sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Por que a vida na Terra deu certo?

  O quanto a vida é comum no Universo? Não sabemos. Por mais que nossa tecnologia esteja avançada, ainda falta muito para podermos responder isso. Sabemos da existência de pouco mais de 300 planetas. Parece muito a primeira vista, mas é um número inexpressivo diante da imensidão do Universo. Para piorar, sequer temos como analisar corretamente a esmagadora maioria desses planetas.

Mesmo os planetas mais próximos ainda nos causam muitas dúvidas. Não sabemos ainda, por exemplo, se existe ou não vida em nosso vizinho Marte, seja ela microscópica ou mesmo pluricelular vivendo no (possível) oceano por debaixo das geleiras.

Marte, aliás, junto com Vênus, são considerados planetas irmãos da Terra: Ambos estão relativamente próximos, tem tamanhos parecidos e são compostos por praticamente os mesmos elementos. Mas, enquanto a Terra é essa imensidão de formas de vida que nós conhecemos, os outros não são bem assim... Mas, se são tão semelhantes, o que há de tão especial com a Terra? Porque os outros dois “não deram certo”? É isso que vamos ver agora...


A Zona habitável

Em primeiro lugar, precisamos entender porque esses planetas são considerados irmãos, e qual a vantagem que eles tem sobre os demais do sistema solar, para que a vida se desenvolva. Deve-se deixar claro que com “vida”, me refiro a vida como é conhecida aqui na terra, obedecendo as regras que a vida tem que obedecer para se desenvolver aqui, sendo composta pelos elementos que comprovadamente podem compor uma forma de vida, etc, etc...

Sendo assim, entre os planetas do sistema solar, os 3 citados são os mais indicados. Primeiro, porque são planetas rochosos, diferente de Júpiter, por exemplo, que é um gigante gasoso. Depois, porque tem o tamanho suficiente para sua gravidade “segurar” os gases que formam uma atmosfera. Depois, por que entre esses gases, estão gases como o hidrogênio e o oxigênio. E, com a união doe ambos, temos a possível presença de água, mas não necessariamente em estado líquido, como por exemplo as geleiras de Marte.

Por fim, o planeta não pode estar em qualquer lugar. Se estiver muito perto da estrela, o planeta será quente demais para a vida se desenvolver. Se estiver muito longe, será frio demais. Ele tem que estar numa zona intermediária, onde não é nem muito frio, e nem muito quente. Essa é a chamada zona habitável, e os três planetas citados estão nela. Há exceções, no entanto, como algumas luas de planetas enormes que poderiam abrigar vida, mesmo estando fora da zona habitável, mas são exceções possíveis apenas por elas serem, justamente, luas.

Essa zona habitável depende da estrela, já que elas variam muito entre si: Há estrelas maiores, menores, mais quentes, mais frias, etc, etc... E elas mudam com o tempo. Daqui alguns milhões de anos, o sol terá mudado de tal forma que nosso planeta não estará mais em uma zona habitável.

O escudo

Falando em localização, um “detalhe” foi determinante para fazer com que esse ponto do universo onde estamos fosse, de fato, habitável: Júpiter. O gigante gasoso fica bem longe do sol, localizado num lugar perfeito para atrair com sua gravidade qualquer coisa que venha nessa direção. Júpiter funciona como um escudo. Sem ele, seriamos atingidos por meteoros até maiores do que o que exterminou os dinossauros com uma frequência assustadora. Aliás, pode-se dizer que esse caso foi uma das situações onde Júpiter dormiu em serviço...
Isso pode fazer parecer que a vida por aqui foi, definitivamente, um acaso. Muita sorte ter um baita de um “planetão” desses ali, só tomando as pedradas que estariam destinadas a acertar as nossas cabeças, enquanto nós ficamos na boa. Mas se considerarmos que quase todos os planetas descobertos até agora não são nada mais do que outros “Jupiteres”, isso leva a crer que esse tipo de planeta, gigante e gasoso, não é raro no universo, muito pelo contrário. Devem existir aos montes...
Uma vez explicado porque esses planetas estão em uma área “segura”, vamos finalmente falar o que os diferencia...

Então, o que a terra tem de tão diferente de Vênus, afinal?

Se você partisse da Terra agora e fosse em direção ao Sol, Vênus seria o primeiro planeta que você encontraria. Ele está mais perto do sol, ainda na chamada zona habitável, num ponto onde naturalmente ele já seria mais quente do que a Terra, mas não quente o suficiente para impossibilitar o surgimento da vida.
Mais do que Marte, Vênus é considerado irmão da Terra. Em uma primeira vista, ambos são muito semelhantes. É o planeta mais próximo de nós, tem praticamente a mesma massa, diâmetro, gira e orbita o Sol praticamente na mesma velocidade, etc, etc, etc... 

