segunda-feira, 30 de junho de 2014

Garou: Mark of The Wolves

"Cara,  não é porque eu quero te vender não, mas pode levar esse jogo, é sensacional! Tem vários combos, mas é equilibrado, as lutas pegam fogo, você vai curtir".

A parte a óbvia mentira (ele naturalmente falava porque queria me vender), até hoje me recordo da frase do dono da lojinha de games do bairro e sinto-me culpado por nunca ter voltado lá pra agradecê-lo pela dica.

O ano era mais ou menos 2005 e eu ainda jogava Dreamcast. Já havia jogado a maioria dos games famosos do console e estava começando a procurar por outros que fossem bons e eu não conhecesse. Nesse dia, o tal vendedor me sugeriu comprar um jogo de luta da SNK que eu, grande fã das franquias da empresa, não conhecia. Era suspeito. Entretanto, pelo nome do jogo, desconfiei que tivesse a ver com uma das minhas séries favoritas: Garou: Mark of The Wolves. Seria algo relacionado à Fatal Fury?
Comprado.

Era. Garou era exatamente tudo o que eu podia pedir: Um Fatal Fury renovado, repensado, melhorado e, embora radicalmente diferente, repleto de fã service. Um jogo que marcaria.

Assim como a Capcom havia surtado e mudado tudo (incluindo os personagens principais) em Street Fighter III, Garou tinha essa ousadia e isso foi o que mais me chamou a atenção. Onde estavam Mai, Andy, Joe e Kim? Terry, o que houve com você?


Passado o choque inicial, o que esperava era um jogo de luta extremamente sólido. Fãs me xinguem e ofendam a vontade, mas Garou, como jogo, estava (e ainda está) anos luz a frente de qualquer The King of Fighters, embora tenha feito uma aproximação com o estilo de jogo de KoF que não era tão comum em sua série de origem. As lutas em diferentes planos de Fatal Fury estavam de fora dessa vez. Na jogabilidade, haviam ainda características interessantes de dominar como o sistema T.O.P (que deixava seu personagem com alguns privilégios durante um certo momento do round) e o just defense (similar ao parry de SFIII).

Veja o cenário do Rock para ter uma idéia das animações
O aspecto técnico desse jogo realmente impressionava. Talvez não no Dreamcast, claro, mas devemos lembrar que esse é um jogo de Neo Geo. E no Neo Geo eu não me lembro de ter visto nada melhor. Os cenários são belíssimos, as animações são lindas e tudo flui num ritmo maravilhoso. Na verdade, não sei explicar muito bem ou como isso se chama, mas na prática, um dos melhores aspectos da jogabilidade é o "ritmo" em que as batalhas se desenvolvem. Os cenários também são um show a parte. As animações maravilhosas se unem com músicas realmente muito inspiradas. O tema da Hotaru, por exemplo, fica fácil na cabeça.

Os personagens novos, a grande coisa a ser comentada, eram em sua maioria realmente interessantes (uma característica dos jogos da SNK, aliás). Rock Howard, o novo protagonista, me pareceu mais carismático do que o forçado Alex de SF III. Bonne Jenet ocupou bem o espaço de musa deixado pela Mai (tirando o saudosismo, acho-a até uma personagem mais interessante. Piratas são mais legais que ninjas mas isso é uma opinião minha). Kevin Ryan, Gato, Hotaru, Tizoc também são personagens bastante interessantes.

Terry Bogard em sua versão "tiozão" manteve o carisma. E talvez esse seja o momento de falarmos dos laços desse jogo com os Fatal Fury antigos.

Se passando 10 anos depois dos eventos que culminaram com Geese caindo da torre, referências aos personagens antigos existem e são bastante competentes, como por exemplo Hokutomaru, o menino do clã Shiranui treinado por Andy Bogard que representa o próprio Andy e Mai ao mesmo tempo no torneio.

E quem jogou Real Bout não podia ter outra reação senão de grande felicidade ao ver que os filhos de Kim Kaphwan, Kim Dong Hwan e Kim Jae Hoon cresceram e são personagens jogáveis e cheios de personalidade. Outras referências a eventos de Fatal Fury estão por toda parte, seja nos cenários, na história ou diálogos dos personagens.

Talvez tenha sido o objetivo do jogo em si (considerando que foi lançado 8 anos depois do primeiro Fatal Fury), talvez não, mas essa idéia de torneio acontecendo 10 anos depois com outros personagens, ao invés de me afastar, me ajudou a identificar-me mais com o jogo. Explico: Eu também joguei esse game cerca de 10 anos depois do meu primeiro Fatal Fury. Quando era criança, gostava de relacionar amigos e pessoas que conhecia com os personagens do jogo. Quase nenhum deles estava na minha vida mais quando joguei Mark of The Wolves, e os que estavam já não tinham a mesma proximidade de antes. Haviam pessoas novas, novas histórias e novos desafios na minha vida. Coisa boba, mas que pra um adolescente de imaginação fértil que eu era teve algum significado.


Mark of The Wolves no entanto é muito mais do que um jogo pra atiçar a imaginação de uma criança. Teve a ousadia de mudar tudo e a competência de, em sua diferença, ser muito melhor do que os predecessores. É o ponto alto da série, do Neo Geo e da SNK - que a partir daí passou a viver momentos difíceis.

Garou é ao seu modo o grande Street Fighter III da SNK. É o melhor da sua série, mas pouca gente teve o prazer de conhece-lo e jogá-lo. Acabou ofuscado por outros jogos da própria SNK (principalmente KoF). Sinto-me privilegiado por estar entre esses poucos.




Um comentário:

  1. Galera, dá só uma olhada nisso, GAROU MARK OF THE WOLVES https://www.youtube.com/watch?v=zIZiERXIvco&list=PL5fi3FLIeN6DxI-ZS5xA3YKnB5BFXIFDY

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