A NASA, agência espacial americana, convocou na quinta-feira, dia 2 de dezembro de 2010, uma coletiva de imprensa onde anunciaria uma descoberta extremamente relevante no ramo da astrobiologia. Os veículos de imprensa logo começaram a especular, e os boatos correram a internet na velocidade que um cometa percorre o espaço.
Muitos chegaram a imaginar que seria um ET em "pessoa" que estaria lá para dar a entrevista (alguém ai lembrou do ET Bilú?). O que, obviamente, não era o caso. Tudo o que eles mostraram foi a descoberta de uma bactéria na Califórnia, o que deixou os mais ávidos por novidades extra-terrestres um tanto quanto decepcionados.
Sem razão. A descoberta foi sim, algo de outro mundo, embora seja também totalmente terráquea. Ela muda totalmente o conceito que tínhamos da vida em si. O que tem demais numa bactéria encontrada num lago salgado da Califórnia e porque ela está intimamente ligada com a chance de encontrar vida fora da terra? É o que vamos discutir aqui.
Qual o sentido da vida?
Não sei. Há quem diga que o sentido da vida resume-se ao número 42, mas isso não está ligado a esse texto e portanto não vou me aprofundar nesse assunto. Entretanto, se descobrir o sentido da vida é uma ocupação que as pessoas vem tomando desde sempre, sem conseguir um resultado satisfatório, descobrir a composição da vida é algo que pensaram muito mais tarde e descobriram muito mais cedo. Ou não.
A tão falada bactéria "alien" |
Carbono, Hidrogênio, nitrogênio, oxigênio, fósforo e enxofre. Acreditava-se até agora que a vida pautava-se nesses seis elementos. Por isso, toda a busca por vida fora da terra procurava condições onde a vida poderia se desenvolver utilizando essa composição, e isso é algo que não pode fugir muito das condições que temos aqui na Terra. Até haviam teorias que alegavam que alguns desses elementos poderiam ser substituídos por outros semelhantes, mas enquanto fosse só especulação, não poderia ser levado a sério. E agora já não é mais especulação.
DNA venenoso?
A bactéria encontrada pelos pesquisadores na Califórnia não tem essa composição. Como no lago onde ela mora o fósforo é algo raro, ela utiliza arsênico para fazer a função do fósforo. E isso é algo totalmente maluco. Primeiro porque o fósforo é extremamente importante para a composição do nosso DNA, sendo imprescindível na tarefa de passar nossos genes adiante, além de ser parte da formação do ATP, que é uma espécie de combustível que nosso corpo produz a partir do que nós ingerimos.
O resultado é um ser vivo com uma estrutura do DNA bem diferente dos demais, extremamente peculiar. E essa forma de vida se manifestou aqui, na terra, sob essas condições que temos. Com isso, abrem-se várias portas: A vida pode se manifestar de maneiras que nós nem sequer imaginamos. Ela pode dar um jeito, se a situação lhe permitir uma saída...
O nosso quintal
Essa situação muda radicalmente uma das questões mais importantes a se levar em conta quando se procura vida, seja ela dentro ou fora do nosso planeta: Onde procurar?
Se até agora a busca de vida concentrava-se em planetas parecidos com a Terra, isso já não é mais tão necessário. O fósforo, por exemplo, já não pode mais ser considerado matéria primária para a vida. O que garante que outros elementos usados pelas formas de vida não possam ser substituídos por outros para realizar funções similares?
Com elementos diferentes, a vida pode se manifestar em condições diferentes. Se já haviam admitido que era pequena a possibilidade de vida, mesmo que microscópica, no nosso sistema solar, por conta do clima nos outros planetas, agora já não é mais. Marte e algumas luas de Júpiter já estão na pauta dos cientistas: A chance de haver bactérias marcianas nunca foi tão palpável.
E se bactérias não te interessam, lembrem-se que estamos falando apenas do nosso sistema solar, o nosso quintal, o que está debaixo do nosso nariz. Num Universo potencialmente infinito, se a vida pode se manifestar em condições tão extremas quanto podemos imaginar, as chances de, em alguns desses lugares, ela se desenvolver e evoluir são imensas. Dê tempo e condições para algo acontecer, e ele fatalmente acontecerá. Tempo, e condições, é o que não falta no Universo.
Uma bactéria que seja, em Marte, planeta literalmente vizinho da Terra provaria que a vida não é uma coisa rara no Universo, e sim, que é um fenômeno comum, e que não precisa de tantas exigências para se acontecer quanto imaginávamos.
E essa foi o que fez com que essa espécie de bactéria se tornasse a mais pop do mundo científico na atualidade: Ela mudou muita coisa. Pensávamos que, se não sabíamos exatamente como procurar, pelo menos sabíamos onde procurar e o que procurar. Agora já não sabemos mais. A vida pode ocorrer de formas que nunca imaginamos, em lugares que nunca imaginamos, em condições que jamais sonharíamos. E isso é espetacular.
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