Assim que foram “criados”, os dois planetas deveriam ser praticamente gêmeos. Mas, assim como gêmeos que tornam-se pessoas com personalidades completamente diferentes quando crescem, os dois planetas tiveram o mesmo destino. Enquanto a terra se tornou um ambiente “agradável” (pelo menos para nós), com temperaturas amenas e vida prosperando por todos os lados, Vênus seguiu um caminho muito diferente. Tornou-se um lugar com temperaturas extremamente altas, beirando os 450°, com uma atmosfera imprópria com uma pressão até 92 vezes maior que a pressão atmosférica que temos aqui, entre outras coisas que não são exatamente o que você gostaria de ouvir na previsão do tempo.

“Mas o que houve lá, afinal? Você não acabou de dizer que, por si só, o lugar que o planeta está não faria dele exageradamente quente?”, é algo que provavelmente você pensou agora (ou deveria ter pensado...). Bem, o que acontece em Vênus é o que podemos chamar de “super efeito estufa”.


Vênus tem uma atmosfera muito mais densa que a da terra. Em algum momento de sua história, o sol ficou mais quente, o que causou uma evaporação de uma boa parte da água do planeta, que devia estar presentes em quantidades realmente enormes, e a atmosfera ficou recheada de hidrogênio e oxigênio. O hidrogênio, por ser mais leve, subiu e boa parte acabou escapando no espaço. E o oxigênio ficou mais abaixo, misturou-se aos gases pesados já presentes na atmosfera, e juntos tornaram a superfície cada vez mais seca, porém, extremamente densa. Para piorar, Vênus não tinha um ciclo de carbono, ou seja, o gás carbônico não se fixava nas rochas, como o corre na Terra, agravando ainda mais o quadro.

Toda essa densidade acabou aumentando ainda mais o problema: A luz (e junto com ela, o calor) vindo do sol entrava na superfície do planeta e não conseguia sair, por conta dos gases em quantidades exageradas na atmosfera. Assim o planeta esquentava ainda mais, e com isso, mais água evaporava, mais gases se dissipavam na atmosfera, menos calor escapava, e assim por diante. O que temos é uma espécie de aquecimento global de proporções milhares de vezes maior do que o que todos os que já tivemos aqui...

Esse mesmo aquecimento do sol não foi, no entanto, capaz de causar um impacto tão forte na Terra.
Vênus: Um lugar onde você não irá querer passar as férias...
Essa, provavelmente, passou a ter temperaturas parecidas justamente com as que Vênus tinha antes de toda essa “tragédia”. Com isso a vida pôde prosperar de maneira ainda mais ampla. Com um número enorme de formas de vida utilizando oxigênio, gás carbônico e hidrogênio, presentes tanto na água quanto no ar, evita-se que a superfície da terra fique sobrecarregada e aconteça um efeito parecido com o que houve em Vênus. Um ciclo, que nosso vizinho não teve tempo de desenvolver... De tempos em tempos, o planeta esquenta demais, ou esfria demais, em ciclos de aquecimentos globais e eras do gelo. Já chegou a esfriar tanto, que quase toda a vida aqui deixou de existir. Mas escapou por um triz. Agora, estamos presenciando mais um dos aquecimentos globais, como tantos outros, que não pode nem em sonho ser comparado com o que houve em nosso vizinho... Pelo menos até agora...
Foi uma pequena diferença de distância que causou uma diferença tão grande no clima entre os planetas...

E quanto a Marte? O que houve com ele?

A Terra é bem maior que Marte
Marte não é tão parecido com a Terra quanto Vênus, mas ainda assim, guarda semelhanças. Marte, por exemplo, não tem movimentação das placas tectônicas como ocorre na terra, ou seja, os continentes não “se movem” (embora para nós não pareça, os continentes estão se movendo bem lentamente, e a geografia da Terra já foi muito diferente do que é hoje). Marte é também consideravelmente menor que a Terra. Não tão menor quanto Plutão, por exemplo, mas com uma diferença de tamanho muito maior do que a relação Terra - Vênus. O planeta ainda é formado por um relevo totalmente acidentado, onde podem ser encontrados vulcões enormes, que fariam o Everest parecer uma simples pedrinha, ou mesmo gigantescos cannyons, sendo um deles da largura dos EUA, apenas para ficar em alguns exemplos bem claros que eu estou querendo dizer com "relevo acidentado".

Já, se considerarmos o clima, ele é o oposto de Vênus. O planeta, que também é nosso vizinho próximo, está um pouco mais longe do Sol do que a Terra e portanto tende a ser mais frio. No entanto, a distância não justifica temperaturas tão extremas quanto em Marte. Lá não é apenas mais frio: É MUITO mais frio.
Sabe-se que Marte tem oceanos. Congelados. Não há o menor sinal de água líquida em Marte, apenas enormes e intermináveis geleiras... E acredita-se que o planeta já tenha sido substancialmente mais quente e que um dia essas geleiras já foram belos oceanos, como os que temos aqui na Terra. Mas como ele pode ter ido justamente na contramão de seus irmãos?

