que se livrar de suas garrafas também! Isso pode ser muito mais tosco do
que parece, espere só até ver os gráficos desses carinhas – e tosco, nesse
caso, pode ser um adjetivo muito bom ou muito ruim, depende da maneira como
você vê.
Acreditem em mim: Assim que terminar a
primeira batalha você terá entendido muito bem o porquê desse game nunca ter
sido lançado fora do Japão, e estará prestes a desligar seu precioso Dreamcast.
Mas continue no game, seja firme. As coisas vão piorar pra melhor (e não, eu
não falhei em concordância).
Como em todo RPG, você pode
aumentar sua “party” se quiser. Basta pagar aos funcionários o que eles pedem –
sim, esse game é governado pelo capitalismo. Há até um
personagem que realmente personifica todo o capitalismo da indústria de games em
si mesmo. “Games não são mais do que meros produtos! Você procura tendências populares,
copia descaradamente, e assim ganha dinheiro!”, ele te dirá. Muitas empresas
seguem essa lógica até hoje.
Vamos brincar de Sega

E se você for ousado o
bastante, pode inclusive lançar o seu próprio console (que sonho!) e se fizer
isso no timing certo, estará destinado ao sucesso.

Tanto como game de
simulação, quanto como um RPG, Segagaga não é nada mais do que um jogo medíocre.
Porém, a mistura dos dois é bastante interessante. Não que seja balanceada ou
bem feita. Parece que simplesmente não conseguiram decidir como esse game seria
e jogaram as duas melhores ideias nele. O resultado final, por incrível que
pareça, ficou, bem, intrigante – essa é a palavra.
Prato cheio de saudade

Ao longo dessa postagem,
você pode ver diversos pôsteres de games. Esses games são os games que você
estará produzindo em Segagaga! Sim, as paródias não se limitam aos jogos da
Sega, e quero dar destaque à paródia do game “Lupin The Third”, que aqui é
representado por “Chopin The 3rd”, e sim, Chopin, no caso, é aquele músico. É
claro que os próprios games da Sega, no entanto, são as estrelas e os mais
parodiados, e você chega inclusive a jogar alguns deles. Enquanto algumas
piadas são bem óbvias (como por exemplo, Mortal Wombat) outras precisam de um
pouco de conhecimento de japonês pra entender, como a paródia de Fatal Fury (chamado
“Garou Densetsu” no Japão), que em Segagaga se tornou “Garou Dentetsu” (“Dentetsu”
significa trem, e o “Terry” da capa do game está vestido de maquinista).

Sonic, Golden Axe, Ristar, Sega Rally, Phantasy Star, Samba de Amigo, Panzer Dragoon... Esses são moleza. Segaga revisita tantos games que desconfio que pelo menos 1/3 deles me passaram totalmente batidos simplesmente porque eu não os conhecia - e eu lhes garanto que conheço muitos games da Sega.
Eu vou até dar um spoiler
aqui, mas é um spoiler do bem: Senhoras e senhores, nos momentos finais desse
game vocês lutarão contra os consoles da Sega em uma batalha no espaço. Sim, você
vai usar uma espaçonave para trocar tiros com um Mega Drive e outros aparelhos
afins, e não, isso não, isso não é tão ridículo, ou talvez, sim, é tão ridículo,
mas, bom, eu sei lá! Quando você chegar nessa parte, seu cérebro provavelmente
nem vai ver nada de errado com a cena. Estará tudo bem.

É um game de publico alvo
restrito, mesmo no Japão. E é um game totalmente em japonês (há projetos de
tradução rolando, mas nada está pronto até esse momento).
Mas vale a pena uma
olhada, especialmente para saudosistas. A barreira da linguagem até pode
desanimar, mas não há nada nesse jogo que um detonado online não resolva, pois
é muito fácil compreender o que está acontecendo apenas observando as imagens.
A verdade é que é um game
bastante diferente. E o maior motivo para se jogar um game assim, é o simples fato
dele existir. É preciso ter coragem para se aventurar num game japonês dessa
natureza. Mas esse game dá aos fãs da Sega a chance de fazer aquilo que todos
os fãs queriam fazer em 2001: Salva-la dos concorrentes. E de si mesma.
Até que enfim esse post saiu! Escuto a falar desse jogo por você ha anos!
ResponderExcluirDepois que li o texto e refleti, me impressionei pelo tempo em que ele foi feito e me admira muito que hoje em dia não se façam mais jogos assim, ainda mais hoje que a rivalidade foi deixada de lado e que apenas o lucro é importante.