O problema de Marte é, ironicamente, sua atmosfera rarefeita. Marte é menor que a Terra, por isso, exerce menos força gravitacional. Com menos gravidade, ele não conseguiu “segurar” os gases que formam uma atmosfera da maneira que seus irmãos fazem. Conforme o Sol foi esquentando, o gelo (tanto o gelo seco, de dióxido de carbono, quanto o gelo de água) foi evaporando e tomando sua forma gasosa. Sem muita gravidade para segurá-los, esses gases escaparam da atmosfera. Com isso, o calor que chega a Marte escapa muito fácil. Com o calor escapando, a água que restou foi congelando, as chuvas foram cessando, e o planeta foi virando esse imenso deserto vermelho (por causa das altas concentrações de ferro) que vemos hoje em dia.

Superfície de Marte
Para piorar, a falta de uma atmosfera com mais densidade ainda trás outros problemas, sendo o mais evidente, as radiações. Enquanto Vênus é um exemplo de como funciona o efeito estufa, Marte pode ser encarado como o problema do buraco na camada de ozônio elevado a milésima potência. Não há praticamente nenhuma proteção contra a radiação vinda do sol, o que tornaria, pelo menos para as formas de vida da terra, totalmente impossível sobreviver lá, mesmo que o planeta tivesse o clima do Rio de Janeiro.


Então a vida está descartada nesses planetas?

Definitivamente... Não. Há chances de haver vida em Marte e em Vênus, e ainda vai demorar alguns anos, possivelmente décadas, para que tenhamos algum tipo de resposta definitiva sobre o tema. Isso porque mesmo aqui na Terra, temos exemplos de seres vivos que conseguem sobreviver em todo o tipo de climas e lugares completamente improváveis. E eles variam de Bactérias até animais muito mais desenvolvidos, que vivem no fundo dos oceanos, sob pressões absurdas, sem jamais terem contato com a luz do sol, por exemplo.

Esses animais, aliás, são uma das maiores esperanças da ciência: Sobrevivem graças ao calor oriundo do núcleo da Terra. Sendo assim, é provável que abaixo das geleiras de Marte, o calor do núcleo do planeta mantenha oceanos de água líquida, que podem abrigar formas de vida semelhantes a esses animais encontrados nas profundezas dos oceanos terrestres. E em Vênus também há chance de termos vida, até porque, criaturas extremófilas como algumas bactérias terráqueas podem ser capazes de desenvolver vida no subsolo do planeta, enquanto que a chance de encontrar vida na superfície Venusiana, tal como na Marciana, é bastante remota

Tudo isso nos faz entender como a Terra é privilegiada. Marte é do tamanho errado. Vênus esta no lugar errado. E a Terra é do tamanho certo e se encontra no lugar certo. E tudo isso por detalhes de medidas que considerando os tamanhos e distancias encontradas no universo são praticamente irrelevantes. Detalhes que nos trouxeram, depois de alguns bilhões de anos, aqui, na internet. Mas não para sempre: O Sol, como todas as estrelas, está em um processo que culminará com sua morte. Mas antes disso, ele ainda tornará a Terra um lugar totalmente impróprio para vivermos, como seus planetas irmãos. Um dia, se quiser sobreviver, a raça humana terá que simplesmente se mudar.

Mas ainda falta muito para esse dia chegar. Até lá, temos bastante tempo para procurar outros sortudos como nós...

3 comentários:

  1. Li o texto todo para chegar até aqui!! :)
    E sinceramente adorei!!! Sabe se eu parasse pra ler um dos textos da Wikipédia falando sobre isso, eu ia me cansar e no final de tudo nao enteder nada... Mas depois de ler esse texto, eu aprendi bastante sobre um tema que eu gosto e ao mesmo tempo achei engracado!!!
    Parabenizo ao autor por isso, é muito difícil me fazer escrever um comentário!!
    Parabéns continue assim!

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  2. Há efectivamente teorias bem plausíveis à origem da vida.

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  3. para os ateus...
    a terra está na única faixa "habitável" ao redor do sol;
    tem a gravidade exata necessária para vivermos;
    tem atmosfera;
    tem oxigênio;
    tem uma rotação e uma translação precisas como um relógio;
    ainda os gases atmosféricos atuam como escudo para meteoritos;
    temos no sistema solar júpter que, com seu imenso campo gravitacional atua como sugador dos maiores meteoros...
    temos criações lindíssimas em nosso planeta, formas de vida fabulosas: por que ainda tem gente que duvida de deus????????

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